segunda-feira, 22 de novembro de 2010

No meio da caminho



No meio do caminho tinha uma pedra
tinha uma pedra no meio do caminho
tinha uma pedra
no meio do caminho tinha uma pedra.
Nunca me esquecerei desse acontecimento
na vida de minhas retinas tão fatigadas.
Nunca me esquecerei que no meio do caminho
tinha uma pedra
tinha uma pedra no meio do caminho
no meio do caminho tinha uma pedra.

Carlos Drummond de Andrade

Sopro divino - O amor cura

Quando o câncer volta é punk. Pauleira mesmo. Muitos apertos no coração. Lágrimas que escorrem. É uma recaída. Algumas pedras no caminho. Mas aquela força que nos moveu no passado recente volta ainda mais intensa. E é essa força, que chamo de sopro divino, que nos empurra pra frente. Uma força extraordinária que faz o meu amor resistir bravamente, mesmo com todos os efeitos da quimioterapia que são devastadores. E lá vou eu de novo pra cozinha, aprender a lidar com os liquidificadores e fazer sucos verdes e sucos do sol, fontes de vida. Agora, com a ajuda solidária e fundamental da amiga Márcia Chiad, estou produzindo na minha horta alguns produtos que uso nos sucos e na nossa alimentação. Tudo orgânico, sem agrotóxico, sem o veneno que aumenta a sede insaciável de lucro do agronegócio e destrói vida humana, destrói a Gaia, os rios, matas e peixes.


Junto com os sucos, alimentação sem farinha branca e sem açúcar, uma vez que o câncer se alimenta de glicose, um prato colorido e vivo de salada crua e brotos, arroz integral, shitake, tofu e outras delícias que vamos aprendendo a fazer e a gostar. O sopro divino está nos alimentos e nas mãos que os tocam com o amor. Todas as vezes em que cozinho, concentro minha energia imaginando que ali está a presença de Deus, a LUZ, a força do Sol, que produz a energia necessária para fortalecer o sistema imunológico do Rica e destruir todas as células doentes...esse amor cura...

domingo, 20 de junho de 2010

domingo, 13 de junho de 2010

Poesia na vida

Renoir - Dance


* Elisa Lucinda - com todo o meu amor para Ricardo

Eu te amo como quem esquece tudo
diante de um beijo:
as inúmeras horas desbeijadas
os terríveis desabraços
os dolorosos desencaixes
que meu corpo sofreu longe do seu.
Elejo sempre o encontro
Ele é o ponto do crochê.
Penélope invertida
nada começo de novo
nada desmancho
nada volto

Teço um novo tecido de amor eterno
a cada olhar seu de afeto
não ligo para nada que doeu.
Só para o que deixou de doer tenho olhos.
Cega do infortúnio
pesco os peixes dos nossos encaixes
pesco as gozadas
as confissões de amor
as palavras fundas de prazer
as esculturas astecas que nos fixam
na história dos dias

sábado, 8 de maio de 2010

Mãe




Amo como ama o amor.
Não conheço nenhuma
outra razão para amar
senão amar.
Que queres que te diga,
além de que te amo,
se o que quero dizer-te é que te amo?

Fernando Pessoa

domingo, 2 de maio de 2010

Fórmula anti-câncer

Aos 31 anos de idade, o Dr. David Servan-Schreiber lutou contra um câncer e teve ainda que enfrentar uma reincidência. Porém, hoje em dia “se delicia com o sabor da vida, feito um jovem” e apresenta a fórmula que, com a sua própria experiência, considera ser apropriada para vencer o câncer.
- Por que cresceram tanto os números de câncer depois do fim da 2a guerra?
- Antes do câncer se tornar a epidemia que hoje conhecemos, como vivíamos e comíamos?
- Diz que uma alimentação saudável é o primeiro passo para equipar o nosso organismo contra esse mal.
- Apresenta uma lista de alimentos bons para cada tipo de câncer, tendo alguns mais cotados como: o alho, a cebola, o alho-poró, a couve-de-bruxelas, couve-flor e o brócolis (excelente fonte de cálcio).
- Usar o açafrão-da-india, pois, este é um poderoso anti-inflamatório natural que deve ser misturado com a pimenta para fazer efeito. Uma simples receita de um molho com o açafrão, azeite de oliva e pimenta preta que pode ser usado no tempero das saladas é uma poderosa dica do mestre vencedor.
- Enfatiza que fortalecer o seu corpo vai seguramente estimular o a sua capacidade (imunidade) para resistir ao câncer.
fonte: www.motivaco.org

terça-feira, 27 de abril de 2010

As Sem-razões do Amor




Para Ricardo,
meu amor, meu amante, meu companheiro, minha fonte de poesia, com todas as nuances da paixão, seus tons quentes e frios, seus sabores doces e ácidos, seu calor e seu frio, sua mansidão e imensidão...hoje, faz 20 anos que dividimos a mesma casa, o mesmo quarto, a mesma cama e desejos tão diversos e plurais... a nossa história não pode ser contada no singular.

Carlos Drummond de Andrade

Eu te amo porque te amo.
Não precisas ser amante,
e nem sempre sabes sê-lo.
Eu te amo porque te amo.
Amor é estado de graça
e com amor não se paga.
Amor é dado de graça,
é semeado no vento,
na cachoeira, no eclipse.
Amor foge a dicionários
e a regulamentos vários.
Eu te amo porque não amo
bastante ou demais a mim.
Porque amor não se troca,
não se conjuga nem se ama.
Porque amor é amor a nada,
feliz e forte em si mesmo.
Amor é primo da morte,
e da morte vencedor,
por mais que o matem (e matam)
a cada instante de amor

sábado, 24 de abril de 2010

Canção Tonta


Frederico Garcia Lorca

Mama.
Eu quero ser de prata.
Filho,
Terás muito frio.
Mama,
eu quero ser de água.
Filho,
Terás muito frio.
Mama.
Borda-me em teu travesseiro.
Isso sim!
Agora mesmo!

quinta-feira, 22 de abril de 2010

O câncer não é o fim. Pode ser um novo começo.


“Só existem dois dias no ano que nada pode ser feito. Um se chama ontem e o outro se chama amanhã, portanto, hoje é o dia certo para amar, acreditar, fazer e, principalmente, viver.”
Este ensinamento do Dalai Lama é precioso e tem me ajudado a mudar a forma ocidental de ver o mundo.
Quando recebemos no dia 20 de março do ano passado o diagnóstico do câncer, o chão tremeu, a luz sumiu e um medo gigante passou a me devorar. Ali, no Hospital, parecia que não havia mais vida no horizonte. A boca seca, as lágrimas amargas, o coração batendo igual tambor...parecia que era o fim.
Grande engano. Ao mesmo tempo em que o sol sumia, uma pequena chama ia surgindo naquele labirinto escuro. Me agarrei àquele feixe de luz como uma criança se agarra à mãe com medo de perdê-la. E daquele dia em diante passei a acreditar que “o amor cura” e cura mesmo. E vou repetindo isso como um mantra tibetano.
Ao invés de fugir dessa doença que levou meu pai, avós, tios, amigos e, a partir daquele dia, poderia levar o meu amor, decidi enfrentá-la. Fui aprendendo que para combatê-la é preciso conhecê-la, desmistificá-la. Aí, ao invés do fim, tivemos a chance de viver um novo começo. E um novo começo deve ser feito com novos valores, novas lições, como esta também do Dalai Lama: "Os homens perdem a saúde para juntar dinheiro, depois perdem o dinheiro para recuperar a saúde. E por pensarem ansiosamente no futuro esquecem do presente de forma que acabam por não viver nem no presente nem no futuro. E vivem como se nunca fossem morrer... e morrem como se nunca tivessem vivido".

quarta-feira, 21 de abril de 2010

Ressurgindo, como flor de lótus



Tenho me recolhido há mais de um ano, como uma lagarta que vai tecendo o seu próprio casulo para um dia experimentar a liberdade do voo. Passei tempos difíceis, com o coração apertado, espremido, contorcido, aprendendo as lições que poderiam me levar para a Luz. Na sabedoria budista, aprendemos que a flor de lótus cresce da escuridão do lodo, emergindo da profundidade sombria em direção à luz. Ela é a síntese da escuridão e da luz, do material e do imaterial, por isso não é maniqueísta, não é dual, não é a mera negação, traz em si a força da superação. Apesar de suas raízes habitarem a profundidade escura das águas do pântano, ela tem a capacidade de alcançar a iluminação e de trazer as cores da transformação. Por isso, é dialética.

Foi assim, buscando superar a ignorância, a escuridão e o medo, que fui aprendendo um novo caminho e conseguindo a força necessária para enfrentar a mais dura das batalhas: um câncer altamente agressivo que acometeu o meu amor, o meu companheiro, o meu parceiro. Estamos aprendendo que a semente da iluminação está sempre presente no mundo, apesar da dor.

quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

Pense no Haiti - Reze pelo Haiti

Menina haitiana
(Foto - Washington Post)
Criança
Cabecinha boa de menino triste,
de menino triste que sofre sozinho,
que sozinho sofre, — e resiste,
Cabecinha boa de menino ausente,
que de sofrer tanto se fez pensativo,
e não sabe mais o que sente...
Cabecinha boa de menino mudo que não teve nada,
que não pediu nada,
pelo medo de perder tudo.
Cabecinha boa de menino santo
que do alto se inclina sobre a água do mundo
para mirar seu desencanto.
Para ver passar numa onda lenta e fria
a estrela perdida da felicidade
que soube que não possuiria.
Cecília Meireles, in 'Viagem'

terça-feira, 12 de janeiro de 2010

Te quiero (para Ricardo)




*Mario Benedetti


Tus manos son mi caricia,
mis acordes cotidianos;
te quiero porque tus manos
trabajan por la justicia.


Si te quiero es porque sos
mi amor, mi cómplice, y todo.
Y en la calle codo a codo
somos mucho más que dos.


Tus ojos son mi conjuro
contra la mala jornada;
te quiero por tu mirada
que mira y siembra futuro.


Tu boca que es tuya y mía,
Tu boca no se equivoca;
te quiero por que tu boca
sabe gritar rebeldía.


Si te quiero es porque sos
mi amor mi cómplice y todo.
Y en la calle codo a codo
somos mucho más que dos.


Y por tu rostro sincero.
Y tu paso vagabundo.
Y tu llanto por el mundo.
Porque sos pueblo te quiero.


Y porque amor no es aurora,
ni cándida moraleja,
y porque somos pareja
que sabe que no está sola.


Te quiero en mi paraíso;
es decir, que en mi país
la gente vive feliz
aunque no tenga permiso.


Si te quiero es por que sos
mi amor, mi cómplice y todo.
Y en la calle codo a codo
somos mucho más que dos.

*poeta, escritor e ensaísta uruguaio