sexta-feira, 8 de fevereiro de 2008

A Esperança Equilibrista contra a Bárbarie e contra a Tropa de Elite

Nestes tempos cinzas, ainda ouso dizer que a nossa esperança equilibrista não pode perder a mágica de manter nossos sonhos no ar. É essa ousadia que ainda me faz erguer a bandeira da cor do arco-íris, que é bandeira da tolerância, dos direitos humanos na sua plenitude, enfim, é a bandeira de todos que lutam por uma nova ordem mundial, por um outro mundo possível, portanto não é apenas a bandeira do movimento gay. Quando vejo a barbárie ser anunciada por uma autoridade de Estado, como o governador André Puccinelli, sinto vontade de convidar os amigos malabares para os protestos da cidadania.
Depois de ter mandando a polícia secreta espionar uma assembléia de professores no ano passado, ontem, quinta-feira, o governador disse em alto e bom som para as câmeras de TV que, diante de qualquer gesto de reação dos presos, a ordem era atirar, disparar. Ora, presos são seres humanos, cidadãos, que “desarmados”, estão sob a tutela do Estado para que possam ser reeducados e, posteriormente, reintegrados à sociedade (parece utopia, nés? Mas está na lei). Disparar armas de fogo contra cidadãos desarmados é dar ordens para se assassinar civis. É romper com o pacto civilizatório proposto pelo Estado Democrático de Direito. É colocar todos nós sob a ameaça da barbárie – barbárie, aliás, que já se manifesta tanto na ação policial que inspirou o filme Tropa de Elite ou na ausência do Estado e dos seus aparelhos de Segurança, deixando o crime organizado comandar regiões. Não é um debate simples, entretanto, se o próprio Estado adotar o caminho da barbárie, não há esperança equilibrista que resista, não há cidadania que sobreviva.

Vale a pena lembrar
Como bem coloca Margarida Genevois, os Direitos Humanos são fundamentais ao Homem e à Mulher pelo fato de serem seres humanos. Não resultam de uma concessão da sociedade política, mas constituem prerrogativas inerentes à condição humana. “Foi apenas no século XX, sobretudo depois da Segunda Guerra Mundial, que eles se definiram explicitamente e adquiriram o reconhecimento mundial. A noção de Direitos Humanos, todavia é muito antiga, perde-se no tempo.” Ela relata ainda que o Código de Hammurabi (1700 a.C. aproximadamente) menciona leis de proteção aos mais fracos e de freio para a autoridade. A civilização egípcia, especialmente na era dos faraós (dinastia XVIII), já concebia o poder como serviço. Na Grécia do século V a.C., os cidadãos já controlam as ações do Estado (polis); O limite do poder é dado pelo direito que exercem os cidadãos ao participar dos assuntos públicos. Entre os séculos VII a.C. e XVIII da nossa era, a humanidade faz progressos no controle dos governantes, que exercem e distribuem a justiça. Os gregos desenvolvem o conceito da liberdade, como expressão máxima da dignidade humana, baseada na idéia da igualdade.


Um marco civilizatório
Mas o marco da consolidação do Estado Democrático de Direito foi a Revolução Francesa, embora devamos destacar um fato importante anterior a esse que foi a Declaração de Independência dos Estados Unidos, também conhecida como Declaração de Filadélfia. Nela, são expostas as razões fundamentais que levaram a Colônia à independência da Inglaterra: ” Todos os homens foram criados iguais. Os direitos fundamentais foram conferidos pelo Criador entre eles estão o da vida, liberdade e o da procura da própria felicidade. Sempre que qualquer forma de governo tenta destruir esses direitos, assiste ao povo o direito de mudá-lo ou aboli-lo e de instituir um novo governo.”
A Revolução Francesa em 1789 traz como essência da sua Declaração a idéia de que, ao lado dos direitos do Homem e do Cidadão, existe apontada a obrigação de o Estado respeitar e de garantir os direitos humanos. Como se vê, cabe ao Estado e aos governantes fazer com que os direitos imperem.
Depois disso, muitas outras leis e tratados surgiram, porém nenhum com a força e a amplitude da Declaração Universal dos Direitos Humanos em 1948, no pós-guerra, um documento em favor da humanidade e que restitui o pacto civilizatório contra a barbárie, contra o genocídio e contra a violação dos direitos dos cidadãos, dos direitos humanos.
E no Brasil, toda autoridade, todo cidadão e toda cidadã deve obediência à Constituição Federal, que foi chamada por Ulisses Guimarães de “Constituição Cidadã e, embora tenha virado uma colcha de retalhos pelas reformas neoliberais, ainda proíbe qualquer governante de mandar assassinar cidadãos civis, sejam eles criminosos ou não, presos ou não.

"Asas!
A esperança equilibrista
Sabe que o show de todo artista
Tem que continuar..."

O Bêbado e a Equilibrista
Vale a pena ouvir na voz da Elis "O Bêbado e a Equilibrista"
http://br.youtube.com/watch?v=6kVBqefGcf4


6 comentários:

lesly lidiane disse...

Flor dia dia. Suas palavras servem de novo ânimo àqueles que como eu sentem tristeza quando lêem páginas iniciais como a do jornal de hoje. Sua palavra é cupim na cara de quem tenta publicar a nossa pseuda-ordem estadual. Um beijo doce e saudoso. Deixo aqui no nosso cantinho sem vergonha uns versos de Leonardo.

lesly lidiane disse...

ORAÇÃO DO PRESO
Leonardo Boff


Quando olhares para os que nos aprisionaram
e para aqueles que à tortura nos entregaram;
Quando pesares as ações dos nossos carcereiros
e as pesadas condenações dos nossos juízes;
Quando julgares a vida dos que nos humilharam
e a consciência dos que nos rejeitaram,

ESQUECE, Senhor, o mal que por ventura cometeram.
Lembra, antes que foi por este sacrifício
que nos aproximamos do teu filho crucificado:
pelas torturas adquirimos suas chagas;
pelas grades, a liberdade de espirito;
pelas penas, a esperança de teu reino;
pelas humilhações, a alegria de seus filhos.

LEMBRA, Senhor, que desse sofrimento brotou em nos,
qual semente esmagada que germina,
o fruto da justiça e da paz,
a flor da luz e do amor...

Mas, LEMBRA, sobretudo, Senhor,
Que jamais queremos ser como eles,
nem fazer ao próximo o que fizeram a nós...
AMÉM

Unknown disse...

FÚRIA, INDIGNAÇÃO, NOJO, RAIVA, ÓDIO...FOI TUDO O QUE EU SENTI QUANDO VI ONTEM O PUCCINELLI FLANDO NO JORNAL DA GLOBO SOBRE SUA ORDEM A PM.
NAO E POSSIVEL QUE ELE FICARÁ IMPUNE MEU DEUS...

QUE ISSO? QUE RETROCESSO É ESSE?

AAAAAAAAASAAAAAAAAAAAS A COMPANHEIRADA DE MS PARA PROTESTOS INFINITOS, E LUZ PARA ESSE POVO SULMATOGROSSENSE QUE PARECE QUE NAO TEM MEMÓRIA.

um absurdo meu deus...

(inconformada)

ventura disse...

Quando ouço um governante como este,que atualmente está no poder, me vem aquele poema do Drummond, "chega mais um tempo emque não se diz mais meu Deus, tempo de eterna desilusão", nosso sonho se alimenta daquela resitência que está nos olhos e palavras daqueles anônimos lutadores que estão ainda nas ruas, aldeias, assentamentos, universidade...
Estes nos dão a utopia de viver...para construir nosso arco-irís para encontrar o pote de ouro, que será para tod@s
beijo

Unknown disse...

"Do rio, que tudo arrasta, se diz violento, mas ninguém diz violentas as margens que o comprimem". Bertolt Bretcht

Pequena, a questão do sistema penitenciário resume-se nesta frase. Creio que no fundo o governador sabe que é preciso muito mais do que atirar para por fim a isso. Truculência? É o que ele aprendeu, mas o André Puccinelli abalou quando um adolescente infrator disse a ele que se fosse governador compraria uma TV para os jovens em conflito com a lei internados na Unei que ele visitou.
Fica a indagação: qual a perspespectiva desse menino homicida, no auge da adolescência?
O governador abalou...mas leva um tempo pra ele aprender..

BEIJO DESARVORADA

Unknown disse...

Nanci, também não fiz uma leitura do Goethe,...não sei se as coisas são simples assim céu-inferno, deus-diabo...
Goethe trabalha a sutileza da vida humana o limite, a contradição, o ser "equilibrista", o ser humano na sua dimensão diabólica/divina, e acima de tudo ele criticava a dimensão divina,imposta pela classe dominante de um dado período histórico, como única maneira de compreensão da realidade...eu também gostaria de ler Fausto. bjs