Por kelly GarciaEsse final de semana (ele de novo) fomos agraciados com aquelas compensações de viver a estiagem do planalto central. Enquanto aqueles chegados na poltrona assistiam qualquer coisa na TV, os gatos e gatas vira-latas estavam nos telhados e muros, bem longe olhando a LUA CHEIA, que os 18% de
umidade fazia transbordar o prateado...
Quando olho para a senhora do céu
noturno, lembro da música dos
Paralamas “o céu de Ícaro tem mais poesia que o de Galileu”.
Foram os “
galileus” que disseram ser a lua um satélite natural da terra desprovido de luz própria, um mero
refletor do todo poderoso sol. Cientistas possivelmente acham imbecil qualquer tributo ao céu de lua cheia, vez que nem mesmo tem ela luz própria!
Possivelmente, nos dias de lua cheia os que nunca levantam da poltrona para olhar para o céu, os que não tem vontade de sair, subir no telhado, beijar seu amor, escutar uma música, encostar em algum lugar e o olhar simplesmente olhar, tem sobre si o céu de Galileu.
Já aqueles que se enchem como a lua e não cabem nos
cômodos da casa, são como o sonhador do Ícaro que queria ganhar o céu...ou ainda como a
Jacy a
indiazinha tupi que morreu no rio porque foi atrás da sua lua
refletida na água.
Quando penso em beleza, penso no céu de lua cheia...
disponível, gratuito, generoso, que farta de encanto todos que ainda tem vontade de voar como
Icaro, de se entregar como a
Jacy, ou ainda, que sejam, como eu uma reles gata vira-lata que “sobe no telhado” apenas para olhar e pensar numa linda poesia, como essa do
Altair de Oliveira que tive a sorte de ter como companhia nesse lindo final de semana de lua
gravidamente prateada no céu do cerrado.
HIPÓTESES I
NUNCA MAIS desfazer,
Se uma vez feito,
Uma gota sequer
Do amor-perfeito
E JAMAIS insistir em desistir
Dum instante qualquer
Que intente rir
Ou da busca de algum contentamento.
EVITAR
As estrada mais pisadas,
As tristezas mostradas pra alegrar
E também disfarçar o querer-bem
Ou o tal de “
magôo pro teu bem”
E nem morto
Viver pra
revidar.
ATENTAR contra as forças corrompidas,
Amparadas por leis envelhecidas,
Entretidas em sempre escravizar...
QUESTIONAR sobre pesos e medidas,
Sobre iguais mais iguais,
Favorecidos,
Os que impedem o futuro de chegar.
II
Quando aquilo que sonha não quer vir,
Enfadar de esperar e procurar.
Se o que for lhe bastar, nem existir,
nem seguir se não tem o que buscar.
Sem sentir,
sensatar e desistir.
Permitir que desgraças possam ir
e que graças que passam o façam rir.
Ter prazer e motivos emotivos
pra doer toda vez que acontecer
dum encanto que canta perecer
ou dum riso mais vivo lhe evitar.
Levitar todas quartas, todas terças,
Inventar de saltar por sobre cercas, sobre cárceres e cordas que encontrar.
(Altair de Oliveira – O Embebedário Diverso )
Kelly Garcia – advogada, militante de esquerda e estilista da Maria do Povo