domingo, 23 de março de 2008

Encontros na poesia

Foto: Malu
Caminito - La Boca - Argentina
Registro da viagem de Malu, Natal e
Macarrão a Argentina
"...caminito amigo,
yo también me voy...
Caminito que todas
las tardes feliz
recorría cantando mi amor..."


Existem pessoas que nos visitam e enchem o nosso coração de alegria. Aqui, no Maria-sem-vergonha tenho experimentado doces encontros. Hoje, foi a vez de Maristela Brunetto, uma jornalista especial que, agora, leva a sua competência para o mundo do Direito. Perde o Jornalismo, ganha a Justiça. Além da visita, Maristela me mandou poemas de sua autoria. Que bela surpresa! Palavras vão ganhando forma, presenças, ausências, sentimentos, poesia...

Maristela Brunetto

Porque você deixou se passar tanto tempo
Foi uma eternidade
Suficiente para tanto virar tão pouco
Seu rosto, seu olhar, seu sorriso forte
Agora são uma imagem disfusa, fora de foco
Seu cheiro se dissipou
Seu sabor não mora mais na minha boca
Suas mãos, seus toques
Uma sensação distante
Nossa confusão a dois, misturados,

conjugados em um só
Por tantas vezes
O que viramos? Chegamos a ser um Nós?
Hoje temos dois pronomes: eu, você
Não há nós.Tudo tão implacável
Restamos cada um para o seu lado.

Atilla József


E um outro encontro com a poesia neste domingo me fez feliz: Atilla József (1905-1937). Ele viveu apenas 32 anos, mas tempo suficiente para se tornar um dos mais importantes poetas húngaros do século XX. Filho de um operário romeno e de uma lavadeira, József conheceu cedo a dor da miséria e do abandono. O pai deixou a família quando ele tinha apenas três anos de idade. A sua mãe faleceu quando József estava com quatorze anos. Publicou o seu primeiro volume de poesia aos 17 na principal revista literária húngara, Nyagat. Aos 19 anos ingressou, na Universidade de Szeged para estudar literatura francesa e húngara, mas foi expulso no ano seguinte devido a publicação do poema “Com um Coração Puro” (“With a Pure Heart”). Depois da expulsão, parte para Viena, em seguida para Paris, onde é admitido na Sorbonne. Em 1927 volta a Budapest e passa a militar no clandestino Partido Comunista. Em face das suas críticas ao Partido, foi expulso do PC em 1930. Este acontecimento marca um período de crescente depressão. Apesar de vários períodos de tratamento Attila József atirou-se para baixo de um comboio no dia 3 de Dezembro de 1937.
(fonte: http://livrariapodoslivros.blogspot.com/2008/02/attila-jzsef.html)

Rato primitivo espalha praga entre nós:
pensamento impensado
Rói adentro todo o nosso alimento
e corre de um homem ao outro.
Por isso o beberrão ignora que ao afogar as mágoas em champanhe
engole em seco o insípido caldo
do pobre apavorado.

E já que a razão falha em exigir
direitos fecundos das nações
nova infância se levanta a incitar
as raças umas contra as outras.
A opressão grasna em esquadrões,
aterra no coração vivo, como em carniça -
e a miséria escorre pelo mundo todo,
tal qual a baba no rosto de idiotas.

tradução de Lucienne Scalso

BADI ASSAD - Ai Que Saudade D'ocê
Ela arrasa na voz, no violão, nos sons, nos tons...estupendo. Badi encanta Nova Iorque. Você precisa conhecê-la.

2 comentários:

Scliar disse...

Sempre bom terminar o domingo e começar semana com poesia de primeira! Feliz pascoa. ethel sc

Unknown disse...

A VIDA DOS OUTROS O FILME: não é (apenas) um filme político sobre os desmandos de um regime ditatorial. Mais que isso, aborda profundamente a complexidade das relações humanas. Num primeiro momento, a produção até parece ser fria, distante. "Alemão demais", eu diria, já destilando uma certa dose de preconceito. Porém, aos poucos, se percebe que esta suposta "frieza" narrativa é um dos grandes méritos da direção de Von Donnersmarck. Na realidade, o cineasta utiliza os primeiros minutos da ação para jogar o espectador no sombrio mundo da ausência total de liberdade. Tudo é escuro, mecânico, quase sem sentimentos. Deste universo cinzento e metálico, emerge a depressiva figura do capitão Gerd (Ulrich Muehe, de Violência Gratuita), agente especial da polícia secreta da Alemanha Oriental que tem como única finalidade servir cegamente ao seu totalitário país. Seu rosto é impassível, sua fala é monocórdica, seu apartamento é de uma tristeza estéril. Gerd desafoga as tensões contratando uma prostituta tão mecânica e friamente profissional quanto ele.

Do outro lado da vida, está Georg (Sebastian Koch, de Amém), um homem das artes, diretor de teatro apaixonado pela namorada Christa (Martina Gedek) que tem a rara habilidade de se equilibrar habilmente entre a liberdade dos palcos e a opressão da ditadura. O que une estes homens tão diferentes e de nomes tão parecidos é um punhado de escutas clandestinas instaladas no apartamento de Georg. Quanto mais Gerd ouve e percebe a vida de Georg, mais ele mergulha num inesperado mar de sensações antes impensadas. Georg age como instrumento modificador de Gerd, mesmo sem ter a mínima consciência disso. Os fios que unem microfones e fones de ouvido desta escuta tão vil acabam funcionando com um cordão umbilical entre os personagens.