terça-feira, 8 de abril de 2008

Stones, Scorsese e a serpente eletrizante


Uma serpente, assim definiu minha amiga Kelly. Eu acrescento, uma serpente eletrizante, que hipnotiza com os olhos, com a sua boca, com todo o seu corpo e, claro, com a sua voz. Brilhando com clarões de luzes, ele fez o meu ser inteiro se envolver na sua sensualidade e na energia do rock. Ele. Ele. Ele. Mick Jagger comanda Scorsese no filme Shine a Light e, com o grupo, mostra porque os Stones continuam vivos, contrariando aqueles que anunciavam a sua morte logo que a banda nasceu.
Vi o documentário no cinema com o direito de pensar apenas com o coração. Sentir. Sentir. Sentir e viver aquele momento presente, sem nenhuma nostalgia, apenas com algumas vagas e desfocadas lembranças da adolescência. O ambiente do filme ajuda: o elegante Beacon Theatre, de Nova Iorque. Ali, num clima quase intimista, você entra no documentário tanto nos momentos de palco quanto nos flashs do passado da banda, que com irreverência e humor mostra o quanto são medícores algumas perguntas dos jornalistas.
A performance de Jagger, a intensidade da banda, os movimentos de câmera, os cortes, a fotografia não dão tempo de pensar. É a combinação da música e o cinema. É sentimento. Isso fica ainda mais evidente quando entra em cena Buddy Guy e canta o blues Champagne & Reefer, um arraso, que faz o corpo tremer. Outro bom momento é quando a juventude de Jagger encontra a beleza tímida e meio andrógina de Jack White, no country Loving Cup. É puro elixir da vida. Confesso: Mick Jagger acende em mim outros desejos, platônicos, é certo. As suas rugas profundas, escancaradas pelos planos de Scorsese, expressam mais que um rosto, trazem as marcas de quem desafiou a ordem e fez dos seus acordes e canto mais do que música, mas também comportamentos, valores. E junto com Jagger, Keith Richards, Charlie Watts e Ron Wood mostram uma vitalidade, um grande apetite pelo palco e, quase uma certeza, rockeiro não envelhece, não fica gordo, não fica em casa contando o vil metal. Rockeiro vibra e Jagger é serpente, metáfora da paixão encantadora, que se movimenta, e a quem meu ser feminino sucumbe. E, com aquele final do Scorsese, então, com uma infinidade de pontos de luzes e uma lua cheia carregada de erotismo, se transformando em uma língua vermelha, ícone da rebeldia...é sair do cinema e viver.
Angie

Rolling Stones - Like A Rolling Stone

11 comentários:

Augusto Araújo disse...

Nao acredito q vc está se rendendo ao imperialismo cultuaral estadunidense Nanci

Stones, Scorecese, Jack White, todos esses outros q vc falou fazem parte da hegemonia cultural estadunidense q prega o individualismo

tb é igual ao q vc falou num post passado sobre a Liga da Justiça. O Batman, o super-Homem, a Mulher-maravilha, todos esses sao agentes doutrinadores (o tio patinhas é o maior dele, óbvio)

Fora Bush!
Fora FMI!
Não a ALCA!

Maria-Sem-Vergonha do Cerrado disse...

I love Rolling Stones...Eu adoro as rugas do Jagger , seu corpo de serpente, sua voz quente. Jagger, quebrou padrões, preconceitos, chocou os moralistas, foi preso e mobiliza multidão. Também adoro Scorsese, sua maestria com as câmeras, com as imagens...Diferente de você, eu sou plural, Augusto.

Anônimo disse...

O Mundo do cinema, como espectáculo, no topo de uma engrenagem que promove os filmes, através de financiamentos e prémios, que são quase todos uma produção gigantesca de uma Matriz de Controlo que domina as massas anónimas de gente em todo o mundo, tanto o civilizado como o subdesenvolvido, incita a humanidade a viver uma vida de ficção. São ainda os filmes e séries, a forma de manipulação a mais produtiva, pelas sementes de violência urbana, sexual e criminosa, que promovem, alienando as pessoas e os jovens através do culto estéril da fama, nas televisões, afastando-as da sua vida real, a natural, fixas estas nos seus ídolos de barro, para que na realidade continuem escravizadas às suas pulsões as mais baixas e presas a essa manipulação sexual, psicológica e económica. É nessa óptica desvirtuada da vida real que as populações jovens fogem das terras menos ricas e menos propícias à realização dos seus sonhos fictícios…e cinéfulos.

Vemos séries televisivas de óbvios e macabros intuitos, numa nova versão que cultiva a estética do assassínio de mulheres em série, tão sofisticadas, que até os mais bem-intencionados apreciam. Séries em que se exploram pormenores da morte violenta mostrando as várias hipóteses de assassínios com requintes de malvadez e música de fundo, belíssima, e com a exposição de cadáveres e vísceras tudo muito científico, com polícias e peritos "muito humanos".
E o que é isto senão uma programação da humanidade para a fomentação e tolerância da violência.

rosa leonor
(continua)

Anônimo disse...

PARECE QUE NINGUÉM QUER VER O EVIDENTE

Que são os filmes e as séries por um lado e as notícias por outro que criam um Mundo de ficção, um Mundo anti-natural e absurdo, que pretensamente pretende retratar a realidade, (mas que realidade?!) como é o caso da maior parte das telenovelas e que nos acabam sempre por oprimir e angustiar, tornando-nos a todos actores dos seus enredos passionais, das suas lutas sangrentas, das suas guerras; filmes através das quais a violência gratuita e a pornografia acabam por dominar a mente humana. Filmes de enredos e intriga vulgar, “baixaria” mesmo, onde dominam os estereótipos desumanos e primários com que as pessoas mais comuns se identificam e que olham e vivem e falam no dia-a-dia como se fossem suas, e seu único entretenimento. E uma vez destituídas de discernimento, sem saberem sequer pensar, atemorizadas, dominadas pelo pânico subliminar que é gerado através dos Media, os arautos da desgraça e da miséria mundial, estes igualmente ao serviço do Grande Poder que controla o (i)Mundo, deixam pura e simplesmente de saber ou entender onde começa a Vida verdadeira e vão destruindo a Terra no que resta de bom e de belo, perseguindo valores que nada têm a ver com a vida em si. A vida é assim “vivida” como uma pura ficção, desde a cultura de plástico, à política e economias de simulacro....
rosa leonor pedro
(artigo publicado na revista portuguesa, Espaço & Design)

Anônimo disse...

"Parece ser uma verdade incontornável que o constante cerco de tiroteios, violações e assassínios na televisão contribui para uma cultura da tolerância da violência na vida real. Não se trata de um mero programa esporádico de violência, mas de um constante fluxo de violência televisiva que abrange todos os canais. Uma sociedade como a nossa que permite que filmes de uma violência recorrente passem vinte e quatro horas por dia nos ecrãs de televisão dos adultos, que nada de melhor têm para fazer com as suas vidas, e das crianças que não formam uma capacidade de juízo, está predisposta a engendrar a confusão e o desespero morais."

in OS FUNDAMENTOS DA MORALIDADE de George Frankl
rleonor

Augusto Araújo disse...

Abaixo Hollywood
Abaixo o rock
Fora coca-cola!!!

Anônimo disse...

de que catacumba saiu esse augusto??? pedras rolantes não criam limbo, meu caro.

Unknown disse...

adorei mesmo a contribuição de rosa leonor(?). a vida imita a arte? muitos comportamentos encenados na televisão refletiram na vida real das pessoas, durante essas últimas décadas. talvez por uma necessidade de transformar a vida em algo diferente da pacata vida do interior. incorporar aquele problema da personagem pra própria vida. desde crianças sofremos influência da mensagem fictícia. realmente, muitos problemas podem ter sido criados ou agravados pela tv.

adorei também o augusto. hilário. crítico. não leve tão a sério o escracho dele. seja ombudsman. o que a maria escreveu é do momento. hoje posso adorar uma coisa e em outro dia mais nublado achar tudo cinza. como dizem, as críticas são as maiores contribuições que podemos ter pra crescer. que é horrível receber e aceitar a opinião dos outros isso é. não acho que ele faça isso pra ofender. e é um bom sinal que ele venha ler aqui o que você escreve, seja por uma razão ou outra. sinal que vc é importante. ele é realmente um ser singular... procurando no dicionário, singular até que é elogio. rsrs

Maria-Sem-Vergonha do Cerrado disse...

Mi, a Rosa Leonor é portuguesa e tem um blog dedicado a questão feminina. Vale a pena visitá-lo.Ela debate a importãncia do resgate do feminino, da grande Deusa, enfim, fortalece uma mística em torno de novas relações humanas e com o planeta. Ela já publicou um texto da maria-sem-vergonha lá.

Mauro Sergio Forasteiro disse...

LittleBoss, gostei do teu texto... Td bem que parece que alguém não gostou, (hehehehehe) mas se vc esta na chuva é pra se molhar neh... Continue escrevendo, porque esse blog virou mesmo um local de discussão de idéias. Não sou muito de escrever, por isso, raramente posto aqui... Mas eu leio viu... bjão!

Maria-Sem-Vergonha do Cerrado disse...

E que chuva, heim! Volte sempre, Mauro. Beijos