sábado, 29 de março de 2008

Um arco-íris contra a homofobia e frangmentos de Virgínia Woolf


Estou participando da criação de uma campanha publicitária contra a homofobia. Se por um lado o movimento gay e seus importantes parceiros conseguiram, com suas paradas, debates e iniciativas corajosas, enfrentar preconceitos, por outro há reações homofóbicas crescentes, principalmente por líderes religiosos pentecostais que sempre associam a homossexualidade a doenças e a práticas criminosas. Além da violência física, há a violência psicológica tão cruel quanto a bofetada.
O desenvolvimento da campanha contra o preconceito e a discriminação é um trabalho voluntário que me faz sentir mais gente, mais útil à vida, numa época em que a descrença e a frustração com as produções de comunicação têm marcado a minha existência. O marketing político está um nojo. Aliás, depois do episódio do Duda Mendonça, com a sua fábrica de ganhar dinheiro e vender políticos como se fossem sabão em pó - "pura limpeza" - tenho ficado cada vez mais distante disso. E o Duda está de volta e parece que vai prestar consultoria até para a Luzianne Lins, prefeita de Fortaleza (PT). Até ela, que se elegeu com uma campanha militante belíssima, contra tudo e contra todos, inclusive sem o apoio de Lula e do PT do Ceará, que conspiraram contra a candidata petista por causa do acordo com o Ciro Gomes - até ela parece se render ao poder do mágico das rinhas de galos. O jornalismo prossegue com seu pedantismo e, em alguns casos, conforme mostrou o Luis Nassif, com o mau-caratismo, cujo maior exemplo é a revista Veja. A publicidade, ora traz o sonho de consumo embalados nos carrões em alta velocidade, ora nas mulheres semi-nuas servidas nas bandejas de cerveja, ora traz os bons mocinhos fazendo as propaganda dos bancos como o símbolo mais puro da responsabilidade sócio-ambiental. É de gargalhar. Banco salvando o planeta, salvando a vida. Os lucros do capital financeiro no nosso país, um dos mais desiguais do planeta, é um escândalo, é um atentado contra a dignidade humana. O que se salva e nos salva é o cinema. E o cinema brasileiro vai muito bem.
Mas voltando à campanha publicitária contra a homofobia, fomos buscar na história alguns homens e mulheres que marcaram a trajetória da humanidade e que vivenciaram relações homoafetivas. A lista é grande. De Alexandre – O Grande, Leonardo da Vinci, Sócrates a Frida Kahlo, Marguerite Yource, Virgínia Woolf. E é sobre Virgínia que quero falar.


Virgínia Woolf
Virgínia Woolf me chama atenção há muito tempo. Ela foi uma das mais importantes escritoras britânicas, romancista, crítica literária e uma das pioneiras do Modernismo inglês. Publicou 9 romances e 4 coleções de contos. Deixou mais de 2000 ensaios coletados, escritos sobre literatura, arte, a questão feminina e o pacifismo.
Filha de um editor, frequentou desde cedo o mundo literário. Ajudou a formar famoso grupo de Bloomsbury, círculo de importantes intelectuais que investiu contra as tradições literárias, políticas e sociais da era vitoriana.
Fez conferências para estudantes dos grandes colégios femininos de Cambridge, nas quais mostra sua verve feminista. A vida desta escritora brilhante está no filme The Hours, que tem no elenco atrizes espetaculares, Nicole Kidman, que pela atuação no filme ganhou o Oscar de melhor atriz, Meryl Streep, Julianne Moore. Entretanto, o filme foi alvo de muitas críticas, inclusive da biógrafa da escritora, Hermione Lee.
Uma estudiosa brasileira da obra de Woolf, Vera Lima, diz que "em nenhum momento, o filme deixa entrever o interesse pelo mundo fora de si mesma, que constituía uma das fontes de matéria-prima de suas criações, ou a doçura e a afabilidade que animavam o caráter da escritora”. Ou seja, Vírgínia não era uma coisa só, assim como ninguém é. Nem tampouco somos feitos em camadas, como as vezes o pensamento determinista insiste em nos dizer. Virgínia consta da relação dos bipolares famosos. Mas isso pouco importa, o que vale é a sua obra, a sua postura, o seu ser complexo. As angústias de ser bipolar ou a sua morte anunciada várias vezes e concretizada com a entrega às águas de um rio em fúria fazem parte de um viver diferente que a normalidade rejeita com seus códigos, discursos e regras morais. É nas tramas da vida, na sua diversidade, nas suas angústias, no mergulho na dor, no êxtase das paixões que alguns e algumas vão tecendo o arco-íris criativo da existência humana. Viver é lilás, é azul, é magenta, é vermelho, mas às vezes também é cinza...e, quando cinza, talvez as águas em fúria sejam o início do arco-íris.

Fragmentos de Virgínia

"Uma vez conformado, uma vez feito o que outras pessoas fazem só porque fazem, e uma letargia infiltra-se em todos os nervos mais finos e faculdades da alma. Ela se torna todo o espetáculo externo e vazio interior; estúpida, rígida e indiferente."

"Esta alma, ou vida dentro de nós, sem opção concorda com a vida exterior. Se alguém tiver a coragem de perguntá-la o que pensa, ela está sempre dizendo exatamente o oposto do que as outras pessoas dizem."

"As coisas se desprenderam de mim. Eu prolonguei certos desejos; eu perdi amigos, alguns para a morte... outros pela incapacidade de atravessar a rua."

"As mulheres serviram todos estes séculos como espelhos possuindo o poder de refletir a figura do homem duas vezes maior que seu tamanho natural."

Gal - Paula e Bebeto

Qualquer maneira de amor vale a pena

Shirle de Moraes - Paula e Bebeto

Qualquer maneira de amor vale a pena




6 comentários:

kartoigres disse...

"A primeira vez que fui para Deutshland (Alemanha),senti que estava passando por uma iniciação muito dolorosa,éra como se tivesse parindo algo que não sabia o que seria,lembro me quando embarquei de Amsterdã para Berlin,senti um medo profundo do que me esperava por lá, pois,tudo que conhecia da historia daquele povo éra relacionado com a tirania nazista e o forte comportamento racista e xenofóbico,lembro-me de que quando entrei na sala de embarque e me deparei com todas as pessoas muito brancas,me veio Hitler na cabeça e senti uma enorme vontade de voltar correndo e desistir da viagem ,mesmo sabendo que ao chegar lá um cidadão alemão estava a me esperar,isso não me confortava...bem consegui chegar sã e salvo.Meu amigo Patrick um alemão, cidadão do mundo me recebeu maravilhosamente e já com toda uma programação feita para a minha estada,me disse que no dia seguinte iriamos ao desfile do Gay Pride (orgulho guey),coisa que naquela época nem se cogitava no Brasil,eu assustado perguntei mas não é perigoso?Ele riu muito e me falou amanhã Berlim se veste com as cores do arco-iris e todos vão para rua prestigiar este evento...e me mostrou :você esta vendo estas bandeiras coloridas penduradas em alguns apartamentos?São gueys que moram neles. Eu como um bom brasileiro provinciano fiquei chocado,pois jamais imaginei que pudesse existir um lugar onde um homossexual pudesse se mostrar e se orgulhar da sua orientação sexual sem medo de ser hummilhado,ou ser alvo de chacota.E onde a maioria sabe de fato respeitar as diferenças.Saber que se pode andar de mãos dadas com o seu parceiro sem medo de ser agredido e melhor ainda foi constatar que não é a sexulida que importa mas sim o carater,em suma depois disso tudo, foi tão facil exorcisar todas as besteiras cristãs que a maldade dos ignorantes me fizeram sofrer e poder de fato constatar que a homofobia ainda é coisa dos ignorantes...E viva esse caminho em arco-iris...e viva a diferença...e viva Virginia.

Augusto Araújo disse...

Eu sou homofóbico.

Tenho horror a homens.

Sou ninfófilo.

ps: Nanci, sabe como eram tratados os homossexuais em Cuba?

Tem um filme com o Johnny Depp e um ator espanho, se nao me engano, sobr o tema

Maria-Sem-Vergonha do Cerrado disse...

Sérgio, que post lindo! que depoimento!Penso que muitas coisas também mudaram por aqui, apesar de ainda depararmos com assassinatos de gays pelo simples fato de serem gays, apesar das piadinhas, apesar da intolerância diante de um casal de homens ou mulheres que experimentam o doce sabor do amor. aliás vou postar agora, aquela música do Milton que diz que "qualquer maneira de amor vale a pena". Respeito muito as paradas gays, mas acho que ainda é necessário dar um salto nesse encontro que, hoje, é uma grande e bonita festa. Em um dos fóruns sociais mundiais em Porto alegre, tive o privilégio de assistir a uma conferência com o Boaventura Souza Santos (um grande mestre da socialogia)e dizia o seguinte: no capitalismo neoliberal, convivemos com aqueles que não admitem sob hipótese os que não estão dentro da elite reinante: branca, burguesa e, claro, sob a supremacia masculina e aqueles que até admitem os chamados "diferentes", como os gays, negros, índios, desde que sejam consumidores e fiquem nos seus guetos. Daí que surgem os pacotes turísticos apenas para gays ou a presença de alguns negros em publicidade de mercado.Aí, ele proprunha que façamos algo mais: que lutemos pelo direito à igualdade econômica... Veja o que ele diz: "Temos direito de ser iguais quando a diferença não inferioriza e direito de ser diferentes quando a igualdade nos descaracteriza.O princípio da igualdade nos obriga a políticas de redistribuição de riquezas. Mas, ao mesmo tempo, o princípio da diferença nos obriga a ter políticas de reconhecimento e aceitação do outro. "

Maria-Sem-Vergonha do Cerrado disse...

Augusto, que triste o seu post! Se vc continuar a se assumir assim, vou achar que vc é um neo-nazista.

Augusto Araújo disse...

Poderia me achar um comunista tb, eles q perseguiram e mataram varios homossexuais

Mas eu apenas falei q sou heterossexual. O homofóbico q me refiri é "pavor de homens"; sou ninfófilo, ou "amigo das mulheres"

se os caras quiserem dar o derevi deles, problema é deles, só nao venham me encher o saco

alias alguem ae sabe de alguma passeata do orgulho heteto? Eu, um homem caucasiano heterossexual e católico me sinto o ser mais desprestigiado da face da Terra. Quero cotas!

kartoigres disse...

É tbm sou contra qualquer tipo de manifestação,sem um carater de mudança e de buscas concretas ( o que acontece com os desfiles gay no Brasil,ele cai no caricato),mas é a diferença cultural que as vezes leva a isso,pois cultuar essa diferença que segrega é absurdamente irracional,a busca tem que ser por um mundo melhor onde essa coisa de se sentir superior ou melhor que o outro seja banido da alma humana...Qualquer maneira de amor vale a pena mesmo.