sábado, 17 de maio de 2008

Deixei a noite me abraçar

Bar Scenarium - Rio

Tenho uma grande paixão pelo Rio de Janeiro. Uma cidade desenhada pela natureza. Os morros cortados pelo mar compõem melodias que ecoam nas suas esquinas. Uma cidade escancarada que desnuda suas desigualdades e estampa belezas múltiplas pelas suas ruas. Lá, respiro uma certa paz, o que configura um paradoxo para muitos. Essa paz levemente inquieta não advém apenas das imagens que o meu olhar consegue captar. Vai além das retinas. Está no cheiro, no ar que inspiro, na música. Na última vez em que estive por lá, conheci o bar Scenarium-Pavilhão da Cultura, na Rua do Labradio, no centro Velho do Rio. Um espaço que toca o nosso corpo com o som do choro, do samba, da gafieira, do forró e da MPB. Por entre seu acervo de móveis e objetos antigos, fui fazendo descobertas irreverentes pela excentricidade da sua arquitetura do século XIX e pela sua decoração inusitada: uma cabine telefônica, guarda-chuvas coloridos, bonecas de biscuit, registradoras antigas, câmera lambe-lambe, rosas vermelhas de veludo. Uma mistura deliciosamente kitsch, o antigo, a iluminação de teatro, tudo ao mesmo tempo, num encontro com o passado, num cenário, onde você se sente a atriz, a dançarina.
Ontem, respirei por aqui um pouco do ar carioca no Rocca Botequim. Ouvi o melhor do choro num ambiente bem descontraído e aconchegante. É tão bom sentir a noite assim, ocupando aquilo que parecia oco em você, deixando, como diz a minha amiga Miti, o universo te abraçar. E abraçou.


Eu te amo - Tom Jobim





O meu amor - Chico Buarque



Álvaro Campos (Fernando Pessoa) – Todas as cartas de amor são ridículas


Todas as cartas de amor são
Ridículas.
Não seriam cartas de amor se não fossem
Ridículas.
Também escrevi em meu tempo cartas de amor,
Como as outras,
Ridículas.
As cartas de amor, se há amor,
Têm de ser
Ridículas.
Mas, afinal,
Só as criaturas que nunca escreveram
Cartas de amor
É que são
Ridículas.
Quem me dera no tempo em que escrevia
Sem dar por isso
Cartas de amor
Ridículas.
A verdade é que hoje
As minhas memórias
Dessas cartas de amor
É que são
Ridículas.
(Todas as palavras esdrúxulas,
Como os sentimentos esdrúxulos,
São naturalmente
Ridículas.)



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