sexta-feira, 7 de março de 2008

8 de março - As bruxas voltaram: ousadas, guerreiras e atrevidas












Desde a antiguidade, muitas de nós, mulheres, desenvolveram habilidades para extrair da natureza as ervas poderosas para os rituais de cura por meio de chás, benzimentos, emplastos. Essas curandeiras, parteiras, traziam em sua história conhecimentos empíricos que eram transmitidos de geração em geração. Em muitas tribos eram elas as xamãs. Na Idade Média, esse conhecimento era vital para os camponeses que viviam nos feudos, sem acesso a serviços de saúde. Assim, as curandeiras com suas ervas, sua sabedoria ancestral e seus rituais eram a própria luz nesse período de trevas.
Com suas “poções mágicas” andavam de aldeia em aldeia, de casa em casa e em torno delas não era de estranhar que se juntassem outras mulheres...conversas, diálogos, ensinamentos, uma confraria, onde trocavam experiências e o mulherio ia aprendendo mais sobre os seus corpos, sobre suas almas. Um perigo...perigo ainda maior quando ousavam participar das revoltas camponesas. Isso, como bem coloca Rose Marie Muraro, era visto como uma transgressão política, trangressão da sexualidade, trangressão ao sistema, e, portanto, incomodava as autoridades eclesiásticas que passaram a desenvolver um controle – um controle dos corpos, um controle da mente, um controle da alma dessas bruxas que ameaçavam o poder católico e o poder econômico. Era necessário expurgá-las, uma vez que carregavam em si o demônio. E o expurgo do feminino ganhou até manual, o Malleus Maleficarum (O Martelo das Bruxas), publicado em 1487 na Alemanha e depois utilizado em toda a Europa. Ele ensinava os juízes a reconhecerem as bruxas, classificava os malefícios causados por essas senhoras e depois instituía as penalidades. Diz o Manual “a primeira e maior característica, aquela que dá todo o poder às feiticeiras, é copular com o demônio...uma vez obtida essa intimidade, as feiticeiras são capazes de desencadear todos os males...”
E foi assim, no fim da Idade Média e no Renascimento, durante quatro séculos, que se desenvolveu uma caça histérica às bruxas. Estima-se que sete milhões de mulheres foram condenadas, mortas, queimadas pela “Santa Inquisição”. Uma fogueira planejada para controlar corpos e aquelas que não se adequavam ao novo sistema que nascia: o sistema capitalista que precisa de corpos e mentes dóceis, alienados, que não vão se rebelar.
“De doadora da vida, símbolo da fertilidade para as colheitas e os animais, agora a situação se inverte: a mulher é a primeira e a mais pecadora, a origem de todas as ações nocivas ao homem, à natureza (...) A sexualidade se normatiza e as mulheres se tornam frígidas, pois orgasmo era coisa do diabo” (MURARO, 2000).
É nesse contexto que se normatiza o comportamento do que é masculino e do que é feminino, na esfera pública e na esfera privada, aprofunda-se ainda mais a divisão sexual do trabalho, forma-se a classe operária e se intensifica a exploração capitalista.


As bruxas dos tempos modernos
E no século passado, as bruxas retornaram invocando a força das suas antecessoras e assumiram à frente dos movimentos socialistas, dos movimentos culturais e artísticos e organizaram os movimentos feministas. Hoje, não carregam vassouras, mas levantam estandartes, bandeiras. As poções mágicas ganham outros ingredientes: livros, pincéis, teclados, microfones, tintas, ferramentas. Redescobrem os seus corpos, reaprendem o direito ao prazer, ao orgasmo, à fantasia, constróem o conceito de gênero. Levam para o mundo masculino o valor da solidariedade, da não-competição, da comunhão cósmica com o meio ambiente. Denunciam a violência, dizem não à guerra, às desigualdades, às injustiças e às misérias do capitalismo. Anunciam um outro mundo possível, onde a igualdade, o respeito e a dignidade farão parte do nosso gozo coletivo...que isso seja uma conquista do terceiro milênio.

2 comentários:

Unknown disse...

Antes de ser sacudida pela militância, o 8 de março não fazia o menor sentido...confesso tinha uma espécie de sobressalto com alguém falando "feliz dia das mulheres", e depois a gente agradecer a gentileza, com um muito obrigada...e dar aquele sorrizinho amarelo! Agora sem sentido mesmo eu achava uma mulher deseja "feliz dias das mulheres" para uma outra mulher...(muito vazio).

Após meu batismo político, conheci a história de luta de mulheres do mundo, desde aquelas que deixaram sua cicatriz na história, como a Pagu, Rosa Luxemburgo, Frida e tantas outras, como também de todas as outras cujos rostos jamais serão conhecidos porque foram fundidos às lutas, seja, por igualdade no mundo do trabalho, liberdade sexual, creches para seus filhos, distribuição de anticoncepcionais nos postos de saúde, combate à violência doméstica etc...

Daqueles tempos mais alienados pra cá amadureci muito...mas continuo achando sem sentido o Banco do Brasil dar um botão de rosas em sua agência no dia 8 de março...ou ainda ouvir aqueles poemas piegas falando de uma mulher irreal, que devem agradar muito as “lady” em seu castelos de consumo.

Por outro lado é animador perceber que as mulheres do povo buscaram um outro sentido para essa data...e nesse período no lugar de promoverem reuniões festivas, organizam ocupações em fazendas de transnacionais que plantam transgênico, realizam passeatas em protesto contra a violência doméstica chamando atenção das autoridades pela falta de cumprimento da lei Maria da Penha, promovem encontros e debates com outras mulheres para se apropriarem de informações, para se armarem como guerreiras contra as batalhas diárias contra a ignorância o medo e a cultura machistas.

Para o capitalismo garantir a reprodução de suas estruturas foi essencial à submissão da mulher, tanto no núcleo familiar como nas fábricas. O trabalho feminino gratuito, como mãe, ou barato, como operária, foi substancialmente importante para a expansão do capital, porque não só ela garantia a reposição de futuros trabalhadores e consumidores, como também era ferramenta importante para a reprodução do pensamento hegemônico, quando assumia seu papel de educadora dos filhos.


No livro Para Além do Capital, Mezzaros dedica um dos capítulos ao aprofundamento de uma das colunas dorsais do liberalismo burguês que é a “igualdade de direitos”, defendida a duras penas pelos revolucionários burgueses (eles foram!!! Na Revolução Francesa), que posteriormente tornou-se na sociedade capitalista uma verdadeira “falácia”. Ele para demonstrar materialmente porque nesse modelo de produção o princípio de igualdade substantiva constitui em um limite intransponível, usou a questão da “emancipação feminina”.


É inegável que obtemos avanços com todas as nossas lutas e sacrifícios, mas que permanecem ainda muita exploração e violência, e que a nossa emancipação, de fato, não ocorrerá distanciada da luta por um outro modelo de sociedade.

Por essência o capitalismo é incompatível com qualquer tipo de igualdade!!!

* Dedico esse texto à você, Nanci, uma das responsáveis por meu amadurecimento político. ( adivinha quem tinha produzido o panfleto de 8 de março, em que pela primeira vez li, sobre da luta das mulheres de minha classe social????). Salve Bruxa!!!
Bjs Kelly Garcia

Scliar disse...

Coisas de bruxaria? O post com dia 7 ta acima do dia 8? Vai-se lá dormir com um barulho destes! Mas meu comentario ficou la em cima. Abraços mil. Ethel Sc.