sexta-feira, 11 de abril de 2008

Sexta poética no Coreto


Cena do Filme Bodas de Sangue, de Carlos Saura

As sem razões do amor
Carlos Drummond de Andrade

Eu te amo porque te amo.

Não precisas ser amante,

e nem sempre sabes sê-lo.

Eu te amo porque te amo.

Amor é estado de graça

e com amor não se paga.

Amor é dado de graça,

é semeado no vento,

na cachoeira, no elipse.

Amor foge a dicionários

e a regulamentos vários.

Eu te amo porque não amo

bastante ou demais a mim.

Porque amor não se troca,

não se conjuga nem se ama.

Porque amor é amor a nada,

feliz e forte em si mesmo.

Amor é primo da morte,

e da morte vencedor,

por mais que o matem (e matam)

a cada instante de amor.


Poema sobre a recusa
Maria Teresa Horta

Como é possível perder-te

sem nunca te ter achado

nem na polpa dos meus dedos

se ter formado o afago

sem termos sido a cidade

nem termos rasgado pedras

sem descobrirmos a cor

nem o interior da erva.

Como é possível perder-te

sem nunca te ter achado

minha raiva de ternura

meu ódio de conhecer-te

minha alegria profunda.

2 comentários:

Unknown disse...

drummond lindo. o amor resiste à morte. nem mesmo nenhuma maldade irá destrui-lo. quando perdemos a esperança achando que ele enfraqueceu ou acabou, ele sacode o seu coração machucado, mais fortalecido e consciente.
ouvi betânia: é tão difícil ficar sem você... quando estou com você
Estou nos braços da paz. Paz e Amor. rsrs

Maria-Sem-Vergonha do Cerrado disse...

Este poema do Drummond é lindo mesmo. Postei-o pensando numa grande amiga, que me falou sobre amar e cuidar, um desafio nada fácil...mas que não pode ser abandonado nunca: amar e cuidar.