sábado, 10 de maio de 2008

A maternidade e a dominação do corpo e da alma das mulheres



Ainda me lembro daquele ser pequenino virando bolinha de futebol dentro da minha barriga, sofrendo com a minha tensão na tentativa de dar forma, palavras, imagens aos sonhos socialistas na comunicação da esquerda numa das mais importantes campanhas eleitorais realizadas aqui, no final do século passado, onde a tônica era a demarcação ideológica e as contradições entre os dois projetos completamente antagônicos em disputa. Era o primeiro filho. Foi gestado num cenário onde as bandeiras ainda eram costuradas com fios trançados com a força da utopia. E, hoje, quase dez anos depois, essa criança vem me perguntar o que é axioma e reivindicar uma explicação mais precisa sobre a diferença entre delação e denúncia. É que ele está lendo Alice no País das Mentiras, de Pedro Bandeira, e quer compreender melhor os referenciais éticos daquilo que pode ser tido como verdadeiro e justo.
A maternidade ainda me assusta, me surpreende. Sabe aquele frio na barriga que, às vezes, brota diante do medo de encarar algo novo? E o coração disparado de amor só de pensar naquele ser que abre o sorriso largo quando olha para você? Como diz Elisa Lucinda, "barriga cresce, explode humanidades". Mas a maternidade não é esse estado sublime que a cultura patriarcal ainda insiste em propagar. O discurso da santificação da maternidade nos roubou da história os espaços públicos, direitos civis, políticos, profissionais e econômicos – esses últimos ainda são os mais sonegados, uma vez que de toda riqueza mundial apenas 1% pertence às mulheres. Portanto, o amor materno é resultado, não de um instinto, mas de uma construção histórica, social e cultural. Tanto é que em sociedades indígenas a maternidade é um exercício da coletividade, ou seja, as crianças são de responsabilidade de toda comunidade. Na nossa sociedade capitalista nossas crianças fazem parte do jogo competitivo do "salve-se quem puder" e muitas têm a infância roubada nos lixões, nos canaviais, na exploração sexual, nos sinais das esquinas.
A cultura dominante incutiu a idéia de éramos nascidas e destinadas a ser mães. Com a fórmula tota mulier in utero, criada a partir do determinismo biológico, justificou-se a nossa posição subalterna na sociedade, construindo o modelo “mulher-mãe-dona-de-casa" como o ideal, como fonte de prazer e realização e limitando o nosso papel social no mundo. Graças às mulheres que negaram-se a se submeter a esse determinismo, os limites que nos prendiam ao espaço doméstico foram sendo gradativamente rompidos e o nosso direito à realização pessoal foi ampliado para o campo profissional, artístico, cultural e da cidadania.
Mas hoje há na mídia uma tentativa de construir um período pós-feminista, em que supostamente as mulheres, depois de “terem conquistado tudo”, o que é uma inverdade, reivindicam a volta ao lar. Ora, mais uma vez, a maternidade é utilizada como justificativa para nos condenar à vida de lagarta, presas ao casulo, com o peso da responsabilidade exclusiva pela educação dos nossos filhos. Em pleno século XXI, a escolha ou recusa da maternidade ainda é uma questão vital na nossa luta pela emancipação, pela autonomia dos nossos corpos, pelo nosso direito ao prazer.
E no meio disso tudo, por ocasião do Dia da Mães, fico indignada com a publicidade e seus produtos de propaganda. A mediocridade, somada à cultura sexista e patriarcal, tenta nos mostrar com a velha aura de sublimes, singelas, dóceis, reforçando subliminarmente a idéia de que somente as mães são felizes e fazendo com que as mulheres não identificadas com a maternidade sejam reduzidas a corpos desapropriados de sua dimensão humana, corpos despossuídos de finalidade e de sentido, corpos secos. É a velha fórmula de associar a capacidade reprodutora ao apanágio das mulheres.
Aí, me rebelo e intensifico o diálogo com os meus pequenos para que aprendam a assumir suas responsabilidades domésticas, para que incorporem outros valores e que sejam menos forma de bola de futebol, cujo jogo é marcado pelo driblar, dominar o outro para vencer....e sejam mais do frescobol, no qual os corpos fazem movimento e suaves. Ninguém ganha para que os dois ganhem e “se deseja, então, que o outro viva sempre, eternamente, para que o jogo nunca tenha fim” (Rubem Alves).

16 comentários:

Unknown disse...

muito bom. só nanci, pra nessa nossa correria, conseguir prestar atenção na mediocridade das propagandas e mensagens da tv - esse é um tema importantíssimo, porque esse meio de comunicação e "formação, informação e deformação" do povo (tema de redação em vestibular) é sempre utilizado da forma que convém aos poderosos. quanto lixo é produzido e veiculado a cada minuto na telinha. não se encontra quase nada que preste, que acrescente que transforme pra melhor as pessoas. trazem padrões de cultura do que é ser moderno, na liberdade sexual... nunca pensei se esse direcionamento foi arquitetado e pra quê querem moldar o povo desta atual forma.
Nunca tinha prestado atenção também nessa faceta que querem sempre empregar na mulher - no choro da mulher, na capacidade de sustentar o mundo, de suportar sofrimento...
Em casa também é papel da mãe ver isso ou aquilo... a mãe tem mais tempo... O caminho é longo a ser percorrido, mas devemos começar dos próximos a nós, e juntos descobrir novas formas de responsabilidade... e não vai ser fácil, principalmente porque as tarefas precisam continuar sendo feitas.

Unknown disse...

Pequena gigante,

obrigada pelo belo presente do Dia das Mães. Digo presente sabe por que?

Por sofrer com meus devaneios sexuais perdidos na falta de tempo; pelo meu amor à profissão e sobretudo por ser uma mãe extremamente coruja, mas que sofre por trabalhar fora e não ter o tempo que eu gostaria para lamber minha cria.

NANCI...DIANTE DE TUDO QUE VC ESCREVEU EU DESCOBRI QUE SOU MUITO FELIZ E NÃO SABIA. SOU MÃE, SOU MULHER, TRABALHO E REPRESENTO TUDO DE BOM QUE MINHA VÓ SONHOU PARA ELA E DESEJOU PARA SEUS FILHOS, NETOS, BISNETOS....

A gente é forte, sofre, e tem muito mais para consquistar. Digo, respeito de verdade é esse nosso desafio. Acho que a nossa união também. As mulheres precisam ser mais unidas e ter os homens como grandes e deliciosos amigos e companheiros.

AAAAAAAAA os filhos...nossos presentes ... tenho uma amiga que não quer ser mãe, mas é hiper cuidadosa e preocupada com crianças. Talvez por isso ela não se sinta pronta para a maternidade. A nossa grande missão de educar junto com nosso companheiro uma criança. Enfim..essa minha grande amiga muitas vezes é criticada....

Eu defendo que a maternidade tenha que ser algo realmente verdadeiro... há mulheres que não podem ter filhos e adotam e os amam muito ...

Outras, têm filhos e os deixam nas mãos dos vizinhos e das babás..e sequer podem ser chamadas de mães....

OBRIGADA NANCI OBRIGADA DO FUNDO DO CORAÇÃO....

OBRIGADA MINHA AVÓ QUE LAVOU MUITA ROUPA E CUIDOU DE MUITAS CRIANÇAS PARA QUE NÓS PUDÉSSEMOS ESTUDAR!

OBRIGADA A MINHA MÃE QUE ESTUDOU E TRABALHOU FEITO LOUCA PARA QUE PUDÉSSEMOS TER UMA VIDA MELHOR....

OBRIGADA LINDAS CHEFES E AMIGAS QUE ME DERAM E AINDA ME DÃO FORÇA PARA VIVER...

OBRIGADA A MULHER MAIS ESPECIAL DO MUNDO QUE EU GEREI NO MEU VENTRE E IMAGINAVA QUE FOSSE UM GURIZINHO. CONFESSO QUE DESEJEI UM MENINO POR MEDO DA FRAGILIDADE FEMININA...E HOJE VEJO QUE A MULHER QUE EU FIZ É MUITO FORTE MUITO MESMO...LIÇÃO DE VIDA!!

Unknown disse...

Muito bonito o texto Nanci. Obrigada!!! Vou indicar para minhas amigas. Bjks

Anônimo disse...

Me senti um homúnculo, sentado na beiradinha de uma cadeira gigante sem alcançar as alças do braço que fica muito alto, mesmo em pé não dá para alcançar.

A mulher é gigante, mãe tem uma representação ainda maior depois de ler o texto.

Maria-Sem-Vergonha do Cerrado disse...

Jacy, uma feminista por quem nutro um profundo respeito deixou o seguinte comentário sobre o post "A maternidade e a dominação do corpo e da alma das mulheres":
até que enfim um voz diferente nesse terrível dias das mães...porque não há nenhum espaço para quem não quis padecer no paraíso !!!! é isso ai... por enquanto as santas mães e mulheres são um único ser...mas quem sabe um dia irão compreender o que é ser mãe de todos.... e não ser mãe de um...ser mulher e não ser mãe..... dificil não... um beijão...jacy

Maria-Sem-Vergonha do Cerrado disse...

Mi, vc tem toda razão: a publicidade, às vezes, age de forma tão subliminar que nem nos damos conta de como o discurso presente nos seus produtos vão sendo incutidos no nosso cotidiano. Os desafios são grandes mesmo.

Jack, como é bom lamber as nossas crias e como nossas mulheres (mães, avós, bisavós) foram fundamentais na nossa história! Jacy nos chama a atenção para o cuidar não só de um ser, mas de vários seres. Aí, temos que aprender mesmo com os indígenas. As crianças pertencem à comunidade e somente uma sociedade que cuida das suas crianças (o futuro) e dos anciãos (o passado) é capaz de experimentar o amor, a generosidade, a solidariedade e vencer a barbárie e manter vivos os sonhos, a esperança.
Quanto ao anônimo, a Maria-sem-vergonha adora, admira e respeita muitos os homens que gostam e respeitam às mulheres hehehehehe

Canto da Boca disse...

Sei que não precisa dizer, mas ganhou uma fã. Parabéns pelo espaço. Voltarei.
Dias felizes.
Abraços.
;)

MARTHA THORMAN VON MADERS disse...

Este texto é divino. Parabéns. Fiquei aqui um tempo longo...e amei.
Fiz postagem nova..,apareça por lá, será muito bem vinda. Um abraço
marthacorreaonline.blogspot.com

Unknown disse...

Nanci,
Ler este texto me emociona, a maternidade me fez uma pessoa bem critica a sociedade, tive que crescer tão depressa com meus 16 aninhos ... aprendi com a maternidade a amar verdadeiramente ... com a doença de minha filha - a Bela Bruna que hoje tem 17 anos, senti dores que jamais conseguiria explicar e com as dores me senti muito forte, mais capaz, mais feliz, mais necessária ... a maternidade para mim, foi aprender a crescer e a cada dia um novo aprender ... Hoje Eu, Bela Bruna e Clara Luz queremos uma nova criança, e com esta adoção que esta sendo planejada dia a dia por nós, temos certeza que aprederemos mais e mais ... aprender com a diferença, respeitar os limites, nos faz sem duvidas ver o mundo de uma maneira ESPECIAL ... Somos Mulheres ... Guerreiras ... mães especiais, mães adotivas, mães avós ... somos Grandes !!!

Parabéns pelo seu belo TEXTO ...

Anônimo disse...

Nanci, vou me dedicar uma pouco a questão da maternidade, pois como uma psicóloga social aprendemos a perguntar a historicidade dos fenômenos inclusive os psicológicos... e problematizando a maternidade pergunto? será que sempre foi assim ? sabe-se que em outros tempos o sentido de mulher não estava colado ao de maternidade como atualmente... e que as grandes deusas, curandeiras e as bruxas ( como gosta) não seriam mães... e em uma perspectiva de gênero, os homens que não cumprem seu destino biológico - são até hoje os fazedores de cultura- os grandes poetas, lideres espirituais, pensadores... enfim... há uma relação no mínimo dicotomica entre biologia X cultura, natureza X razão, espiritualiddade, alteridade X medianidade ... que esse dicurso atual de mãe sublime escondeu...quando ? porque ? quem ganha com isso ? Acho que são coisas que devem ser refletidas, e ainda mais nesse Brasil - aonde meninas quase crianças empobrecidas vêem nesse discurso a única possibilidade de projeto de vida... é aqui é a Jacy orientadora -te chamando para realizar esse debate..que tal ? no mais como uma mortal...amo minha mãe e todas as demais - e desejo um maravilhoso dias das mães - com muitos presentes - lógico !!!

Nell Moraes disse...

Nanci,
Fica, assin, até parecendo trivial elogiar seus textos, mas, não nego sou mesmo sua fã, sempre fui ...desde que a conheci como estudante de comunicação lá na U.F.M.S, na aula de Comunicação Alternativa com o Prof. Edsonn Silva. Ocasião em que você falava sobre o trabalho que desenvolvia junto às meninas de rua...e naquele tempo você mesmo não tendo a experiência da maternidade, já dava vida; esperança; amor; expectativas áquelas meninas marginalizadas pelas injustiças de nossa sociedade.
E dava pra ver o brilho em seu olhar e tanto amor e compromisso com aquelas vidas que nenhuma ligação tinham com você...por isso te admirei...e pensei: que ser humano maravilhoso é essa, também, "menina" Nanci Silva.
Então, discordo do início do texto - não da belezura como o escreveu - mas, qdo diz que só foi mãe pela primeira vez há dez anos...
Não, querida vc já foi mãe - no sentido de gerar vidas e se comprometer socialmente, historicamente por vidas - há muito mais tempo...
E, quamdo eu mostro às minhas filhas o que a tua competência escritora e sensiblidade nos ensina, você continua e compartilhar com todas Nós - Mães - nessa difícil tarefa, que educar vai muito além de criar.
Então, aproveito para homenagear você, mãe Nanci que gera vidas porque gera idéias e compartlha através desse espaço com toda serenidade; sensibilidade; inteligência numa demonstração de tão sublime amor; compromisso social que nos contagia e nos ensina. E tbém um beijão para sua Mamãe que te gerou e a educou para nós.
Nely

ventura disse...

Nan
Taí o “conceito/palavra/estado/ser/ pessoa”, muito difícil debater, o de se/estar mãe!!!
Para nós homem a história do patriarcado nos relega há um lugar muito ruim, de opressor, seja como companheiro ou filho, sempre em estado de possuir, além do afeto, a pessoa...
Roubando-nos a amizade, a cumplicidade que constroem nas relações solidárias entre seres humanos do mesmo gênero ou opostos, e para piorar vivemos em mundo que as relações baseiam-se na disputa, no ganho, na mais-valia...cadê nossos sentimentos nisso tudo ???
Senti-me muito feliz ao ler o post, ao perceber que pertenço a uma geração que pode tentar superar essas dicotomias imbecis e sexistas que patriarcado-capitalista nos impôs para poder lutar por um mundo em que os homens possam expressar o carinho entre eles mesmos, e que as mulheres decidam quando e se querem transformar-se em mãe. Que isto seja uma escolha delas e não uma obrigação social, precisamos discutir sobre o mito do amor materno, como ele se deu na história da humanidade.
Contudo eu só posso dizer algo, amo muitas mães que a vida me deu...e espero que o poeta esteja certo: “Só as mães são felizes”
Beijo do Didio

Maria-Sem-Vergonha do Cerrado disse...

Todos os posts me emocionaram muito. Kelly deu um testemunho vivo da garra da mulher que, mãe, solteira, militante, profissional, lutadora, buscou na dor a força para ser uma mãe de uma criança lindamente especial e conheceu o amor incondicional pela vida. Com mulheres como Kelly só tenho a aprender.
Viva, Jacy! fiquei muito feliz em ver o seu primeiro post aqui e ele veio instigante, o que não poderia ser diferente. Vc traz, a partir das suas reflexões e conhecimento acadêmicos, questões importantes para o debate, como e por quais razões o pensamentamento cartesiano deixou cristalizadas na sociedade moderna as dicotomias entre biologia X cultura, natureza X razão.Sem esse debate não podemos compreender o papel da mulher hoje.
Nesta direção, Didio já aponta que a nossa geração pode contribuir com a superação dessas dicotomia e com a construção de novos seres humanos, movidos por outros valores.
Nelly resgatou um dos momentos mais felizes da minha vida, quando desenvolvi projetos de comunicação com os meninos e meninas de rua - uma época em que testemunhei a crueldade do capitalismo e dos seus sistemas repressores, mas também experimentei momentos extraordinários de solidariedade.
E nisso tudo, vivi um dia lindo, com muito beijos e abraços, presentes (livros, CDs e um pijaminha delicioso)e cinema...também amo muito a minha mãe e amo demais meus filhotes...e quero ter forças sempre para lutar por um mundo diferente para todos os filhos da Mãe Terra.

Unknown disse...

seu texto é tão denso, que tem muitos pontos p/ serem comentados.
sobre o debate sobre mães / maternidade, precisa-se definir ou discutir o conceito de mãe, já que existem Mães e mães - igualmente à diversidade de pessoas. talvez a discussão seja exatamente essa, a padronização do conceito, incutido culturalmente como um ser divino e imutável.
sobre o meu dia das mães, sexta-feira a escola fez uma comemoração no período da manhã. meu filho chorou porque a mãe dele não estava presente para ele entregar as flores c/ bombom no miolo, que eu mesma paguei (eu tinha conversado com ele sobre a impossibilidade de ir, mas disseram pra mim que ele não tem capacidade de entender e as mães dos outros amiguinhos estavam presentes). mas quando ele me encontrou, o sorriso estava enorme e o abraço e o beijo mais gostosos que os bombons, que nós 2 comemos.
Fomos almoçar na Paróquia, pelo menos me livrei da cozinha nesse dia. rsrs. presentes nunca esperei, porque não cultivo muito esse negócio de dia comemorativo comercial.
Sobre a "tarefa" doméstica das mães, mulheres, resolvi que na maioria das vezes vou fazer a minha parte sem reclamar. Se ninguém ajudar ou não fizer a parte que poderia fazer, vou fazendo o que precisa ser feito, mas com direito de perder a paciência de vez em quando. Conforme já me disseram em outras circunstâncias: "Seja você próprio a mudança que quer ver ocorrer no mundo." Mahatma Gandhi
Quem sabe o exemplo serve, e lembrando da minha mãe, acho que o exemplo serve mesmo, porque ela nunca esperou ninguém pra fazer nada pra ela.

Unknown disse...

Nanci, cá estou eu com 36 anos, aparentemente com tudo ok para ter um filho...mas!!! Cadê o entusiasmos? Quando era uma menina pensava que iria casar, ter filhos...tal qual as aprendi na escola " nasce, cresce, reproduz e morre". Não sei ao certo o que aconteceu pelo caminho, que me fez criar uma resistência, profunda com relação a maternidade. Já me perguntei tanto: será que sou egoísta? será que não vou chorar mais tarde pela oportunidade que perdi? será que vou ser castigada? No entanto a minha pergunta mais recorrente é: Por que com o tempo perdi a vontade de ser mãe? Tenho hora que acho ser por pura falta de esperança no futuro...
Quanto ao dia das mães...o que me incomoda é o fato de ter se tornado a segunda melhor data para venda...e aquelas propagandas idiotas que "coisificam" o amor.
Reconhece entre os meus sentimentos uma boa dose de covardia, ...espero me redimir um pouco usando um pouco minhas energias na luta por um mundo melhor para os filhos e filhas de todas as mães.
Bjs

Maria-Sem-Vergonha do Cerrado disse...

Mi e Kelly,acho importante dizer uma coisa: a maternidade foi um divisor de águas na minha vida. Com a chegada dos meninos, fiquei mais centrada, mais pé no chão, redescobri uma força interior que me impulsinou a voltar a estudar, fiz um curso de pós-graduação, voltei a fazer inglês, entrei como aluna especial no mestrado, montei o meu próprio negócio. mas sei que pertenço a um grupo minoritário de mulheres que têm em casa um companheiro que assume em pé de igualdade as responsabilidades sobre os filhos, inclusive em alguns momenos, qdo adoeci, assumiu tudo por inteiro. Sem contar que eu tenho a Clara, nosso braço esquerdo e direito. Mas sei que a maioria das mulheres não vive assim. Além das atividades profissionais, tem as tarefas domésticas e a educação dos filhos e fazem isso sozinhas - não contam com equipamentos sociais como escola para a educação infantil, lavanderias públicas, restaurantes comunitários. então, a maternidade é um exercício nada fácil, muitas vezes penoso. Sei disso porque esta é a história da minha mãe, uma grande guerreira que, chefe de família, teve de sacrificar tudo pelos filhos e pela família, deixando de se realizar como mulher, como artista, como profissional.
Fico também, Kelly, indignada com a publicidade que mostra um tipo de mãe que não existe: a rainha do lar, dócil, santa...tudo para estimular o consumismo.