quinta-feira, 27 de março de 2008

Cinema, Política e História



* Mario Doraci

Vende-se arte. A arte sempre teve um preço. O cinema, os quadros, as pinturas, as exposições plásticas, a música, a dança e o teatro. Assim vive a humanidade depois que o mundo é feito de gente. A arte nos enriquece, nos emociona fazendo rir ou chorar, nos passa algo sensível e amável. Aprendemos com ela. O cinema…por falar em cinema, os irmãos Auguste e Louis Lumière (1862-1954/1864-1948) descobriram esta magnífica forma de entrar no imaginário humano com sensações de aventura, de amor e de humor para recontar episódios da vida dos outros e do cotidiano. La vie des autres (A vida dos outros) mostra a forma de interrogar de uma escola dos alemães que impuseram o nazismo para conter o socialismo na Alemanha. O filme pega um caso particular do controle da vida alheia. E mais ou menos o mesmo método utilizado pela KGB na ex-URSS, pelo Chile com o DIVA (Departamento de Investigações da Vida Alheia) ou o SNI brasileiro que todos conhecem en passant, mas não sabem do que eles eram capazes. Na França há judeus para todo quanto é canto, no parlamento, no mundo literário e principalmente nos negócios…eles são os pais do capitalismo atual. Na Europa, apesar de 60 anos depois, a história do holocausto está presente - presente na imprensa, na vida dos descendentes e dos que conseguiram escapar andando somente de noite durante vários dias para alcançar a fronteira de países vizinhos. Há quatro anos o Ministério dos Transportes, ainda na era Jacques Chirac, quis inovar com uma exposição na avenida mais bela do mundo, o Champs Elysées, com os trens. Lógico, o TGV, as primeiras máquinas, o avanço de tudo que diz respeito ao progresso nesta área…mas como não podia deixar de faltar, um dos trens de carga, que serviu para enviar crianças, mulheres e famílias inteiras para Auschwitz, Sobibor, Birkenau, Monowitz, também estava lá…Aquele trem, se falasse, poderia contar quantas centenas de milhares de pessoas carregou pra câmara de gás com promessas alemãs de irem ao leste pra trabalhar… Entrada principal do principal campo de Auschwitz porque havia três Auschwitz. Entrada do inferno ou sala de espera do céu. O cinema francês ajuda a manter viva esta história também porque os judeus de hoje financiam qualquer projeto sério neste sentido, embora este filme tenha sido produzido por alemães. A comunidade internacional se comoveu a favor dos judeus, da pilhagem de seus bens, da falta de uma pátria, de um chão, de uma terra. E o Estado de Israel foi criado...mas nem tudo é luz na cidade Lumière, nem tudo resplende e brilha na moral dos homens. Hoje há um conflito entre os palestinos e o poder político e militar de Israel. Todos se comovem por Israel, talvez porque eles foram vítimas de um genocídio, porque é a Pátria citada por Jesus que também era judeu e foi morto por um complô dos judeus. A vida dos outros, daqueles que vivem na Cisjordânia, na faixa de Gaza, também é importante, mas a eles não se dá a mínima. Enfim, cinema, arte e política, por mais que queiram se manter desligadas, estão unidas pelo cordão financeiro do capital e da historia.

* Mario Doraci é jornalista sul-matogrossense, Mestre em Ciências Políticas da Comunicação, doutorando em Ciências Políticas e Sociologia, em Paris.
Rosa de Hiroshima - Ney Mato Grosso

Um comentário:

Maria-Sem-Vergonha do Cerrado disse...

Mario, importante a contextualização que vc faz do cinema na história e na política, mostrando que a sétima arte não é arte pura. Pelo contrário, é influenciada e influencia a ação e os interesses humanos. A sua posição não é maniqueísta. Revela que o autoritarismo e o massacre de humanos e consciências não aconteceram apenas sob a ditadura comunista, mas também no nazismo, no BRasil,na América latina na ação de Isarael contra o povo palestino. É imprescindível que rompamos com as análises maniqueístas da história e acreditemos que é possível reiventar o futuro, como diz Costa-Gravas: "existe sempre, em mim, um fundo de utopia. Eu creio que o homem, ontologicamente, não aceita a uniformização, que seja ditada pelas religiões ou pelos sistemas políticos. A revolta é semprepossível. É preciso recolocar o ser humano no centro do mundo. Mas,sobretudo continuar a lhe dar a capacidade de se expressar econvencê-lo que o individualismo não leva a nada. (Costa-Gavras)