terça-feira, 27 de abril de 2010

As Sem-razões do Amor




Para Ricardo,
meu amor, meu amante, meu companheiro, minha fonte de poesia, com todas as nuances da paixão, seus tons quentes e frios, seus sabores doces e ácidos, seu calor e seu frio, sua mansidão e imensidão...hoje, faz 20 anos que dividimos a mesma casa, o mesmo quarto, a mesma cama e desejos tão diversos e plurais... a nossa história não pode ser contada no singular.

Carlos Drummond de Andrade

Eu te amo porque te amo.
Não precisas ser amante,
e nem sempre sabes sê-lo.
Eu te amo porque te amo.
Amor é estado de graça
e com amor não se paga.
Amor é dado de graça,
é semeado no vento,
na cachoeira, no eclipse.
Amor foge a dicionários
e a regulamentos vários.
Eu te amo porque não amo
bastante ou demais a mim.
Porque amor não se troca,
não se conjuga nem se ama.
Porque amor é amor a nada,
feliz e forte em si mesmo.
Amor é primo da morte,
e da morte vencedor,
por mais que o matem (e matam)
a cada instante de amor

sábado, 24 de abril de 2010

Canção Tonta


Frederico Garcia Lorca

Mama.
Eu quero ser de prata.
Filho,
Terás muito frio.
Mama,
eu quero ser de água.
Filho,
Terás muito frio.
Mama.
Borda-me em teu travesseiro.
Isso sim!
Agora mesmo!

quinta-feira, 22 de abril de 2010

O câncer não é o fim. Pode ser um novo começo.


“Só existem dois dias no ano que nada pode ser feito. Um se chama ontem e o outro se chama amanhã, portanto, hoje é o dia certo para amar, acreditar, fazer e, principalmente, viver.”
Este ensinamento do Dalai Lama é precioso e tem me ajudado a mudar a forma ocidental de ver o mundo.
Quando recebemos no dia 20 de março do ano passado o diagnóstico do câncer, o chão tremeu, a luz sumiu e um medo gigante passou a me devorar. Ali, no Hospital, parecia que não havia mais vida no horizonte. A boca seca, as lágrimas amargas, o coração batendo igual tambor...parecia que era o fim.
Grande engano. Ao mesmo tempo em que o sol sumia, uma pequena chama ia surgindo naquele labirinto escuro. Me agarrei àquele feixe de luz como uma criança se agarra à mãe com medo de perdê-la. E daquele dia em diante passei a acreditar que “o amor cura” e cura mesmo. E vou repetindo isso como um mantra tibetano.
Ao invés de fugir dessa doença que levou meu pai, avós, tios, amigos e, a partir daquele dia, poderia levar o meu amor, decidi enfrentá-la. Fui aprendendo que para combatê-la é preciso conhecê-la, desmistificá-la. Aí, ao invés do fim, tivemos a chance de viver um novo começo. E um novo começo deve ser feito com novos valores, novas lições, como esta também do Dalai Lama: "Os homens perdem a saúde para juntar dinheiro, depois perdem o dinheiro para recuperar a saúde. E por pensarem ansiosamente no futuro esquecem do presente de forma que acabam por não viver nem no presente nem no futuro. E vivem como se nunca fossem morrer... e morrem como se nunca tivessem vivido".

quarta-feira, 21 de abril de 2010

Ressurgindo, como flor de lótus



Tenho me recolhido há mais de um ano, como uma lagarta que vai tecendo o seu próprio casulo para um dia experimentar a liberdade do voo. Passei tempos difíceis, com o coração apertado, espremido, contorcido, aprendendo as lições que poderiam me levar para a Luz. Na sabedoria budista, aprendemos que a flor de lótus cresce da escuridão do lodo, emergindo da profundidade sombria em direção à luz. Ela é a síntese da escuridão e da luz, do material e do imaterial, por isso não é maniqueísta, não é dual, não é a mera negação, traz em si a força da superação. Apesar de suas raízes habitarem a profundidade escura das águas do pântano, ela tem a capacidade de alcançar a iluminação e de trazer as cores da transformação. Por isso, é dialética.

Foi assim, buscando superar a ignorância, a escuridão e o medo, que fui aprendendo um novo caminho e conseguindo a força necessária para enfrentar a mais dura das batalhas: um câncer altamente agressivo que acometeu o meu amor, o meu companheiro, o meu parceiro. Estamos aprendendo que a semente da iluminação está sempre presente no mundo, apesar da dor.