sexta-feira, 11 de abril de 2008

Nem tudo que parece é - ou é? Ou não é?

Tela: Antopofagia
Tarsila do Amaral

Ando meio intrigada. Quero trer o direito de defender aquilo que é defensável e quero o direito de criticar aquilo que é merecedor de crítica. Na semana passada, percebi o quanto ainda é insano o debate em torno das questões de governo e de política partidária. Quando o debate cai aqui no mundo dos mortais, sem os referenciais teóricos e sem método de análises, os discursos ficam no senso comum e trilham o caminho do maniqueísmo e do preconceitos. Aí, se você defende, é rotulada de alienada. Se você contesta, o seu ato pode ser visto como conspiração. Reivindico para mim o direito de expressar o que penso e o de até mudar de opinião no dia seguinte. Reivindico o direito de ficar na dúvida, de refletir e, ainda, o direito de acreditar que, apesar de tudo, é no movimento político que as mudanças acontecem, exercendo a práxis: teoria e prática. Pelo menos, é o que demonstra a história da humanidade. Por exemplo, um dia desses falei tanto no Dalai Lama e eis que abro a útlima edição do Jornal Brasil de Fato e me deparo com informações que desmistificam o prêmio Nobel da Paz e me deixaram um tanto chocada. Publico abaixo alguns posts que estão me deixando com pulgas atrás da orelha...e as pulgas estão incomodando e muito, mas quero ter o direito de ser incomodada e de pensar...pelo menos isso.


Dalai Lama e o Financiamento da CIA
Reportagem do jornalista Humberto Alencar no Jornal Brasil de Fato, da semana passada, traz as seguintes informações: "Exilado em Dharamsala, na Índia, onde está à testa de uma comunidade de 120 mil tibetanos, o 14° Dalai Lama é apresentado desde 1959 pelos meios de comunicação de massa como um dos maiores defensores da paz no mundo e líder espiritual. Seus gestos desmentem esses epítetos. “O jornalista revela que Dalai Lama participou da 1ª Assembléia nacional da China, em 1954, sendo inclusive eleito um dos vice-presidentes do Comitê Permanente. Na ocasião afirmou que o povo tibetano gozava de liberdade em suas crenças religiosas. O rompimento aconteceu em 1956, quando a China cogitou promover a reforma democrática do Tibete, separando a religião do Estado, abolindo a servidão rural e a escravidão doméstica e redistribuindo a propriedade das terras e dos rebanhos, monopolizada pela aristocracia civil e pelos mosteiros. De acordo com a reportagem, o movimento tibetano no exílio e o próprio Dalai foram financiados pela CIA. De acordo comn documentos abertos da inteligência estadunidense, o movimento recebeu R$ 1,7 milhão de dólares por ano.


PSol, PT e a Direita - Chico Alencar na Caros Amigos

Sou suspeita para falar. Tenho um admiração enorme e escancarada pelo Chico Alencar, desde a época em que fiz o curso de História e o conheci num encontro no Rio de Janeiro que discutiu a participação dos movimentos sociais na Constituinte. Lá, também tive a oportunidade de descobrir que ele é um grande escritor. Chico é um homem decente, sensível, coerente, marcante, inteligente e com uma formação cultural invejável. Hoje, no PSol, Chico é pré-candidato na disputa à prefeitura do Rio. E lá também tem Gabeira por quem nutro muito respeito. O Rio tem duas grandes opções de mudança. Aquela cidade, a mais bela de todas que já conheci, e o o seu povo merecem um outro destino. Li a entrevista do Chico na Revista Caros Amigos e reproduzo aqui um techo marcante. Quem quiser lê-la na íntegra é só clicar no link abaixo. Como um bom historiador, um bom educador, Chico continua me ensinando novas lições.Concordo com Chico em muitas questões. Sim, em vários momentos o PT se aliou à direita, mas tenho a convicção de que alguns setores importantes fazem resistência ao núcleo dominante do Partido e isso acaba contribuindo para que alguns avanços aconteçam e várias lutas sejam travadas interna e externamente.

Link para a entrevista completa:

http://www.chicoalencar.com.br/chico2004/chamadas/2008/carosamigos10042008.htm

Carlos Azevedo - Sua trajetória no PT foi de 1987 até 2005?

É. Uma longa trajetória. Mal comparando, é como na vida afetiva, que temos relações mais marcantes, duradouras e pelo tempo de convivência elas têm um peso muito relevante. Diria que, do ponto de vista de um casamento político, meu tempo no PT é marcante, inesquecível, mais para o bem do que para o mal. Mas foi um processo extremamente doloroso.

Sérgio de Souza - Quando e por que começa seu estranhamento com o PT?

No meu caso, no PT, o impasse mais significativo foi com minha candidatura à prefeitura em 1996, quando a cúpula do partido, Gushiken, José Dirceu, Lula, insistia que o partido tinha de se abrir. O Rio sempre foi uma moeda de troca, pro PT fazer acertos nacionais, dentro de um campo que incluía os chamados partidos progressistas. Na militância, as bases e as convenções sempre batiam de frente. Então, em 1996 havia essa orientação, mas o partido fortemente optou por uma candidatura própria à prefeitura, por uma aposta ousada, contra todas as possibilidades e contra o núcleo duro da direção nacional. Apesar disso, deu certo. Lula só foi no último comício, a três dias da eleição. Até fez uma autocrítica, dizendo que tinha que ter apoiado antes. Com o Zé Dirceu já tinha tido alguns arranca-rabos. Por ali começou, dois anos depois teve uma intervenção direta pra tirar a candidatura de Vladimir Palmeira e impor a aliança com o PDT do Garotinho. Vai criar cobra pra te picar lá no Butantã... Em 2002, quando me candidatei a deputado federal, a gente viveu uma contradição. Havia um movimento de base, de ruptura com o peleguismo, e o Lula candidato mais uma vez; dessa vez vitorioso.
Também houve a nossa célebre reunião, até acabei sendo protagonista, eu perguntei para o Delúbio (tesoureiro do PT): senhor tesoureiro, e esse tal de Marcos Valério? Sabia apenas que a Articulação (tendência majoritária do PT) tinha esquemas, algumas campanhas pareciam milionárias. "É apenas um amigo meu, que quer colaborar com o partido." Poxa, pensei, então, na próxima campanha eleitoral, em 2004, vamos colocar todas as nossas contas de campanha em tempo real. Aí ele falou: "Ô, Chico, transparência, transparência demais é burrice" - uma frase que até ficou famosa. Olha só, Norberto Bobbio (cientista político italiano): "A democracia é o regime da transparência e nela não pode haver nenhum segredo". É ou não é uma contradição?


Carlos Azevedo - Você acha que o PT passa por essa transformação depois de entrar nesse descensão? Em que medida descensão influencia?
Suponho que essa relação é sempre dialética. Há quem diga que partido político é necessariamente uma estrutura institucional e, quanto mais tempo passa nas estruturas formais, disputando eleições, ocupando cargos, mandatos parlamentares ou executivos, vai arrefecendo sua pujança mudancista, revolucionária. Haveria uma contradição entre partido e revolucionário...

Carlos Azevedo - Enfraquece sua relação com as raízes populares?

Vai criando estruturas e, como no Brasil... - aí é uma tese de um historiador menor - o peso da institucionalidade é muito grande, inclusive pra luta da esquerda, todas as nossas lutas mais marcantes da geração cinqüentona e sessentona tiveram um viés de institucionalidade: Anistia, Diretas Já, Constituinte. Aquele Brasil bonito das Diretas Já produziu as maiores manifestações de massa com sentido político da nossa história. Mas, mesmo antes, a própria Aliança Libertadora Nacional de 1935 tinha um conteúdo de institucionalidade, um programa de reformas, a luta pela democratização no fim do Estado Novo, o Manifesto dos Mineiros não era socialista nem revolucionário, mas era um duto de liberdades democráticas que muita gente progressista assimilou, entrou. O movimento das reformas de base no Jango, também pelo viés da institucionalidade. O movimento pela legalidade contra as tentativas de golpe, de impedir a posse do vice-presidente que estava na China. Até no plano cultural, de mudanças mais profundas na sociedade, o movimento modernista, que acontece em São Paulo (1922) e não na capital federal, que era o Rio, um pouco pra fugir do oficialismo, também não deixa de ter conexões com a institucionalidade da época, questionando a dominação oligárquica.


Roberto Manera - Com seus programas tão semelhantes, os partidos políticos parecem monolíticos e, no entanto, a opinião coletiva dos partidos é de uma variabilidade absurda. Um cara que ontem defendia isso, amanhã se coloca contra porque outro grupo está no outro extremo da gangorra. Não tem sido isso?
Eu acho que o PT exacerbou essas incoerências. Agora, sinceramente, no Brasil, aí concordando em partes com você, há partidos como o PSB, o PDT, o próprio PPS, o PT, o PSTU, o PC do B, o PSOL que têm um aspecto semelhante no seu programa. Todos esses, sem exceção, falam de socialismo, da importância do Estado, da importância do controle social, da participação, da organização dos trabalhadores, dos explorados, oprimidos, vilipendiados e tal. E dessa meta de construir uma sociedade diferente, socialista. O programa, para falar do programa, papel - o papel aceita tudo, é verdade -, os programas do PSDB, do PFL, do DEM, do PTB, com nuances um pouquinho mais para aspectos trabalhistas, do PP, do PL, hoje PR, do PMDB, estão num outro campo da economia de mercado, da democracia liberal como a realização plena do seu ideário. Pode ler lá. Agora, isso é pouco, e aí você tem toda a razão. O que conta mesmo, e, aliás, essa é uma afirmação clássica de esquerda, é a prática; a prática é o critério da verdade. Talvez o grande mal para a esquerda que o PT tenha causado, os segmentos dominantes do PT, tenha sido o de a prática não coincidir com o ideário. Mas há muita gente séria, boa, cada vez mais desiludida, no PT.

Roberto Manera - E vocês estão de braços abertos para eles?

Claro que estamos. Há uma hegemonia no PT que dá a fisionomia do partido hoje, que tem uma incoerência entre o programa e a prática, entre a intenção e o gesto, entre o proclamado e o praticado, sem constrangimentos agora. Isso é que é terrível. Às vezes, os bons companheiros que ainda sobrevivem na bancada do PT, em Brasília, pedem para nós poucos, Ivan Valente daqui de São Paulo, Luciana Genro do Rio Grande do Sul, e eu. Falam: "Pô, pega firme nisso aí que vocês têm condição, a gente não pode bater tanto". Porque tem a tal desgraçada governabilidade parlamentar. Alguém tinha feito uma pergunta também aguda: será que o que acabou como expressão não é a forma "partido político"? Eu digo que não. Agora, não se inventou ainda outro instrumento que não o partido político para fazer uma disputa com um mínimo de regras e ocupar espaços do poder institucional que, volto a dizer, não é todo o poder.

Aumento dos juros:Banco Central contra o Brasil

Li o post abaixo no blog do Zé Dirceu e achei muito interessante (não precisam torcer o nariz, por causa do autor). Achei o texto didático e esclarecedor, desnuda a política do Banco Central, demonstrando que a instituição age contra o Brasil:
“A cena se repete como se fosse um vídeo: o Banco Central (BC) vai aumentar os juros para manter sua autoridade, porque se não o fizer está desmoralizado. Essa é a lógica da corporação, que criou um espírito de corpo típico dos megaconglomerados, mas é uma falsa imagem, um faz de conta do BC. A realidade é outra. O Banco está de tabelinha com os agentes financeiros, trocando figurinhas com as expectativas de mercado que ele mesmo cria ao anunciar que subirá os juros para, em seguida, receber o retorno dos agentes financeiros, estimulando juros de até 12% ainda esse ano (a taxa Selic está em 11,25%).Quem criou a expectativa da subida foi a ata do COPOM e as escandalosas e suspeitas entrevistas de um dos diretores do BC, pregando a alta e ameaçando o governo e aqueles que são contra. Os agentes financeiros só se aproveitaram dessa abertura. Não adiantam os dados e a realidade, o BC se move por moto próprio. Sua autonomia se transformou num abuso de autoridade, típica das burocracias autoritárias. Tudo indica que a inflação será no máximo de 4,6% em 2008 e de 4,4% em 2009. Até fevereiro, estava em 4,6%, influenciada pelos aumentos sazonais do leite, carne e feijão. Não se pode esquecer que seu teto é 6,5%, já que 4,5% é o centro da meta, com uma banda para baixo e para cima de 2%. O aumento do crédito está abaixo dos índices de outros países e a inadimplência dentro do normal. Os salários aumentam menos que a produtividade. Ampliam-se os investimentos e a capacidade produtiva instalada. Nada indica uma inflação de demanda. Crescem a economia e as nossas reservas, o governo mantém o superávit - na verdade, maior do que o programado - e adapta o orçamento ao fim da CPMF.Nada justifica, portanto, subir os juros agora. Ninguém está a favor - até a Folha de S.Paulo e O Estado de S.Paulo fizeram editorais contra. O próprio Fundo Monetário Internacional (FMI) - pasmem! - declara que a principal vulnerabilidade do Brasil são os juros altos. Ao diagnóstico, eu acrescento a dívida pública interna, cujos juros consomem todos os anos R$ 150 bi dos impostos que pagamos; uma concentração de renda nunca vista no mundo, já que 70% desse valor fica em mãos de 13 mil pessoas físicas e jurídicas; e os efeitos da valorização do real, o que leva os agentes financeiros a tomarem emprestado dólares baratos no exterior e investí-los no Brasil para ganhar 10% ao ano, um crime contra o país. Com mais dólares no Brasil o real se valoriza, nossas exportações perdem competitividade e o país é inundado por importações boas e ruins, com sérios riscos para sua balança comercial e de pagamentos. Até quando vai essa dança macabra do BC e do COPOM, esse abuso de autoridade, esse jogo com o futuro do pais?”

2 comentários:

Unknown disse...

Conhecemos as personalidades políticas do mundo muito distantemente, sem saber bastidores e verdadeiros objetivos. até mesmo com os que pensávamos que conhecíamos, tivemos muitas decepções. o debate aqui em baixo é bom, mas não devemos esquecer que poucos são merecedores do nosso empenho e que muitos por quem compramos briga aqui em baixo, estão apenas fazendo circo lá em cima... são aliados e negociaram nos bastidores que não conhecemos.
extraí do carregando o elefante (livro /site):
Conhecer o caminho é diferente de trilhar o caminho. É possível que o grande problema do Brasil seja o fato de sermos, todos, revolucionários de sofá.
Ficamos sentados confortáveis, no sofá da sala, lendo os jornais e
exclamando: “que absurdo!”, “alguém precisa fazer alguma coisa!”... Dividindo o tempo livre entre cerveja, futebol e carnaval, quanto tempo sobra para o exercício da cidadania? Poucos povos são mais acomodados do que o brasileiro...

Maria-Sem-Vergonha do Cerrado disse...

É, Miti...e, quando na Europa, acontecem greves, protetos, manifestações,quebra-quebra, consideramos sinais da cidadania. Aqui, é comportamento de "baderneiros"...que bom que ainda existem os baderneiros do MST, da Liga Campesina, dos índios..vc tem toda razão: precisamos sair do sofá...
beijos