terça-feira, 5 de fevereiro de 2008

Sem Confetes, Sem Serpentinas


Terça-Feira de Carnaval, a festa da carne, festa pagã, período em que as fantasias secretas ganham formas, máscaras, roupas e, às vezes, nada disso: tiram-se as máscaras, tira-se tudo e fica apenas o corpo nu em movimento, o que não deixa de ser uma fantasia. Diferente de alguns, sempre achei que na revolução também deveria de ter carnaval, festa e alegria... mas cá entre nós, está faltando um pouco mais de revolução no carnaval. Sinto saudades daqueles samba-enredos “liberdade, liberdade, abra as asas sobre nós”... Mas sem confete e sem serpentinas, o Maria-Sem-Vergonha está aqui para dizer que essa mutação carnavalesca é diuturnamente experimentada aqui no ciperespaço. As novas tecnologias realmente possibilitam encontros antes inimagináveis. Deliciosos encontros devo dizer.
Hoje, lendo os comentários dos meus amigos e amigas deixados aqui, além de sentir o coração bater mais forte no peito, fiquei pensando sobre essa revolução extraordinária que o mundo virtual nos possibilita. Lembrei-me, daquela expressão de AHN!, queixo caído, admiração que tomava conta de mim quando na minha pós estudava a Sete Zoom, a primeira mulher virtual brasileira! Hoje, os meus AHNs! são outros... estão relacionados às mudanças provocadas no comportamento humano. Acontece uma verdadeira mutação antropológica: aqui no ciberespaço. Essa possibilidade de interação é inédita na história da humanidade e gera metamorfoses. É o rompimento com o invisível que eclode. É a consciência da nossa existência que desperta nas páginas do orkut, nos álbuns infográficos, comunidades virtuais, nos scraps, nos chats, mas vai além disso...Estamos criando, alguns mais tímidos e outros mais desavergonhados, novas estéticas, novas poéticas e, inclusive, novos seres..Você já pensou nisso? Nossas máquinas têm sido produtoras de uma nova cultura, são portadoras e fomentadoras de sentidos... Acabei me lembrando Donna Haraway, uma historiadora da Ciência, que oscila entre o Marxismo e o pós-estruturalismo, feminista e estudiosa das relações de gênero e as novas tecnologias, que cunhou o conceito “cyborg”, para dar conta da hibridação irreversível entre, de um lado, o homem/mulher e, de outro lado, a máquina.
Acho isso extraordinário e presencio isso o tempo no ciberespaço. Vejo que, às vezes, somos meio ciborgues, seres híbridos, transformados e transformadores das nossas identidades... Até que pontos nossas relações são reais, até ponto são meramente virtuais???
Esse tema me seduz, mas não me aliena dos desafios históricos deste século XXI...Quero acreditar que Pierre Levy esteja certo: com esses novos meios temos a possibilidade de restauração de uma democracia direta e em grande escala...UAU!Já pensou, todos nós construindo em escala global um mundo livre da ditadura do mercado, do poder bélico...Sem tirar os pés do chão, não deixo de me alimentar de utopias libertárias.
Um grande ativista estadunidense contra o monopólio dos meios de comunicação propõe um boicote à grande mídia e sugere que cada um e cada seja sua própria mídia. O caminho parece simples: a criação de um blog. ... E você cria o seu próprio meio e depois se pergunta: E agora? O que faço com isso? As idéias fervem... E aí o Maria-Sem-Vergonha já nasce querendo ser diferente, quer ser aberto a quem, não se enquadrando à ordem, queira se posicionar, queira anunciar, queira ser sem vergonha....

5 comentários:

José Carlos Gomes disse...

Quase nem li o texto, de tanta alegria por ele existir! Sabe aquela comida da qual vocë gosta tanto que tem dó de engolir rápido? Vou degustar todas as suas palavras... E tirar o que for possível do prazer virtual!!! O que diria Nietzsche de um blog??

Maria-Sem-Vergonha do Cerrado disse...

Fiquei cá a pensar em Nietzche escrevendo no seu próprio blog e dizendo que "somos humanos, demasiadamente humanos" e desejando alcançar a razão, a plena razão...também me lembrei dele dizendo que o além, a culpa e noção cristã do pecado foi inventada para compensar a miséria; "inventaram falsos valores para se consolar da impossibilidade de participação nos valores dos senhores e dos fortes; forjaram o mito da salvação da alma porque não possuíam o corpo;...este horror da felicidade e da beleza; este desejo de fugir de tudo que é aparência, mudança, dever, morte, esforço, desejo mesmo, tudo isso significa... vontade de aniquilamento, hostilidade à vida, recusa em se admitir as condições fundamentais da própria vida".

Nell Moraes disse...

Também gostaria de imaginar Paulo Freire tecendo comentários sobre essa "relação dialógica" cibernética... a democratização das possiblidades de libertação da opressão tão bem construída pela mídia burquesa...
Será que ele ficaria tempos e tempos no Orkut estabelecendo alguma relação dialógica??
Olha, Nanci aqui onde moro atualmente é uma cidade com realidade bem diferente das cidades do ABC paulista (q como diria o nosso amigo Gerson Jara "berço do socialismo" rs rs). Na categoria que atuo tem pouca ou nenhuma prática de participação coletiva em busca de objetivos comuns..então imagine ... a dificuldade!! Tenho tentado construir uma conscientização da necessidade de busca por participação coletiva.. e, inclusive, usando o Orkut p isso...
Tal foi minha supresa que um colega, daqui - sociólogo graduado pela USP - mandou um scrap me dizendo q as páginas do Orkut "não é espaço para lutas políticas"... Fiquei espantada com essa fala, principalmente vindo de um sociólogo... fiquei ..refletindo e até consultei algumas pessoas sobre...
e agora lendo seu texto - esse texto - penso que ele deveria lê-lo quem sabe.. não mudasse de opinião, o que acha??
bjs

Maria-Sem-Vergonha do Cerrado disse...

Nelly, bela, vejo que o ciberespaço é mais do que um interligação de máquinas inteligentes. Ele é um espaço sim para a construção de redes libertárias, nas quais deixamos de ser meros leitores e expectadores para atuarmos como autores, protagonistas. Deixamos de ser receptores "passivos" e isolados um dos outros e ultrapassamos os limites e barreiras do tempo e espaço. Veja esse pequeno exemplo do Blog: quantos encontros não foram possíveis!
Mas, apesar de todas as possibilidades, tenho a convicção de que a luta política não pode acontecer apenas por aqui. Temos de manter raízes nas organizações sociais, nas ruas, aldeias, acampamentos, praças e avenidas e, inclusive, no coreto vitual.hehehehe beijos

Unknown disse...

Esperança equilibrista...sua voz é a resistência contra a banalidade, " quando faltam os olhos ainda resta o coração". Você tem a capacidade de ver e denunciar você sempre será a pedra que fala!
Essa versão Rambo/Al Capone que governa nossa querida província, ainda vai entender o que é a contradição.