quarta-feira, 6 de fevereiro de 2008

Mallarmé e o livro sem fim e sem começo

Foto do filme Acossado, do Godard


Um comentário deixado agora à noite, aqui, no Maria-Sem-Vergonha, o qual pedia licença para publicar o texto sobre Borboletas, Metamorfoses e Paixões me fez lembrar de Mallarmé que sonhava em produzir um livro com uma outra arquitetura - um livro sem começo, meio e fim. Um sonho que não se realizou, mas que, hoje, na rede, substituindo lápis e canetas por pixels, podemos escrever e rescrever uma obra sem fim, sem meio e sem começo e sem uma única autoria. Stéphane Mallarmé, poeta francês, foi considerado maldito, ao lado de Baudelaire e Rimbaud. Aliás, essa tríade de poetas deram asas ao lirismo contemporâneo e ajudaram a poesia moderna a voar.


“Le vif oeil dont tu regardes
Jusques à leur contenu
Me sépare de mes hardes
Et comme um dieu je vais nu.

Tradução de Augusto de Campos

O olho vivo com que vês
Até o seu conteúdo
Me aparta de minhas vestes.
E como um deus vou desnudo."

4 comentários:

kartoigres disse...

SALUT

"RIEN,CETTE ÉCUME,VIERGES VERS
A DE DÉSIGNER QUE LA COUPE;
TELLE LOIN SE NOIE UNE TROUPE
DE SIRÈNES MAINTE À L'ENVERS..."

BRIDE
"NADA,ESTA ESPUMA,VIRGEM VERSO
APENAS DENOTANDO A TAÇA;
COMO LONGE AFOGAM-SE EM MASSA
SEREIAS EM TROPA AO INVERSO..."

kartoigres disse...

É um pequeno trecho de um soneto de Mallarmé,onde supostamente,há uma procura do absoluto na solidão,depois vou manda-la na íntegra(este soneto esta no livro:IGITUR ou A loucura de Ebehnon).bjs

kartoigres disse...

Onde esta "bride" leia-se BRINDE

Anônimo disse...

BRINDE

Tradução: Augusto de Campos

Nada, esta espuma, virgem verso
A não designar mais que a copa;
Ao longe se afoga uma tropa
De sereias vária ao inverso.

Navegamos, ó meus fraternos
Amigos, eu já sobre a popa
Vós a proa em pompa que topa
A onda de raios e de invernos;

Uma embriaguez me faz arauto,
Sem medo ao jogo do mar alto,
Para erguer, de pé, este brinde

Solitude, recife, estrela
A não importa o que há no fim de
um branco afã de nossa vela.



SALUT

Rien, cette écume, vierge vers
À ne désigner que la coupe;
Telle loin se noie une troupe
De sirènes mainte à l'envers.

Nous naviguons, ô mes divers
Amis, moi déjà sur la poupe
Vous l'avant fastueux qui coupe
Le flot de foudres et d'hivers;

Une ivresse belle m'engage
Sans craindre même son tangage
De porter debout ce salut

Solitude, récif, étoile
À n'importe ce qui valut
Le blanc souci de notre toile.


é lindo.