quinta-feira, 26 de junho de 2008

Pássaro da Manhã

Foto: Blog Canto da Boca

Show Pássaro da Manhã
Poema de abertura de Fauzi Arap
Declamado por Maria Bethânia

Eu vou te contar que você não me conhece...
E eu tenho que gritar isso porque você está surdo e não me ouve!
A sedução me escraviza à você ...
Ao fim de tudo você permanece comigo, mais presa ao que eu criei e não a mim .
E quanto mais falo sobre a verdade inteira um abismo maior nos separa ....
Você não tem um nome, eu tenho...
Você é um rosto na multidão,
e eu sou o centro das atenções,
Mas a mentira da aparência do que eu sou,
e a mentira da aparência do que você é .
Por que eu, eu não sou o meu nome, e você não é ninguém ...
O jogo perigoso que eu pratico aqui,
ele busca a chegar ao limite possível da aproximação.
Através da aceitação, da distância, e do reconhecimento dela.
Entre eu e você existe a notícia que nos separa ...
Eu quero que você me veja nu, eu me dispo da notícia.
E a minha nudez parada, te denuncia, e te espelha...
Eu me delato, tu me relatas...
Eu nos acuso, e confesso por nós.
Assim, me livro das palavras,
Com as quais você me veste.

MARIA BETHANIA - JEITO ESTÚPIDO DE TE AMAR

Oração ao Tempo - Maria Bethânia

"Morro ontem e nasço amanhã"

sábado, 21 de junho de 2008

Só chamei porque te amo - Carla Visi e Gilberto Gil

Lindo demaaaaaaais!

Gilberto Gil - Não Chore Mais (No Woman, No Cry)


É melhor embriagar-se de poesia

Foto: Vampiros

Depois que a Executiva Nacional do PT aprovou ontem a aliança com o Demo, digo DEM (ex-PFL, ex-arena,), e que todo mundo virou "companheiro" ( direita, esquerda, PT, PSDB, DEM, PMDB, PP, comunistas, socialistas, capitalistas, sociais-democratas), eu quero mesmo é me embriagar de poesia...


EMBRIAGUEM-SE
Baudelaire

É preciso estar sempre embriagado.
Aí está: eis a única questão.
Para não sentirem o fardo horrível do tempo que verga
e inclina para a terra,
é preciso que se embriaguem sem descanso.
Com quê? Com vinho, poesia ou virtude, a escolher.
Mas embriaguem-se.
E se, porventura, nos degraus de um palácio,
sobre a relva verde de um fosso,
na solidão morna do quarto,
a embriaguez diminuir ou desaparecer
quando você acordar,
pergunte ao vento, à vaga, à estrela, ao pássaro,
ao relógio, a tudo que flui, a tudo que geme, a tudo que gira,
a tudo que canta, a tudo que fala,
pergunte que horas são;
e o vento, a vaga, a estrela, o pássaro, o relógio responderão:
"É hora de embriagar-se!
Para não serem os escravos martirizados do tempo,
embriaguem-se;
embriaguem-se sem descanso".
Com vinho, poesia ou virtude, a escolher.
À Palo Seco - Belchior e Los Hermanos

terça-feira, 17 de junho de 2008

Que é ter vergonha na cara?


*Leonardo Boff - texto encaminhado para publicação por Miti


Benjamin Franklin (1706-1790) foi editor, refinado intelectual, escritor, pensador, naturalista, inventor, educador e político. Propunha como projeto de vida um pragmatismo esclarecido, assentado sobre o trabalho, a ordem e a vida simples e parcimoniosa. Foi um dos pais fundadores da pátria norte-americana e participante decisivo na elaboração Constituição de 1776. Naquele mesmo ano, foi enviado à França como embaixador. Frequentava os salões e era celebrado como sábio a ponto de o próprio Voltaire, velhinho de 84 anos, ir ao seu encontro na Academia Real. Certa tarde, encontrava-se no Café Procope em Saint-Germain-des-Près, quando irrompeu salão adentro um jovem advogado e revolucionário Georges Danton dizendo em voz alta para todos ouvirem: "O mundo não é senão injustiça e miséria. Onde estão as sanções?" E dirigindo-se a Franklin perguntou provocativamente:"Senhor Franklin, por detrás da Declaração de Independência norte-americana, não há justiça, nem uma força militar que imponha respeito". Franklin serenamente contestou: "Engano senhor Danton. Atrás da Declaração há um inestimável e perene poder: o poder da vergonha na cara (the power of shame)". É a vergonha na cara que reprime os impulsos para a violação das leis e que freia a vontade de corrupção. Já para Aristóteles a vergonha e o rubor são indícios inequívocos da presença do sentimento ético. Quando faltam, tudo é possível. Foi a vergonha pública que obrigou Nixon renunciar à presidência. De tempos em tempos, vemos ministros e grandes executivos tendo que pedir imediata demissão por atos desavergonhados. No Japão chegam a suicidar-se por não aguentarem a vergonha pública. Ter vergonha na cara representa um limite intransponível. Violado, a sociedade despreza seu violador, pois não se pode conviver sem brio. Que é ter vergonha na cara? O dicionário Aurélio assim define: "ter sentimento da própria dignidade; ter brio." É o que mais nos falta na política, nos portadores de poder público, em deputados, senadores, executivos e em outros tantos ladrões e corruptos de colarinho branco. Com a maior cara de pau e sem- vergonhice negam crimes manifestos, mentem sem escrúpulos nos interrogatórios e nas entrevistas aos meios de comunicação. São pessoas que à força de fazer o ilícito e de se sentir impunes perderam qualquer senso da própria dignidade. Roubar do erário público, assaltar verbas destinadas até para a merenda escolar ou falsificar remédios não produz vergonha na cara. Crime é a bobeira de quem deixa sinais ou permite que seja pego com a boca na botija. Nem se importam, pois sabem que serão impunes, basta-lhes pagar bons advogados e fazer recursos sobre recursos até expirar o prazo. Parte da justiça foi montada para facilitar estes recursos e favorecer os sem vergonha com poder. No transfundo de tudo está uma cultura que sempre negou dignidade aos índios, aos negros e aos pobres. Roubo-lhes seu valor ético porque a maioria guarda vergonha na cara e tem um mínimo de brio. Como me dizia um "catador de lixo" com o qual trabalhei cerca de 20 anos: "o que mais me dói é que tenho que perder a vergonha na cara e me sujeitar a viver do lixo. Mas não sou "catador", sou trabalhador que com o meu trabalho digno consigo alimentar minha família". Se nossos políticos desavergonhados tivessem a vergonha desse trabalhador, digna e dignificante seria a política de nosso pais.
*Leonardo Boff é teólogo

segunda-feira, 16 de junho de 2008

domingo, 15 de junho de 2008

Adeus, grilos! Rumo ao céu azul


*por Kelly Garcia

Todo mundo espera alguma coisa do sábado à noite. bem no fundo todo mundo quer zoar”...assim começa uma música do Lulu Santos. E eu estou aqui num sábado, de temperatura agradável, conseguindo escutar um grilo, monotonamente, fazendo o mesmo criiiii criiiii criiii.
Sem programa e solitária, fiz o que boa parte das pessoas da minha idade fazem, ligam o computador e buscam um preechimento para esses vazios cheios de grilos.
- Criiiiiiiiiiiiiiiiii infindável e monótono é o que tenho hoje.
Contudo, tenho nos lábios um sorriso porque não estou triste. Pelo contrário, estou exultante! O chatinho do grilo não sabe que hoje deixei de ser uma mulher-grilo. E isso não significa que consegui tirar minhas “neuras” da cabeças, até mesmo porque delas já desisti. Limito-me a uma fleumática relação de boa vizinhança, já que elas são incontroláveis graças ao seu rápido ciclo reprodutivo que supera o do mosquito da dengue e sequer precisa de água parada.
Minha excitação é porque deixei de ser uma fazedora de criiiiiiiiiiiiiii - esse som uníssono que a mulher-grilo produz quando não consegue mudar o rumo da sua vida, mesmo tendo plena consciência de quem é seu ladrão de ar.
- Adeus criiiiiiiiiiii criiiiiiiiiiiiiii criiiiiiiiiiiiiiiii... Não fui condenada biologicamente a ser monótona, como os grilos, fui forjada historicamente para ser uma transformadora da realidade. E esse é o meu desejo!
Só as possibilidades de mudanças animam os dias de minha vida, e, por isso, adeus, medo!
Vou aceitar as minhas metamorfoses. Estou louca para ver o céu azul.

*Kelly Garcia é advogada, militante socialista, mestre em Educação e nas horas vagas estilista da Maria do Povo

sábado, 14 de junho de 2008

No coração do Pantanal


Atravessei o pantanal. Não, não fui naquele velho trem. Entre os grandes crimes que as privatizações tucanas neoliberais cometeram contra o patrimônio público, está a privatização da ferrovia Noroeste do Brasil. A privatização, além de sucatear toda a malha ferroviária, acabou com o Trem do Pantanal enquanto opção de transporte de pessoas, de turistas e de fomento da nossa cultura. Quem pegou aquele trem sabe do que estou falando: as índias nas estações com suas cestas carregadas de feijão, milho verde, guariroba; o artesanato regional; o nascer do sol no coração do pantanal, encharcando a nossa alma de luz e natureza.
Ainda me lembro da última viagem que fiz no trem pantaneiro. Era carnaval. O melhor destino para a juventude no carnaval era soltar toda energia na folia corumbaense. Corumbá e Ladário têm uma ligação umbilical com a cultura carioca, fruto da influência dos marinheiros. O samba explode na avenida da cidade branca. Eu curtia mesmo os blocos carnavalescos. Entre eles, o Flor de Abacate, um bloco masculino que leva a irreverência para a avenida...Os homens de sarongue branco cantando: "Flor, Flor, carnaval já chegou..."
Desta vez, não fui a passeio. A missão era trabalhar. Fiquei trancada numa sala de reunião por mais de 12 horas. O sabor da cultura corumbaense senti apenas na culinária, experimentado um flié de pintado na Peixaria do Lulu.Que peixada boa!
Voltarei em breve para lá...e, desta vez, espero caminhar pelas ladeiras e ir para a beira do Rio Paraguai...e sentir o meu coração bater desigual.



Trem do Pantanal - Almir Sater



SE - Djavan


terça-feira, 10 de junho de 2008

A tal felicidade


Grupo Circo do Mato/ lançamento do livro Outros Sentidos/Victor Barone

Já dizia Nietzsche: “temos a arte para que a verdade não nos destrua”. Nesses tempos difíceis de persistentes tentativas de assassinatos contra utopias libertárias, tenho buscado na arte a força para sonhar. O tempo não pára. O relógio gira como hélice de ventilador. A agenda me atropela. Mas, nos últimos dias, tenho experimentado, seguidamente, a felicidade. Primeiro, foi o Sarau de lançamento do livro Outros Sentidos, do poeta e amigo Victor Barone, onde as fotografias de Elis Regina se encontraram com poemas, com a música da Maria Alice, com os artistas circenses, com o teatro e com a magia das pessoas presentes - amigos, amo os meus amigos, ainda mais quando sinto que são feitos de carne e osso, que têm calor humano. Depois, foi a peça No Doce e Amargo das Coisas de que Somos Feitos, sob a direção de Nill Amaral, um artista inquieto, intenso e profundo. Na sequência, recebi alguns poemas de Maristela Brunetto. E para completar, estou lendo Promiscuidades: a luta secreta para ser mulher, da feminista Naomi Wolf - uma abordagem autobiográfica sobre como se constrói a imagem da "piranha", da "cachorra", da "vagabunda" nas mulheres que ousaram viver mais livremente a sexualidade. Para Naomi Wolf, as mulheres da sua geração, nascidas nos anos 60 e que viveram os seus desejos, quebrando os muros dos preconceitos, são amigas sábias e experientes e deveriam ensinar às filhas que a sexualidade feminina não é promíscua, revelando-se, isso sim, divina e poderosa.
A felicidade no meu caso é alucinógena, uma mistura de euforia e êxtase puríssimo, obtida apenas com a minha química orgânica, na mais absoluta lucidez, sem nenhuma gota de produtos químicos que possam alterar o meu estado de consciência. A minha química orgânica me basta. Lembro-me de Clarice Lispector: “Criava as mais falsas dificuldades para aquela coisa clandestina que era a felicidade. A felicidade sempre ia ser clandestina para mim. Parece que eu já pressentia. Como demorei! Eu vivia no ar... “
A felicidade é viver no ar... e também é clandestina. É respirar profundamente e sentir o corpo levitando, tocado pela brisa. É por isso que eu amo o mar, o seu azul. Quando toco na areia e vejo a imensidão da água, inspiro, trago, bebo e respiro a liberdade, sinto o seu sabor no meu paladar. Mas gosto mesmo do mar à noite, completamente revolto, forte, pronto para me levar...me levar para o fundo, onde habitam as sereias azuis. A arte faz isso com o meu corpo...ela me leva, me tira os sapatos, me faz pular na água invisível dos meus sonhos. É por isso que ela é breve...é breve, mas retorna.
O tempo não pára - Cazuza


segunda-feira, 9 de junho de 2008

A flor e a náusea


Carlos Drummond de Andrade

Preso à minha classe e a algumas roupas,
vou de branco pela rua cizenta.
Melancolias, mercadorias, espreitam-me.
Devo seguir até o enjôo?
Posso, sem armas, revoltar-me?

Olhos sujos no relógio da torre:
Não, o tempo não chegou de completa justiça.
O tempo é ainda de fezes, maus poemas, alucinações e espera.
O tempo pobre, o poeta pobre
fundem-se no mesmo impasse.

Em vão me tento explicar, os muros são surdos.
Sob a pele das palavras há cifras e códigos.
O sol consola os doentes e não os renova.
As coisas. Que triste são as coisas, consideradas em ênfase.

Vomitar este tédio sobre a cidade.
Quarenta anos e nenhum problema
resolvido, sequer colocado.
Nenhuma carta escrita nem recebida.
Todos os homens voltam pra casa.
Estão menos livres mas levam jornais
e soletram o mundo, sabendo que o perdem.

Crimes da terra, como perdoá-los?
Tomei parte em muitos, outros escondi.
Alguns achei belos, foram publicados.
Crimes suaves, que ajudam a viver.
Ração diária de erro, distribuída em casa.
Os ferozes padeiros do mal.
Os ferozes leiteiros do mal.

Pôr fogo em tudo, inclusive em mim.
Ao menino de 1918 chamavam anarquista.
Porém meu ódio é o melhor de mim.
Com ele me salvo
e dou a poucos uma esperança mínima.

Uma flor nasceu na rua!
Passem de longe, bondes, ônibus, rio de aço do tráfego.
Uma flor ainda desbotada
ilude a polícia, rompe o asfalto.
Façam completo silêncio, paralisem os negócios,
garanto que uma flor nasceu.

Sua cor não se percebe.
Suas pétalas não se abrem.
Seu nome não está nos livros.
É feia. Mas é realmente uma flor.

Sento-me no chão da capital do país às cinco horas da tarde
e lentamente passo a mão nessa forma insegura.
Do lado das montanhas, nuvens macias avolumam-se.
Pequenos pontos brancos movem-se no mar, galinhas em pânico.
É feia. Mas é uma flor. Furou o asfalto, o tédio, o nojo e o ódio.

Esquadro - Adriana Calcanhoto


domingo, 8 de junho de 2008

Embriaguez

*por Maristela Brunetto

No seu olhar eu me rendo
Me entrego
Viro barco à deriva
Exposto à sua maré e brisa
Você me puxa, me leva
Eu velejo no seu mar
Nos seus lábios eu sou sabor
Desejo, pele
Embriaguez de sensações
Prazer
Nos seus barços sou acolhida
Sou fragilidade
Sou encontro
Sou paz sem fim

* Maristela Brunetto é jornalista sul-mato-grossense e faz o seu caminho com palavras que desenham textos em prosa e versos.
A Festa - Maria Rita
Já falei tantas vezes
Do verde nos teus olhos
Todos os sentimentos me tocam a alma
Alegria ou tristeza
Se espalhando no campo, no canto, no gesto
No sonho, na vida
Mas agora é o balanço
Essa dança nos toma
Esse som nos abraça, meu amor (você tem a mim)
O teu corpo moreno
Vai abrindo caminhos
Acelera meu peito,
Nem acredito no sonho que vejo
E seguimos dançando
Um balanço malandro
E tudo rodando
Parece que o mundo foi feito pra nós
Nesse som que nos toca
Me abraça, me aperta
Me prende em tuas pernas
Me prende, me força, me roda, me encanta
Me enfeita num beijo

Pôr do sol e aurora
Norte, sul, leste, oeste
Lua, nuvens, estrelas
A banda toca
Parece magia
E é pura beleza
E essa música sente
E parece que a gente
Se enrola, corrente
E tão de repente você tem a mim

Me abraça, me aperta
Me prende em tuas pernas
Me prende, me força, me roda, me encanta
Me enfeita num beijo

sábado, 7 de junho de 2008

O doce e o amargo da vida

Foto: Ravedutti/Espetáculo No Doce e Amargo das Coisas de que Somos Feitos

Lá estava ela. Mais de uma. Múltipla. Sua voz ganhava forma de desabafo em vários corpos. Sentimentos em ebulição, brotando da sua genitália, do seu plexo solar, saltando das suas vísceras, exalando dos seus poros. A felicidade e a infelicidade. A vida e a morte. A liberdade e a prisão. O amor e o ódio. O doce e o amargo...tudo ao mesmo tempo agora...Ela diz, eu sinto, eu digo, ela sente...porque a vida é curta tenho medo, tenho coragem, sinto alegria, sinto tristeza...Eu rio. Eu choro. Esse ser selvagem que me habita e me arrasta, galopa sobre a minha alma e me faz santa, anjo, doce e, logo mais, despudorada, rasgando as muralhas... Clarice...Ah! Clarice Lispector. Você ali, entre cafés, esse sabor amargo que adoça a minha vida. Você ali num ambiente cênico, a sua morada, a sua casa, você se multiplicando em vários cantos, em várias janelas...a sua voz em outras vozes replicando dentro do meu ser.... os meus olhos brilhando, brilhando...o meu corpo desejando ...desejos inconfessáveis de vida e de morte...querendo virar um punhado de areia para ser jogado com raiva e doçura...uma fúria doida diante daquela máquina de escrever...vontade de parir outras palavras...e, por fim, fiquei parada, estática, sem vontade de sair daquele depósito cênico...Clarice Lispector ganhou todas as suas vidas no espetáculo “No gosto doce e amargo das coisas de que somos feitos", em cartaz no Sesc Horto, sob a direção de Nill Amaral...um espetáculo brilhante, ousado, instigante e surpreendente. Um marco na dramaturgia sul-mato-grossense. Imperdível.


Jardim da Fantasia/Bem-te-vi - Paulinho Pedra Azul

quarta-feira, 4 de junho de 2008

Sarau de Lançamento do Livro Outros Sentidos - Victor Barone

Clique na imagem acima para ler o poema

Victor Barone um poeta da paixão

Há quase nove meses nascia o projeto de editar o primeiro livro de poesias de Victor Barone. Um período simbólico, próprio de uma gestação, fruto de uma relação de encantos e descobertas pelos caminhos da paixão poética. Conhecer as palavras, deixar-se envolver pelo verbo, experimentar novos caminhos, inclusive, temendo o futuro. O projeto vingou, ganhou adesão de amigos, o livro nasceu e amanhã será o lançamento de Outros Sentidos, às 19h30, no Museu de Arte Contemporânea. E a exemplo do processo de criação e produção do livro, o Sarau vai reunir a magia das artes num encontro de música, acordes, teatro, fotografia, expressões circenses – tudo num mesmo lugar. Imperdível. É resultado de um ato de amor pela arte, um amor que contagia.
O recital ficará sob a direção teatral de Nill Amaral, uma expressão contemporânea, criativa e brilhante das artes cênicas. A música ganhará vida na voz de Maria Alice, uma artista que canta com o corpo e com a alma, além de ser uma militante cultural imprescindível. A exposição fotográfica apresentará as imagens registradas pelo olhar sensível e ousado de Elis Regina. Um encontro perfeito entre a poesia de Victor e as fotografias de Elis. Sim. Ele é um poeta que dá forma às palavras. Elas tornam-se objetos, sentimentos, luz, imagem. Elis Regina é uma fotógrafa-poeta.
Com o olhar sensível e uma técnica ousada, consegue saturar a luz, fazendo um exercício lúdico, multiplicando os sentidos do objeto fotografado, sobrepondo imagem e imaginário, sombra e luz.
O verbo de Victor Barone e o mosaico de fotografias de Elis nos seduzem com novas poéticas e linguagens, codificando desejos, interagindo nuances, abrindo as portas do sensível, compondo uma sinergia que vai além dos nossos sentidos táteis, envolvendo nosso corpo e alma, imprimindo outros significados, outros sentidos, de forma doce, ácida, ardente, intensa e sensual.

E tudo isso só foi possível graças ao apoio fundamental de: Nill Amaral, Maria Alice, Jô Simão, Íris Comunicação e Arte, Marcos Marques, Adriano Toscano, Câmara Municipal de Campo Grande, Ana Marta (Gráfica Ruy Barbosa), Nélcia Rita, Miti (Graphiq-x), Kelly Garcia, Cristina Medeiros, Mauro Guimarães e Laila Punchério (Circo do Mato) e outros seres sensíveis e solidários.

domingo, 1 de junho de 2008

A culpa é da mulher




Caiu em minhas mãos novamente Textos da Fogueira, de Rose Marie Muraro, feminista e estudiosa das relações assimétricas de gênero. Como é bom relê-la. Vou devorando as palavras, saboreando os conceitos e me deliciando com as linhas e entrelinhas dos seus estudos. E lá vem ela resgatando o Paraíso, Jardim das Delícias, como lembrança arquetípica da antiga harmonia entre o ser humano e a natureza. Paraíso que vai se esvaindo à medida em que o homem começa a dominar a natureza e, depois, vai construindo a cultura patriarcal, submetendo a mulher aos seus domínios. E foi com o patriarcado que o poder se assentou sobre a satanização da sexualidade em nome do sagrado. "Durante os últimos oito mil anos, a cultura ocidental baseou a relação opressor/oprimido na normatização do comportamento ambos, mediante o controle da sexualidade pela moral convencional, a fim de que a insatisfação de homens e mulheres fizesse funcionar o sistema por meio de um trabalho compulsivo e sem recompensa nesta vida", afirma Rose Marie Muraro. É assim que essa feminista vai explicando a satanização da mulher ao longo da história, principalmente, com o cristianismo que passou a concebê-la como instrumento do demônio, fonte do pecado, responsável pela perdição mundana do homem. E essa satanização ganhou contornos ainda mais cruéis nas fogueiras ardentes do inferno da Idade Média, com o genocídio das bruxas. Um dia desses recebi um texto tão medíocre que acabei me lembrando da obra O Malleus Maleficarum, a bíblia dos inquisidores que justificou o assassinato de milhões de mulheres na Inquisição, uma vez que, consideradas bruxas, eram instrumentos do satanás, destruidoras dos lares, hereges, enfim, eram o caminho da perdição masculina desde os tempos de Adão, que se deixou levar pela serpente e mordeu a maçã.
Ah, mas felizmente esses resquícios do patriarcado vêm sendo destruídos graças ao movimento da história, à emancipação da mulher e das etnias oprimidas que vão se deixando seduzir por novas relações sociais e experimentando o doce sabor da igualdade. "E chegou o dia em que o risco de permanecer apertada no botão era mais doloroso que o risco necessário para florir." Anais Nin