quarta-feira, 26 de março de 2008

Lua Cheia, Dalai Lama e a paz necessária no Tibet, aqui e em mim


Dalai Lama e lua cheia. Duas referências de paz para a minha mente tão inquieta. Duas fontes de luz que acalmaram as minhas noites na semana passada. A lua cheia, grávida de amor, me fez parar o carro, respirar fundo, sentir o silêncio das estrelas e agradecer aos deuses e às deusas por aquele momento. Dalai Lama me encheu de forças pela sua capacidade de mostrar que paz não é ausência de conflito e que a insurgência também é sabedoria. A sua postura na defesa da autonomia do povo tibetano é íntegra, sábia e profética.
O desejo de experimentar essa paz silenciosa tem me acompanhado nas últimas semanas. Tenho tentado ficar menos tempo diante do computador, apenas o necessário que a minha profissão exige e que a minha alma necessita para se alimentar do amor, insurgência e conhecimento dos meus amigos, dos sábios, dos poetas e dos artistas. Confesso que o ciberespaço, as redes e as novas tecnologias me atraem de forma absurda. Por isso, tenho me disciplinado abrir menos no orkut e os e-mails pessoais. Começo a pensar na possibilidade de dedicar uma parte do meu tempo a retomada de algum tipo de militância, como fiz durante toda a minha vida. Porém, agora, não mais num partido político, mas em algum movimento que consiga reacender e manter viva a minha esperança teimosa. Tenho me esforçado a reaprender a ver beleza e sentido nas pequenas coisas e a experimentar por mais tempo a felicidade, que sempre me escapa das mãos e do coração.
Isso ficou tão vivo e latente no domingo, depois que assisti ao filme Antes de Partir, que retrata a essência da dialética humana: vida-morte-renascer. Um filme que me fez sair do cinema lembrando do que afirma Fernando Pessoa: "Há um tempo em que é preciso abandonar as
roupas usadas, que já tem a forma do nosso corpo, e esquecer os nossos caminhos, que nos levam sempre aos mesmos lugares. É o tempo da travessia: e, se não ousarmos fazê-la, teremos ficado, para sempre, à margem de nós mesmos."
Esse sentido da vida é abordado com maestria pelo Chico Alencar, no texto que posto abaixo. Um texto que me deu uma boa chocalhada.


PÁSCOA, UM MOMENTO DE REFLEXÃO!
* por Chico Alencar


Semana Santa é provocação à meditação sobre o sentido da existência. Por isso tem um valor universal - imanente e transcendente - que ultrapassa os limites das instituições religiosas cristãs. Mas o próprio cristianismo dá uma contribuição perene para a caminhada humana no planeta, mesmo para aqueles que não consideram o profeta da Galiléia, filho de Maria e José, como encarnação de Deus.A dialética vida-morte-ressurreição está presente a todo momento em nossa trajetória. Perceber, como pede o poeta Hermínio Bello de Carvalho, que "a vida não é só isso que se vê/ é um pouco mais/ que os olhos não conseguem perceber/ as mãos não ousam tocar/ os pés recusam pisar", é dar uma saudável dimensão sagrada à materialidade humana. Somos seres em formação, em processo de humanização, feitos de ensaios e erros, de lama e luz.Vida, "sempre desejada por mais que esteja errada" (Gonzaguinha), é sopro de beleza. É o bem maior que se recebe. Mas ela é necessariamente gregária, social. Nosso destino é ser: ser-com-os-outros.Morte é a negação da vida. O maior pecado social hoje, é o egoísmo produzido em série. O sistema capitalista move-se pelo individualismo e pela competição. Nele, os gestos fraternos e solidários valem bem pouco. Reproduzo aqui um trecho de magistral crônica de Arnaldo Bloch, (O Globo, 26/01/2008) em que comentava o excelente filme "A culpa é do Fidel": "No Brasil, depois do fiasco moral da experiência petista, as direitas espumantes, em reação violenta, mergulham como urubus em carniças, em qualquer discurso que pregue algum tipo de consciência distributiva, em qualquer ideal que não seja o de submissão rastejante ao mercado.Ao mesmo tempo, o culto à experiência individual deslocada paira acima de qualquer integração fora do modelo competitivo, do jogo, do paredão, do Orkut, das sondagens, dos percentuais que tudo fingem dizer sobre tudo, das verdades determinadas em tempo real e totemizadas para serem deletadas logo mais, pois nada dizem, nada além valem do gozo aguado/valor agregado no pote global do entretenimento.Espírito de grupo, hoje - com exceção de parcas experiências que nascem espontaneamente da sociedade civil -, só vale e funciona mesmo quando é lobby empresarial ou religioso, formação de quadrilha, marketing de rede. Ou então aquelas iniciativas motivacionais de RH pós-nipônicas que invadem as empresas e incutem na cabeça do funcionariado a idéia de que ele vive, naquela organização, algum tipo de processo místico de crescimento pessoal através da força coletiva, em que a meta alcançada corresponde quase a uma passagem de casta espiritual".Cremos na ressurreição, na Páscoa, na passagem da morte para a vida, na teimosia da utopia, na força revolucionária do Amor, numa outra Humanidade possível.O ovo, seu símbolo, "guarda um sol ocluso: o que vai viver espera" (Adélia Prado).Uma Páscoa de superação de trevas e vida renovada na esperança e na solidariedade para todos.

* Chico Alencar é professor, historiador e deputado federal do PSol/RJ
Enya - May it be

Um comentário:

Anônimo disse...

Olá Maria-Sem-Vergonha...

Agradeço-te pela deferência. Visites La Vieja mais vezes.

Também gostei dos teus escritos.

Um abraço.