terça-feira, 8 de abril de 2008

A cada 12 dias um índio morre vítima de suicídio em Mato Grosso do Sul

Foto: Egon - CIMI

Mais um jovem guarani faz o ritual da morte . Uma morte que tem um significado singular, que, muitas vezes, a nossa estupidez egoísta não consegue entender. O seu suicídio não é diferente de muitos outros: enforcamento no nascer do dia - o jejuvy, que na língua dos Guarani tem uma carga semântica própria, significa aperto na garganta, voz aniquilada, impossibilidade de dizer, palavra sufocada, alma presa. A morte de Justino não pode ser vista apenas mais como um número. É uma morte para não morrer, é um grito que mesmo sufocado por uma cinta deve chegar até as nossas consciências surdas. No texto abaixo, a jornalista Jacqueline Lopes, bisneta de índia guarani, faz com as palavras um retrato da complexa situação dos povos indígenas de Mato Grosso do Sul. A falta de terra, os choques culturais e ausência de políticas públicas agravam a o abandono da segunda maior população índigena do País e demonstram a debilidade do governo Lula na resolução dos problemas.

* por Jacqueline Lopes
O kaiowá Justino da Silva, de 22 anos, foi mais uma vítima de suicídio em Mato Grosso do Sul. Às 6 horas de ontem, Celina Gomes encontrou o filho enforcado com uma cinta. O corpo estava dependurado na madeira que atravessa a cobertura da casinha de sapê, na aldeia Taquaperi, em Coronel Sapucaia, a 383 quilômetros da Capital.
Segundo noticiou o Midiamax, neste ano já são oito casos de suicídio indígena. A média é de uma morte a cada 12 dias. As vítimas, jovens índios na faixa etária entre 14 e 35 anos.
No caso registrado em Coronel Sapucaia, após ver o filho morto, a mãe cortou com a faca o couro do cinto e colocou o filho no chão.
Silva morava sozinho na casa. O pai dele, Quirino da Silva, disse aos investigadores de Coronel Sapucaia que o filho tinha ingerido bebido alcoólica na noite anterior. Ele atribuiu à embriaguez a tragédia.
No dia 10 de janeiro foi registrado o primeiro caso de suicídio este ano em Mato Grosso do Sul. E.B.S., 17 anos, foi encontrado enforcado com um cinto numa árvore próxima à sua residência, na aldeia Bororó, na reserva indígena de Dourados. O corpo foi encontrado pelo pai da vítima, Jorge Batista, 39 anos.
Cinco dias depois o corpo de Nilton Rodrigues, de 18 anos, foi encontrado por familiares pendurado a uma laranjeira, no quintal da residência deles em Novo Horizonte do Sul. O indígena usou uma camiseta para cometer o suicídio. Ele era da etnia kaiowá.
Saúde Pública
Dados da Funasa mostram que, em 2007, ocorreram 42 casos de suicídios entre indígenas no Estado. Suicídios são tratados pela Fundação como questão de saúde pública. Apenas na reserva indígena de Dourados, foram 13 casos de suicídio no ano passado (até 22 de dezembro de 2007).
Para o gerente do Projeto Vigisus II, da Funasa (Fundação Nacional de Saúde), Carlos Coloma, há uma coexistência de problemas, “uma série de dificuldades, uma grande perda de território, uma grande restrição de mobilidade da população que é tradicionalmente nômade, uma grande ruptura entre as gerações, com uma consequente quebra de valores, de modos de vida, que em geral significa crise. Além da crise da adolescência, uma crise de valores culturais”.
No dia 13 de março no município de Eldorado, o guarani-kaiowá Valdir Fernandes, de 18 anos, foi encontrado morto. Ele estava enforcado numa corda dependurado sentado perto da porta no barraco de sapê. Embora haja a suspeita de suicídio, o caso foi registrado como homicídio.
Outra vítima do suicídio, João Vasques, de 20 anos, guarani-caiuá, morreu no dia 21 de fevereiro, na aldeia Amambaí, a cerca a cerca de 5 quilômetros da área urbana do município. Segundo informações da polícia, o jovem teria amarrado uma corda em um galho de um árvore, onde se enforcou. Ele foi encontrado pelos familiares.
Limite
Para indigenistas, o choque cultural aliado à falta de perspectivas e o confinamento das populações em pequenas áreas são ingredientes trágicos.
Um dos episódios mais agressivos noticiados pelo Midiamax aconteceu no dia 20 de fevereiro no município de Paranhos, na aldeia Protero Guassu – que em guarani significa lugar bem grande. O guarani Ronei Benites, de 14 anos, e seu pai, o cortador de cana Cecílio Benites, de 35 anos, foram vítimas de suicídio. O crime marcou a cidade de 10,7 mil habitantes.
Sem o consentimento para comprar o material para encapar os cadernos, porque a mãe e o pai não tinha dinheiro, o jovem adolescente tomado pela raiva, pegou a espingarda do pai e atirou contra si. O tiro no abdômen fez a bala atravessar todo seu peito até sair pelo pescoço. O pai, em ato de desespero pegou a espingarda, trocou o cartucho e atirou contra si no pescoço morrendo também ao lado do filho mais velho na pequena casa da aldeia onde moravam com a família de seis crianças – 12, 9, 6, 5, 3 e 1 ano de idade.
Definir o limite do choque cultural e a morte para os índios talvez possa ser expressado pelo o que disse o professor indígena, tio do adolescente. “Ele era bem estudioso, participativo nas aulas. Para ele fazer o que fez devia ter sentido muita tristeza”.
Álcool
Em 12 de fevereiro de 2008, outro jovem guarani comete suicídio seis meses após o irmão dele tirar a vida da mesma forma. Em ambos os casos a embriaguez surge como parte do cenário. A Legislação proíbe a venda de bebidas alcoólicas aos indígenas.
Na Aldeia Bororó, na Reserva Indígena de Dourados, dona da maior concentração guarani de Mato Grosso do Sul, Nilson Romeiro Lopes, de 16 anos foi encontrado enforcado por uma corda dependurado em uma árvore próxima a casa da família.
O irmão de Nilson, Vanilton Romeiro Lopes, 21, se matou em setembro de 2007.
Nebulosidade
No dia 20 de janeiro, a Agência Brasil trouxe a notícia “Suicídio e alcoolismo entre jovens de Mato Grosso do Sul levam indígenas ao debate”. Nela, o gerente do Projeto Vigisus II, da Funasa, Carlos Coloma, considerou nebulosa a causa das mortes violentas entre jovens, a maioria guarani. “Como a cultura indígena é intensamente espiritualizada, para tentar compreender o suicídio entre eles, teríamos que falar sobre a crença nos espíritos e como eles são afetados por essas entidades.”
Coloma disse que o jovem indígena, assim como os de outras comunidades, enfrenta uma série de problemas e necessita de apoio. O desconhecimento e a falta de estatísticas e informações sobre o fenômeno do suicídio não podem ser, de acordo com ele, impedimentos para que agentes públicos, comunidades e famílias atuem para mudar a realidade colocada.
Um exemplo da falta de dados precisos é o trazido pela CPI da Subnutrição em audiência ocorrida no fim de março em Dourados e Campo Grande. Os parlamentares apontaram 39 suicídios no ano passado. A Funasa traz 42 mortes, de acordo com matérias já publicadas.
Sentimentos
“Nós acreditamos que, ainda que continuemos não conhecendo melhor a arquitetura, como se cria esse processo, essa vontade de morrer, de se matar, é preciso apoiar os jovens das comunidades indígenas onde se verifica grande número de mortes”, afirmou conforme noticiou o Midiamax.
É preciso evitar que os jovens indígenas se sintam sozinhos, pois eles necessitam de alguém com quem conversar, falar de seus sentimentos, de seus problemas, de suas preocupações, diz.
“São tão intensos alguns sentimentos, como por exemplo, a vergonha que pode levá-los a se matar diante um vexame público, uma humilhação. Essa reação é pouco comum em outras culturas, mas na indígena é muito significativa”. (Com informações da Agência Brasil)


* Jacqueline Lopes é jornalista do Midiamax

11 comentários:

Unknown disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Unknown disse...

sempre pensei que o território brasileiro é de direito dos índios que aqui viviam na época do descobrimento.
há poucos dias li, no le monde (sua indicação)
http://diplo.uol.com.br/2008-02,a2168

..."Os suicídios (jejuvy) são efetuados basicamente por enforcamento (método antigo) e ingestão de venenos das monoculturas (método novo). Rejeita-se a “poluição” como derramamento de sangue ou cortes físicos, para que não se perca a palavra. Muitos guaranis consideram o suicídio uma doença produzida pela prisão da palavra (alma). É pela boca que a palavra se liberta. Se não há lugar para a palavra, não há vida. Por isso, na hora de morrer, não deve ser utilizado o corte contra si mesmo, pois a palavra se dispersaria. Sufocando-a, ela permaneceria como um aglomerado de energia e poderia voltar a vingar em algum outro momento..."
bom ler texto na íntegra, pois há vários outros pontos importantes.
ninguém escuta nem entende o grito dos índios.

Unknown disse...

Miti, a gente não pode deixar de registrar isso tudo né? Na correria do dia-a-dia tem que marcar em cima...é uma vergonha principalmente para um País rico em terras como o nosso. Muito forte a explicação sobre o enforcamento. Jacqueline Lopes

Unknown disse...

sim, jackeline (é a jack que eu conheço?) suas informações são chocantes e deprimentes, de chorar, de impotência. no geral, os povos indígenas são injustiçados. um ou outro vai falar do índio alcóolatra, desumano, desonesto, mas é o extermínio de uma nação que estamos vivenciando, calados, ou com palavras igualmente sufocadas.

Maria-Sem-Vergonha do Cerrado disse...

Sim, Mi, é a Jack, flor pantaneira, menina índia que escreveu a reportagem. Ela faz a diferença no jornalismo com esse olhar humano. A reportagem dela também me fez chorar. Sabemos que a situação não é simples, mas a questão central continua sendo a terra. Os índios estão confinados em seus pequenos espaços, cercados pela monocultura. O governo Lula tinha a obrigação de pautar com prioridade a demarcação das terras indígenas. Mas isso não está na agenda do governo federal. É vergonhoso.

Maria-Sem-Vergonha do Cerrado disse...

Miti e Jack, para mim, uma das fontes mais respeitadas na área indígena é a do CIMI. fui buscar lá uma avaliação sobre a questão indígena no governo Lula e olhem o que eu encontrei.
"O ano de 2007 foi marcado conjunturalmente pelo anúncio do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento), que nada mais é do que um amontoado de obras de infra-estrutura e de grandes investimentos agroindustriais da iniciativa privada, com financiamento de recursos públicos. No entanto, este programa serve como uma espécie de chapéu, que faz sombra aos pés de barro das estruturas nas quais estão alicerçadas as políticas públicas direcionadas para a população brasileira que, na sua ampla maioria, é composta de gente que vive abaixo da linha da pobreza. A fórmula de “aceleração” do crescimento parece ser essa: investimentos volumosos em obras que asseguram lucratividade a grandes aglomerados financeiros e um conjunto de ações compensatórias (bolsa escola, bolsa família) para diminuir o impacto causado pela falta de políticas sérias e voltadas para a população.

O foco das obras do PAC não é a população empobrecida, não são aqueles que dependem de assistência pública em saúde, educação, habitação, seguridade social, que deveriam ser entendidas como direito social e não como mercadoria ou produto de consumo. O PAC está direcionado para favorecer setores da agroindústria, dos agro-combustíveis; os setores que pretendem explorar a energia hidráulica (hidrelétricas); o latifúndio da soja, da cana, do gado; a indústria de celulose, como Aracruz e a Votorantim; os grandes bancos como Bradesco, Itaú, HSBC, os que cada vez lucram mais no país. Expandir investimentos, assegurar infra-estrutura para acelerar o crescimento tornou-se quase uma “lei universal” e, para tanto, não são questionados os caminhos e nem mesmo os impactos sociais, ambientais, econômicos e políticos que estas ações irão provocar.

Além dos incentivos às empresas que praticam o plantio (em larga escala) do eucalipto, do pinos e da cana-de-açucar, promovendo um verdadeiro “deserto verde” em amplas regiões do sul, sudeste e centro-oeste do país, o governo está agora oficializando a privatização das florestas na Amazônia, entregando-as para a exploração de grandes madeireiras. O argumento é de que esta exploração será feita através de planos de manejo auto-sustentáveis. De saída, poderíamos indagar sobre as estruturas que o governo pretende colocar a serviço desse controle e manejo, ou será que devemos confiar no bom senso e na consciência ambiental de empresas que visam acima de qualquer coisa, assegurar os próprios lucros e os de seus acionistas? Nestas florestas habitam diversos povos indígenas, alguns deles vivendo em situação de isolamento, devendo, portanto, ser protegidos pelo governo. Suas vidas são inegavelmente ameaçadas pelo avanço descomunal da exploração madeireira, que está sendo oficializada pelo Ministério do Meio Ambiente.

O que isso tem a ver com a política indigenista do governo Lula? Vale lembrar que o Conselho Indigenista Missionário divulgou recentemente um balanço da política indigenista em 2007. Neste balanço, o Cimi aponta os graves problemas que afetam os povos indígenas e todos estão diretamente relacionados ao PAC. O primeiro diz respeito à questão fundiária: existe uma completa paralisação nos procedimentos de demarcação e desintrusão das terras indígenas, tendência que se observa desde o início do primeiro mandato do presidente Lula, e que se intensifica agora, porque muitos dos investimentos do PAC incidem sobre essas terras de norte a sul do país. Diante disso, o governo se omite, negligencia e descumpre o que determina a Constituição Federal e deixa de aplicar os recursos que deveriam ser destinados à demarcação, proteção e fiscalização das áreas indígenas. No ano de 2007 o investimento federal, no que tange a esta demanda, foi quase zero. Some-se a isso o fato da Funai estar completamente sucateada em termos de infra-estrutura e de pessoal qualificado para o exercício das obrigações administrativas, técnicas e de execução de serviços junto às comunidades indígenas.

O segundo grave problema é a violência que tem assolado dramaticamente os povos indígenas. Neste ano, até o final do mês de novembro, foram assassinadas 61 pessoas e somente no Mato Grosso do Sul foram mortas 38, sem contar as tentativas de assassinatos, as agressões, o confinamento em pequenos acampamentos na beira de estradas, ou no interior de fazendas. E ainda há de se destacar a exploração da mão de obra indígena nos canaviais onde, recentemente um grupo móvel de fiscalização de trabalho escravo encontrou 820 indígenas que trabalhavam em situação degradante, nas propriedades da Companhia Brasileira de Açúcar e Álcool (Agrisul, CBAA e Usina Debrasa). No que se refere à Debrasa, o programa “Globo Rural” da Rede Globo fez propaganda como sendo modelo de empreendimento. Depois se confirmou que a propaganda era enganosa porque nesta usina, os índios não são tratados como cidadãos.

O terceiro problema diz respeito à própria política indigenista, que deveria estar amparada numa legislação que assegure a ampla participação indígena nas discussões, planejamento e execução dos serviços. Para isso, é necessária a aprovação do Estatuto dos Povos Indígenas, que se encontra engavetado no Congresso Nacional desde 1994. A principal razão para que o Estatuto não seja colocado em votação parece ser a opção preferencial que a casa legislativa insiste em manter pelos setores que têm interesses na exploração das terras indígenas, tais como as madeireiras, mineradoras, latifundiários da soja, cana, eucalipto e gado. Os povos indígenas, na ótica dos referidos segmentos, devem ser tratados como empecilhos e/ou como penduricalhos (expressão do presidente da República) a serem removidos pelo poder público e não como sujeitos merecedores de garantias constitucionais.

Com essa concepção em curso, as terras indígenas ficam vulneráveis a aprovação de legislações específicas ou grandes projetos que permitem atividades e ações meramente exploratórias e sem compromisso com a preservação da vida, da natureza e dos direitos dos povos que milenarmente ocupam o território brasileiro. Grave exemplo disso é o que vem acontecendo na região nordeste com a implantação do projeto de transposição do Rio São Francisco. A transposição afronta a legislação ambiental, porque causará impactos irreversíveis ao meio ambiente, afeta a legislação indigenista porque desrespeita a Constituição Federal em seu artigo 231, no qual se determina que as obras planejadas sobre terras indígenas precisam de uma regulamentação especial, além do consentimento do Congresso Nacional e ouvidas as comunidades indígenas. É necessário considerar, principalmente, que a transposição do Rio São Francisco afeta diretamente a vida e os interesses das populações ribeirinhas, das comunidades pobres que dependem dele para a sua subsistência e dos povos indígenas que mantém vínculos históricos, místicos, sagrados e cotidianos com o Rio.

O quarto problema que afeta diretamente a vida dos povos indígenas relaciona-se à política de atenção á saúde. A terceirização e municipalização das ações e serviços na assistência às comunidades é uma afronta a Lei Arouca (Lei 9.836/99) que define pela implementação de um Subsistema de Atenção a Saúde Indígena, tendo por base os Distritos Sanitários Especiais com autonomia administrativa e financeira. O Subsistema deve estar intrinsecamente ligado ao SUS e que seja gestionado por uma Secretaria Especial vinculada ao Ministério da Saúde, mas com responsabilidade exclusiva pela saúde indígena. Ao contrário disso, o governo insiste em manter convênios terceirizados com ONG’s e prefeituras causando descontentamento nas comunidades indígenas, causando danos administrativos, financeiros e de acompanhamento as necessidades e anseios dos povos indígenas e, acima de tudo, impedindo a efetiva participação destes povos no controle, planejamento e execução dos serviços. Registram-se, em função disso, o alastramento de doenças como hepatite, malária, tuberculose, parasitoses, desnutrição e mortalidade infantil.

Os povos indígenas e as entidades indigenistas propuseram ao governo a criação de um Conselho Nacional de Política Indigenista, mas a proposta foi rejeitada. Em seu lugar, depois de muita pressão do movimento indígena, foi constituída a CNPI (Comissão Nacional de Política Indigenista) que acaba por ter um caráter meramente de discussão e debates. Tanto é assim que, no que se refere à saúde indígena, o Ministério da Saúde emitiu a Portaria de número 2656/2007 sem que o assunto fosse discutido na CNPI. Outro aspecto que demonstra a falta de compromisso do atual governo com a CNPI é o fato de sua base de sustentação no Congresso Nacional ter instalado uma Comissão Especial para discutir o projeto de mineração em terras indígenas, (o PL 1610/96 do senador Romero Jucá) sendo que havia um acordo na CNPI de que esta matéria seria remetida à discussão na proposta de Estatuto dos Povos Indígenas.

Diante de todas essas questões podemos concluir que o atual governo não tem interesse em se indispor com os segmentos que ele considera estratégicos para a sua sustentação enquanto governo, nem com os grupos econômicos que vislumbram grandes rentabilidades financeiras com a política brasileira. Portanto, nesta conjunção de forças entre o capital e o social, os povos indígenas não passam de retórica (em discursos esporádicos) para agradar a alguns segmentos internacionais preocupados com a defesa dos Direitos Humanos no Brasil.

Porto Alegre (RS), 27 de novembro de 2007

Roberto Antonio Liebgott
Vice-Presidente do Cimi

Unknown disse...

jack ...excelente texto...tenho sentido nos últimos tempos o aumento do sentimento de banalidade perante aumento da violência nas aldeias o aumento do uso do alcool, sei que basicamente a vida dos guaranis está ligada a terra, se permanecer sem a terra para os povos indígenas será um caminho de morte.

Unknown disse...

Essa análise do CIMI traduz nossa bronca com as questões "esquecidas" pelo governo.
os pontos que incomodam. não adianta falar dos anteriores, o importante é o que se faz hoje. muitas coisas boas podem ter sido feitas, e não estamos reclamando de barriga cheia, porque questões essenciais não podem ser deixadas de lado. não queremos projetos bonitinhos no papel pro mundo ver, queremos resultados, mudanças, revoluções. são questões urgentes, em estágio terminal. queremos o novo mundo prometido.

Unknown disse...

buscando o CIMI encontrei:

"28/03/2008 - 10:59 - Falta de água provoca doença em terra indígena no Mato Grosso do Sul

No momento em que a CPI que investiga a subnutrição e a mortalidade de crianças indígenas nas aldeias de Mato Grosso do Sul visita a reserva de Dourados, os moradores da terra indígena Potrero Guasu, localizada no município de Paranhos denunciam a gravíssima situação em que se encontram.

Há 5 anos, a comunidade reclama da quase total falta de água no local. Segundo suas lideranças, em maio do ano passado, a Fundação Nacional de Saúde (Funasa) furou dois poços artesianos no local para resolver o problema, mas até hoje estes poços não funcionam, estão vazios.

Os professores denunciam que a água que saía dos bebedouros da escola tinha forte cheiro e coloração marrom e que faltava água na cozinha para preparação dos alimentos e nos banheiros para a higiene. Relatam ainda, que a falta d´agua têm resultado em inúmeros casos de doença de pele entre os alunos e que tem agravado também o problema de desnutrição, sobre tudo entre as crianças.

Há suspeitas de que o problema da falta d´agua esteja relacionado a interesses antiindígenas sobre a área. A Funasa argumenta que as bombas de água não foram instaladas por falta de dinheiro que deveria chegar via Programa de Aceleração do Crescimento."

será possível mesmo que a ganância seja capaz de utilizar todas essas formas de extermínio?

Maria-Sem-Vergonha do Cerrado disse...

Publico abaixo o texto enviado pela jornalista Sandra Luz, jornalista do Campo Grande News,outra profissional que escreve com o olhar humano e com a ética do cidadão, como nos ensina Claudio Abramo. Sandra tentou postar aqui, mas não conseguiu. É, Sandrinha, só nos resta, pelo menos, escrever, escrever, escrever...


"Há cerca de uma semana eu fiquei afônica. Como tenho rinite alérgica, do nada, perdi a voz. Foi um fim de semana inteiro assim. No começo, meu filho, de 7 anos, dava gargalhadas tentando advinhar minhas vontades. Meu marido também achou divertido brincar de não entender o que eu queria. Mas logo a coisa ficou sem graça. Perder a voz por um fim de semana não foi uma boa experiência.

Não sei como deve ser perder a voz por uma vida toda, por gerações inteiras. Assisto ao suicídio dos guarani de forma desconfortável. A impressão que tenho é que na tradução dos números há algo mais que realmente não chega à imprensa, à população, aos indígenas.



Calar a própria voz usando amarras na garganta é a forma de traduzir o desepero de nações que morrem a conta gotas. As crianças, desprovidas de vida plena ainda no ventre da mãe, nascem desnutridas. Os jovens e adultos assistem a própria morte, quase sempre prematuras. Quando estudei sobre suicídios indígenas fiquei intrigada.



O simbolismo da ação merece respeito, consideração. Mas estas são características que passam distante de gabinetes, de discussões politiqueiras, do futebol dos poderosos e da cotação da soja cultivada em solo indígena.

A nós, nós que podemos ainda escrever um pouco sobre isso nos resta escrever. Nos resta a intriga, nos resta a indignação. Nos restam pessoas como a Jacqueline Lopes e tantos outros que enxergam além da corda no pescoço".

Unknown disse...

Oie, vi teu comentário no blog da Denise, e gostei. Vim te conhecer e saber quem apoia a causa. Eu li essas notícias todas, sexta, recebi um catatau de notícias por conta da divulgação do relatório do CIMI, ainda quero resumir e publicar no blog. Bom domingo para você.