terça-feira, 1 de abril de 2008

Preconceitos contra a Dilma, os gregos e Emir Sader

Foto: Mauro Sérgio Forasteiro

Gosto de viajar no tempo e, com humildade, ouvir e aprender com os diálogos gregos. E nos tempos atuais gosto muito da lucidez de Emir Sader. Conheci-o numa conferência sobre mídia no Fórum Social Mundial, em Porto Alegre. É um intelectual sério e sabe que o cientista social se constrói e reconstrói no ato de fazer ciência. Em 2006, no período eleitoral, Emir reagiu indignado contra a forma preconceituosa que o senador Jorge Bornhausen, liderança expoente do DEM (antigo PFL), referiu-se à esquerda e ao PT. O líder pefelista afirmou a um grupo de empresários, na época, que estaria encantado porque “ficaria livre dessa ‘raça’ (petistas) pelos próximos 30 anos". Em um artigo na Agência Carta Maior, Emir disse que o ato do senador é a forma como “as elites brancas tratam o povo, referindo-se a ‘raça’, ‘corja’, ‘gentalha’, ‘populacho’ e qualificativos dessa ordem".
De forma estranha, o sociólogo foi condenado, em primeira instância, num processo de injúria movido pelo senador. Depois dizem que a justiça é cega.
Hoje, aqui, no Maria-sem-vergonha, enxerguei nas reações de protestos contra o meu post em defesa da ministra Dilma o mesmo preconceito do senador pefelista, porém, de forma muito mais explícita, mais rancorosa. Acrescento a esse preconceito de classe o preconceito de gênero, ou seja, o preconceito sexista, machista. Dilma é a primeira mulher na história da República a ocupar um espaço de poder tão importante. E mais: ela está ao lado do Presidente da República, um operário nordestino, que, desde a sua posse, é vítima dos ataques jocosos das elites brancas, não porque estas tenham um projeto de sociedade que seja antagônico ao do governo atual. Não. Nada disso. Os ataques têm como pano de fundo apenas o comando do aparelho estatal. Elas não admitem ser governadas por um presidente que não tenha estudado no Mackenzie, na Sorbbone, que não tenha tido aula de etiquetas. Elas não suportam que o Brasil tenha um presidente com a cara e cheiro do povo, que use o tom coloquial que todo mundo entende, que use camisa com manga regaçada. Esses que vomitam críticas, não estou incluindo aqui as esquerdas que compõem o PSTU e o PSol (a crítica desse grupo se dá em um outro nível), estou falando das críticas dos partidos da direita, estão disputando na verdade o controle da máquina do Estado. Essa máquina que esteve há 500 anos nas mãos desses grupos, herdeiros políticos dos colonizadores que se revezaram no poder, alternando apenas famílias e descendências geográficas, a exceção, é óbvio, do período do João Goulart, que ao iniciar as reformas que seriam estruturais, foi derrubado pelos militares.
E diante de tantos preconceitos que presenciei hoje no nosso coreto virtual, fui me encontrar com Emir e lá, à luz do conhecimento do cientista, encontrei respostas sábias. Publico abaixo na íntegra o artigo do Emir Sader. Antes, porém recomendo aos que usam as palavras aqui como componentes de vômitos descuidados que aprendam com os gregos o sentido do discurso, do diálogo, ou seja, de saber retirar da capacidade da linguagem as consequências decorrentes dessa superioridade humana sobre todos os animais.
Só deixo registrado que hoje, quarta-feira, e amanhã, quinta-feira, estarei ausente do blog, mas fiquem, como sempre, à vontade para debater, criticar, opinar e propor. Até a volta.

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