terça-feira, 27 de maio de 2008

Clarice Lispector no palco


Clarice Lispector faz malabarismo de sentimentos com as palavras. É anticonvencional. Quebra as máscaras. Ao mesmo tempo em que se desnuda na criação literária, se resguarda num mistério. "Eu nunca fui livre na minha vida inteira. Por que dentro eu sempre me persegui. Eu me tornei intolerável para mim mesma." Ao ler os seus textos sinto que viajo pelos labirintos do meu interior. “Estou sentindo uma clareza tão grande que me anula como pessoa atual e comum: é uma lucidez vazia, como explicar? Assim como um cálculo matemático perfeito do qual, no entanto, não se precise. Estou por assim dizer vendo claramente o vazio. E nem entendo aquilo que entendo: pois estou infinitamente maior que eu mesma, e não me alcanço”. Fico imaginando as palavras de Clarice no palco, interpretadas com os sentimentos plurais dessa mulher que, a exemplo de outras extraordinárias, também sofria da “doença da alma”, conseguia ser múltipla, amando e odiando, experimentando a liberdade e a prisão, ousando com palavras secas e úmidas.: “Onde aprender a odiar para não morrer de amor?" Vou ter o privilégio de experimentar, como espectadora, o doce e o amargo de Clarice no palco. Um espetáculo que, sob a direção de Nill Amaral, está revolucionando a história do teatro sul-mato-grossense. Nill também é assim: extraordinário, instigante, ousado, criativo.

No gosto doce e amargo das coisas de que somos feito
6, 7 e 8 de junho no Depósito Cênico do Sesc Horto
Imperdível!
"Estou procurando, estou procurando. Estou tentando entender. Tentando dar a alguém o que vivi e não sei a quem, mas não quero ficar com o que vivi. Não sei o que fazer do que vivi, tenho medo dessa desorganização profunda. Não confio no que aconteceu. Aconteceu-me alguma coisa que eu, pelo fato de não saber como viver, vivi outra? A isso queria chamar desorganização, e teria a segurança de me aventurar, porque saberia depois para onde voltar: para a organização interior. A isso prefiro chamar desorganização pois não quero me confirmar no que vivi - na confirmação de mim eu perderia o mundo como eu o tinha, e sei que não tenho capacidade para outro."
Clarice Lispector

3 comentários:

D disse...

A Clarice é sensacional! É daquelas personagens a respeito de quem sempre teremos coisas para descobrir. Finalmente alguém põe um pouco da vida dela no teatro. Espero poder assistir essa peça!

Mar la disse...

No gosto doce é amargo é tão deliciante! Assisti duas e poderia assistir mais dez ou duzentas, como falei para o Nill Amaral...
Vale a pena viajar.
Um elenco admirável.

Unknown disse...

De fato ela é instigante...sedutora, não convencional..única.