segunda-feira, 10 de março de 2008

A mídia e a ditadura da beleza

Quadro - A Dança/1910/Matisse


Quem disse que a beleza feminina é esquálida, loura e alta? A mídia diz isso o tempo todo e, especialmente, na última década está construindo uma verdadeira ditadura da beleza, que tem levado as mulheres ao consumo desenfreado de produtos da indústria da estética, submissão às cirúrgias plásticas, lipoaspiração e muito pior do que isso: à insatisfação constante, ao rebaixamento da auto-estima e à depressão. Creme, creme, creme, rugas, rugas, rugas...lipo, lipo, lipoaspiração e celulite de novo...Naomi Wolf em seu livro o Mito da Beleza desnuda o que tem por trás desse padrão de beleza imposto às mulheres. Ela enfatiza que as conquistas gradativas da liberdade feminina, como o domínio sobre o seu corpo, o direito ao prazer, foram sendo substituídas pela escravidão ao padrão estético, o que é um retrocesso. Revela que para outras culturas, não-ocidentais, beleza é construída e reverenciada de uma outra forma. Mostra as artimanhas publicitárias que a indústria da estética utiliza para vender os seus produtos e manter a mulher servil ao consumo. Alerta para a ineficácia dos cremes e, com sabedoria, nos diz que as rugas são inevitáveis...Sim, envelhecer é inevitável, maternidade deixa marcas no nosso corpo: os peitos diminuem, o abdômen fica mais flácido, a celulite aparece. São marcas da nossa existência, da nossa história, das nossas dores e delícias. Isso não significa, porém, que não devamos nos preocupar com alimentação, cuidar do nosso corpo, fazer ginástica...Hoje, aos 40 anos me dedico, sim, a cuidar do meu corpo como me dedico a cuidar da minha alma com leitura, conhecimento, poesia, música, arte...Malho muito e isso me dá prazer. Mas sou uma insurgente contra a ditatura da beleza e contra os padrões impostos pela mídia, que age a serviço dos seus patrocinadores. E tem mais insurgentes por aí: a ministra Nilcéa Freire, da Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres, do governo federal, anunciou que vai criar de um observatório da mídia, que vai monitorar sistematicamente a imagem da mulher nos meios de comunicação. Espero, desejo e torço para que essa iniciativa não morra e que coíbam propagandas como a da Kaiser, na campanha de verão de 2006, na qual uma mulher loura e magra, de biquíni, era clonada e distribuída como uma garrafa de cerveja para homens. Uma ofensa. Um disparate. Uma agressão burra. Nunca vi nenhuma propaganda clonar homem de sunga e distribuí-lo como espanador de pó. E espero nunca ver um comercial assim, afinal, nenhum ser humano pode ser anunciado como objeto e nenhuma função social pode ser apresentada pela mídia como exclusiva do gênero masculino ou do gênero feminino. Os serviços domésticos também são tarefas masculinas, assim como tomar cerveja, guaraná e seja lá o que for também é um direito feminino.
E por falar em beleza, estou a trabalho no Rio de Janeiro, cidade que amo de paixão, que me encanta com a sua beleza, com as suas curvas, revelos, que estampa em suas ruas cores com diferentes matizes, rostos e corpos diversos, assim como é o nosso Brasil: negro, branco, índio, japonês, árabe, paraguaio, boliviano...somos assim unos e plurais.

7 comentários:

Unknown disse...

Nanci seus textos merecem ser esparramados por todos os canteiros...
A ditadura da beleza está atrelada a expansão do mercado de cosméticos/medicamentos e serviços a ela (beleza) aliados.
Sofro na pele, ou melhor no cabelo com esses padrões, veja meu caso:
- usar cabelo naturalmente crespo, "saiu de moda"- porque o lucrativo e ficar horas em salão de beleza consumindo aquelas químicas para esticar os fios...que conforme os anúncios, para as mulheres serem modernas, cults, elegantes, sofisticadas e bem-sucedidas é imprescindível uma cabeleira escorrida.
Pobre de mim adepta assumida da rebeldia capilar...encontrar um pessoa capaz de fazer um bom corte em cabelo crespo... Quando chego no salão de pronto eles oferecem...vamos fazer uma escova progressiva, de chocolate, de ...sabe-se o que!!! Para dar uma domadinha nos fios?
- Não faço chapinha definitiva na minha personalidade!
- A única escova de chocolate que eu quero é aquela que dá pra comer! (adoro chocolate ele me faz feliz)
- Quero meus cabelos rebeldes, contra os padrões de beleza e subversivos às regras desse mercado capitalista!
Por hora, dos fetiches!!! gosto daqueles satisfeitos nos lençois e não nos cartões de crédito!!!

Maria-Sem-Vergonha do Cerrado disse...

Kelly, cada vez mais, admiro a sua rebeldia, a sua subversão e a forma como brinca com as palavras: "Por hora, dos fetiches!!! gosto daqueles satisfeitos nos lençois e não nos cartões de crédito!!!"
EU TAMBÉM!!!!!!

Augusto Araújo disse...

Dando o ar da graça novamente

Eu sou contra a ditadura da beleza e faço a minha parte

to ficando careca e to nem ae, to nem ae...he he

Bel Marques disse...

Passei por aqui e achei muito legal seu blog. Pois é, tenho que confessar que me rendi um pouco a ela, acabo fazendo chapinha duas vezes por semana...agora que meu cabelo ficou um pouco maior, decidi usar eles mais "rebeldes" e olha tô adorando...é claro que tem que dar uma secadinha básica com a escova, pq depois de muitos anos de chapinha o coitado perdeu a referência, e não é mais "jeitoso" além de estar caindo um monte.
Quanto as propagandas a KAiser continua aprontando...agora viramos tampinha de garrafa!!!
Vou passar mais vezes por aqui,adorei...
abs.

Anônimo disse...

Beleza?
Esse seu texto é lindo!
Seria bom se todos fôssemos infectados por esse vírus de libertação das imposições midiáticas e de consumo.

Unknown disse...

Oiê, demorei né, mas hj vim com tempo. Pra ler, fuçar msm. E escrever, caso vc queira aproveitar, claro. Eu assisti o filme A Vida dos Outros, fazia tempo que num via algo tão bom. Na sessão, no Cinecultura, tinha umas 10 pessoas, uma pena. O filme é tão repleto que merece horas de análise e comentpários, pela riqueza de seus personagens e a forma como as histórias se desenvolvem. Não deixe de ver. Bjs. Maristela Brunetto

Maria-Sem-Vergonha do Cerrado disse...

Maristela,hoje, tentei assistir ao filme A vida dos Outros, mas cheguei no Cine Cultura e o horário tinha sido alterado...então, acabei mesmo no cinemark. Vi o filme Antes de partir...belo...saí do cinema repensando a vida...