quarta-feira, 30 de abril de 2008

Uma crônica de amor - Zé Lelé e a paixão. A paixão e o Zé Lelé

Obra "O Abandono" (1905)
Camille Claudel
*Por Edson José de Moares

Bom mesmo é ficar quietinho e esperar o amor passar. Brincadeira boba - assisti na televisão que os índios acham que suas almas são roubadas pelo beijo na boca. Lembrei trecho da música "a televisão me deixou burro, muito burro, demais". Te liguei só por que deu vontade, nem tinha assunto nem propósito, isso é um bom sinal.Vontade de se comunicar. Para mim que vejo o tempo com cara de quem está indo, sem pressa, mas sem esperar, acredito que melhor dele é mesmo quando passa rápido. Nem era agorinha e já é tão tarde. Hoje já é terça-feira, dia de ligar para você de novo, essa agora, os dias passam e essa vontade fica. A vontade de ter uma boa risada, diante da pior das piadas, não pode ser coisa normal. Houve alteração na capacidade de rir sem risco de ser confundido com Zé Lelé, e, isso me deixou mal.Essa coisa de conversar sobre quem nos interessa seria tão normal, ? Mas há um bicho que chacoalha a moita da estupidez, das razões e das opiniões. A gente nem sabe o tamanho do bicho. A passarela é estreita e há sombras que causam medo, e, a moita ao lado da passagem balança, ameaçando sair dela feras ou assombrações. Paro. Suspiro, e ainda não encontrei a coragem para enfrentá-la, meu medo é que só exista esse trieiro, bom, até ver a moita eu tava rindo de Zé Lelé. Agora meu medo é, se esse riso seja coisa de gente feliz, que ouve música e ri sozinho, feliz de estar perto de quem faz rir, naturalmente. Se essa hipótese tiver algum fundamento, as mulheres dos palhaços são as mais felizes do mundo. Eu não conversei com ninguém sobre nós, essas coisas que juntam as cordas "nós" e, ao que me lembre nunca falei de nenhuma paquera, não havia passado, sempre teve um depois de se ver, de se falar, e, ficar. Mas contigo, foi diferente, sua popularidade me carregou pelas opiniões que nunca imaginei, queria sair carregando a mais preciosa carga do mundo, sem ninguém saber o segredo da minha alegria, isso me declarou, não contive o desconforto, foi isso que mais me incomodou. Tenho certeza, sempre que opiniões são dadas sobre as impressões por e de outras pessoas, passam por um filtro, mas não deveriam ser escrito, senão em biografias pós-vida, aí incomodaria o defunto e só. Mas, de longe a nossa breve história saltou em todas as conversas. A começar, pelo menos entre os meus dois amigos, que quase nunca os vejo, com uma rapidez de clique na tomada até acender a luz, e com uma baita amplidão de sol em dia de tempestade, até desconhecidos deixarem recados na porta, uns felicitando, outros não acreditando que fosse possível. Esses últimos, como os primeiros não sabem nem os nomes, mas dão a impressão de conhecer profundamente os "namorados". Falsos testemunhos de que sou chatinho, cabeça dura e, pior, que estou sem eira nem beira, abalaram profundamente a minha fé na humanidade e não sei se serei mais capaz de me reconhecer nos espelhos dos vidros dos automóveis, onde sempre me penteava. De resto, sei que sou forte e corajoso, se não fosse essas duas virtudes você jamais leria esse desabafo heheh.A realidade é uma novidade anunciada em todos os momentos que a gente põe a mão no bolso. A verdade é uma senhora cheia de histórias, e gentilíssima, ela sempre tem um jeito de contar para cada ouvinte, conforme sua simpatia. Claro, ela apesar de gentil, pode mesmo ser muito severa, às vezes ignorante e mesmo, cruel. De resto aqui do alto da montanha vou vendo as nuvens e as luzinhas da cidade, sabe como é, resolvi dar uma voltinha pelos céus da cidade para parar de pensar em você e achar um ovo de páscoa pra entregar para quem eu gosto. De quem nunca foi Zé Lelé. E descobriu gente feliz e boazinha e sem medo de tudo que se esconde. Amoitam-se maldizeres sempre que viam namorados, no nosso caso chacoalharam o pé-de-encantamento, movem pra lá e pra cá, sem o devido cuidado com a plantinha, que nem desconfia que ela não nasce em pedras.

* Edson José de Moraes, é designer, ilustrador, poeta, animador cultural e militante

Um comentário:

Maria-Sem-Vergonha do Cerrado disse...

Edson, fiquei pensando sobre o que disse "os índios acham que suas almas são roubadas pelo beijo na boca"...continuo pensando