segunda-feira, 28 de abril de 2008

Blogagem Coletiva - Dia de Poesia

Foto: Elis Regina Nogueira - Livro Outros Sentidos, de Victor Barone

Hoje, vários blogs no mundo, postaram poesias - alimento necessário para a alma. Pensei em vários poetas e decidi postar mais um poema do Victor Barone, que estará lançando o seu primeiro livro, Outros Sentidos, no próximo dia 05 de junho, Dia do Meio Ambiente, um dia simbólico e que tem tudo a ver com poesia, com verso - esse elo fundamental para integrar o homem e a mulher ao cosmo, ao ethos, à sua morada, à grande casa que é o planeta. O local do lançamento será o Museu de Arte Contemporânea, outro espaço simbólico: museu guarda viva a memória humana, o nosso traço na história, o verbo anunciado, rasgado, registrado...tudo vai acontecer numa noite também simbólica, dia de lua cheia, iluminada, grávida de amor, de palavras doces, amargas, ácidas, expressadas assim como são os versos criativos de Victor.

O outro poema que posto é de Maria Tereza Horta, poeta portuguesa, uma descoberta recente, que me envolve com a sensualidade do sensível, do tácito, do real, do imaginário. Agora, falta você postar o seu poema, deixando os nossos encontros no coreto virtual com ar de recital.


Victor Barone
Os olhos vazios de você
observam meu peito repleto de nada.
E como faca
esta saudade desliza em mim.
Abrindo na pele um livro de sangue.
Meus lábios sedentos de você
observam este mar
que meus olhos encharca.
E como seta
esta ausência se crava em mim.
A lembrar que não há rima
que cure esta falta.


Maria Tereza Horta
Desperta-me de noite

O teu desejo

Na vaga dos teus dedos

Com que vergas

O sono em que me deito

É rede a tua língua

Em sua teia

É vício as palavras

Com que falas

A trégua

A entrega

O disfarce

E lembras os meus ombros

Docemente

Na dobra do lençol que desfazes

Desperta-me de noite

Com o teu corpo

Tiras-me do sono

Onde resvalo

E eu pouco a pouco

Vou repelindo a noite

E tu dentro de mim

Vais descobrindo

8 comentários:

Unknown disse...

BARONEEEEEEEEE...NANCIIIIIIII....LÁ VAI

Fabrício Carpinejar


Você tem medo de se apaixonar. Medo de sofrer o que não está acostumada. Medo de se conhecer e esquecer outra vez. Medo de sacrificar a amizade. Medo de perder a vontade de trabalhar, de aguardar que alguma coisa mude de repente, de alterar o trajeto para apressar encontros.

Medo se o telefone toca, se o telefone não toca. Medo da curiosidade, de ouvir o nome dele em qualquer conversa. Medo de inventar desculpa para se ver livre do medo.



Medo de se sentir observada em excesso, de descobrir que a nudez ainda é pouca perto de um olhar insistente. Não suportar ser olhada com esmero e devoção. Nem os anjos, nem Deus agüentam uma reza por mais de duas horas. Medo de ser engolida como se fosse líquido, de ser beijada como se fosse líquen, de ser tragada como se fosse leve.

Você tem medo de se apaixonar por si mesma logo agora que tinha desistido de sua vida. Medo de enfrentar a infância, o seio que criou para aquecer as mãos quando criança, medo de ser a última a vir para a mesa, a última a voltar da rua, a última a chorar. Você tem medo de se apaixonar e não prever o que pode sumir, o que pode desaparecer.

Medo de se roubar para dar a ele, de ser roubada e pedir de volta. Medo de que ele seja um canalha, medo de que seja um poeta, medo de que seja amoroso, medo de que seja um pilantra, incerta do que realmente quer, talvez todos em um único homem, todos um pouco por dia. Medo do imprevisível que foi planejado. Medo de que ele morda os lábios e prove o seu sangue. Você tem medo de oferecer o lado mais fraco do corpo. O corpo mais lado da fraqueza.

Medo de que ele seja o homem certo na hora errada, a hora certa para o homem errado. Medo de se ultrapassar e se esperar por anos, até que você antes disso e você depois disso possam se coincidir novamente. Medo de largar o tédio, afinal você e o tédio enfim se entendiam. Medo de que ele inspire a violência da posse, a violência do egoísmo, que não queira repartir ele com mais ninguém, nem com seu passado.

Medo de que não queira se repartir com mais ninguém, além dele. Medo de que ele seja melhor do que suas respostas, pior do que as suas dúvidas. Medo de que ele não seja vulgar para escorraçar mas deliciosamente rude para chamar, que ele se vire para não dormir, que ele se acorde ao escutar sua voz. Medo de ser sugada como se fosse pólen, soprada como se fosse brasa, recolhida como se fosse paz. Medo de ser destruída, aniquilada, devastada e não reclamar da beleza das ruínas. Medo de ser antecipada e ficar sem ter o que dizer. Medo de não ser interessante o suficiente para prender sua atenção.

Medo da independência dele, de sua algazarra, de sua facilidade em fazer amigas. Medo de que ele não precise de você. Medo de ser uma brincadeira dele quando fala sério ou que banque o sério quando faz uma brincadeira.Medo do cheiro dos travesseiros. Medo do cheiro das roupas. Medo do cheiro nos cabelos. Medo de não respirar sem recuar. Medo de que o medo de entrar no medo seja maior do que o medo de sair do medo.

Medo de não ser convincente na cama, persuasiva no silêncio, carente no fôlego. Medo de que a alegria seja apreensão, de que o contentamento seja ansiedade. Medo de não soltar as pernas das pernas dele. Medo de soltar as pernas das pernas dele. Medo de convidá-lo a entrar, medo de deixá-lo ir.

Maria-Sem-Vergonha do Cerrado disse...

Uau, Jack!

Maria-Sem-Vergonha do Cerrado disse...

Mais um poema cortante. Uma descoberta recente: Anne Sexton

Noite Estrelada

A cidade não existe
exceto onde uma árvore de negra cabeleira escorre pra cima
como uma mulher afogada no céu quente.
A cidade está silenciosa. A noite ferve com onze estrelas.
Ó noite estrelada! Assim é como
desejo morrer.

Movem-se. Estão todas vivas.
Inclusive a lua em seus ferros alaranjados
para expulsar crianças, como um deus, de seu olho.
A velha serpente invisível engole as estrelas.
Ó noite estrelada! Assim é como
desejo morrer:

dentro dessa impetuosa besta noturna,
sugada por aquele grande dragão,
da minha vida sem bandeira,
sem ventre,
sem choro.

Tradução: Priscila Manhães.

Picolé Frutos do Mato disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Unknown disse...

Nanci que lindo teu psot. "Poesia o alimento para a alma". Lindo demais isso!!! Adorei. Estive fora de Heidelberg, por isso não tinha passando por aqui. Bjks!

Unknown disse...

Nanci você não gosta de linkar os blogs que você visita? Às vezes tenho vontade de visitar os blogs da pessoas que comentam aqui ou que você cita e não consigo...

MARTHA THORMAN VON MADERS disse...

Estas poesias fazem minha cabeça, adoro vir aqui. meu coração agradeçe. È demais.Se tiveres tempo vai até meu blog, tua opinião é importante para mim.Um abraço

Picolé Frutos do Mato disse...

OZ é Lelé apagou mensagem ali acima para ficar mais leve por aqui.