terça-feira, 26 de fevereiro de 2008

Queridos Amigos e Invasões Bárbaras 2

Por Kelly Garcia


Nanci, você e suas sutilezas...Quando assisti Invasões Bárbaras (cinema) me emocionei tanto que não consegui parar de chorar, o filme acabou, a luz acendeu, e eu fiquei sentada chorando, morri de vergonha das pessoas, fui a única que desabou a chorar. Credo!! Nem eu entendia o motivo para tanta lágrima...Você acredita que entrei no carro e ainda sobrou vontade de chorar. E chorei.Na época atribui meu comportamento aos meus hormônios (saída racional, como sempre minha primeira opção).Hoje lendo seu texto, comecei a fazer uma nova leitura do que aconteceu comigo. No fundo os meus sentimentos não eram em razão unicamente da delicada história daqueles velhos companheiros aguardando a morte do amigo com câncer, momento enfatizado, por meio das cenas da vida particular de cada um...do drama de cada um, como o do professor universitário (coroa) casado com uma patricinha, loira, jovem e vazia, ou dos amigos gays, ou da mulher madura e solitária entregue a bebida e ao sexo sem paixão, mãe de uma filha viciada, etc..O filme jogava para o público uma espécie de jogo da verdade, com a pergunta o.que fomos e o que somos, ou ainda, o que eu era e no que me tornei!Naquele momento, não sentia a morte de um único homem, mas via a morte de toda uma geração,...que se foi, deixando no seu lugar uma outra geração.A melancolia foi por saber que essa nova geração é a que eu pertenço...sem grande lutas, sem grandes sonhos, sem ideologias, desiludida, incrédula, acomodada, individualista, consumista e apática diante da miséria humana...Como todo novo traz em si um pouco do velho...talvez foi presenciar os caminhos e com os rumos desses velhos idealista que tornou essa nova geração um pouco desiludida e desencantada.Tenho sensibilidade para perceber as fragilidades da minha geração...como gostaria que velhas lutas tivessem sido concretizadas, é triste ver a injustiça vencer e o dinheiro se tornar o único sentido das coisas. É doloroso saber que o ter supera o ser, ou melhor que ser e ter tem o mesmo significado nessa sociedade. É insuportável a sensação de impotência diante do “nefasto” ser absorvido como necessário e até mesmo imprescindível. Chorar em Invasões Bárbaras foi um desabafo! Daqueles que dão cabo ao nó da garganta e que possibilitam clarear as idéias, foi um lamber as feridas...E o que ficou ...foi uma espécie de certeza... mesmo sendo eu “produzida” em um ambiente dominado pela geração “cola-cola” , espero um dia participar desse jogo da verdade, tendo como saldo, os amigos, as histórias, as músicas, os risos, as lágrimas e as lutas pelas por causas de preferência nobres e justas!E é por isso que continuo amando cinema...
Kelly Garcia é advogada, militante de esquerda, dona da Maria do Povo e participante ativa do Maria-Sem-Vergonha....Ah! essas Marias!

10 comentários:

Maria-Sem-Vergonha do Cerrado disse...

Kelly, companheira, no sentido pleno, de partilhar pão e sonhos. Também saí em prantos do cinema. Não me contive e fui assisti-lo novamente. E a segunda vez foi na Academia de Tênis em Brasília. E foi bom ver em Brasília, numa época em que era obrigada a frequentar os corredores tão assépticos do poder, mas que por muitos momentos eram fétidos, exalando cheiros neoliberais, de corrupção, de injustiças, que me davam ânsia.
Sim, o filme Invasões Bárbaras nos deixa nus...revendo por meio de fotografias a minha história, vejo que ousamos quebrar muros e cercas em Mato Grosso do Sul. Isso tanto no aspecto tangível: cercas do latifúndio, dos vazios urbanos, das desigualdades, mas também os intangíveis: dos preconceitos e da discriminação - mulheres, negros, índios, homossexuais, pessoas com deficiência. Hoje, precisamos quebrar os nossos muros e cercas interiores, que após os trinta e quarentas anos, nos trazem uma certa resignação, para não dizer adaptação. Acabei me lembrando do que dizia a juventude de 68: "não confie em ninguém com mais de trinta"...será????? será que eles estavam certos????
Não, não...temos bons exemplos, como o escritor e dirigente comunista chileno Volodia Teitelboim que morreu,recentemente, aos 91 anos, em consequência de um câncer linfático e de uma infecção renal.
Volodia Teitelboim teve uma vida inteira dedicada ao socialismo. Temos o Florestan Fernandes, Perseu e Claudio Abramo...Temos o Plínio de Arruda Sampaio...temos tantos.

ventura disse...

Sinergias...

Unknown disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Unknown disse...

ENFIM A LIBERDADE... dos preços

Nesses tempos conturbados, não é fácil perceber estas coisas, aparentemente tão simples. a manipulação das emoções, o peso fabuloso da mídia, os tropeços da revolução, turvam a mente de enorme contingentes.
Importa agora mostrar que a procura de um caminho alternativo socialista dentro dos marcos do marxismo revolucionário, parte exatamente da natureza das crises estruturais do capital.
Como disse lênin " a política não pode deixar de ter primazia sobre a economia.Pensar o contrário é esquecer o abc do marxismo ".
A busca de nossos sonhos é que alimenta a nossa alma.
erisvaldo

kartoigres disse...

Nao consegui postar,mas foi para o orkut...bjs

Maria-Sem-Vergonha do Cerrado disse...

O que tem pensado sobre o carminho alternativo para o socialismo, Erisvaldo????
Tenho lido um pouco mais sobre a Venezuela e a Bolívia. É inegável que algo novo surge no nosso chão latino americano e esse algo insurge contra os ventos do Norte...acho que aqui, no sul, a esperança vermelha brota...mas confesso que em relação ao Brasil ainda não consigo enxergar por onde caminhar daqui pra frente...

Maria-Sem-Vergonha do Cerrado disse...

Sérgio não conseguiu postar o comentário aqui e acabou deixando no orkut...então, partilho a opinião dele aqui:
""Com amor no coração,
preparamos a invasão
cheio de felicidades
entramos na cidade amarga."
Doces Bárbaros ainda continua sendo:
BUDA
KRISHINA
JESUS
GANDHI
TEREZA DE CALCUTÁ
Acreditao, que o AMOR incondicional continua sendo a melhor "alma" para
qualquer invasão ou revoluçao que ainda, gostariamos de fazer... "

Unknown disse...

Bom primeiro quero dizer que "ALMA" que refiro e que acredito no texto anterior vem do Latim ...refere-se ao principio que dá movimento.. ou ainda da física quântica que define energias construindo a realidade..outros conceitos deixo para o papa,edir macedo,etc...
Mas em relação a pergunta da Maria.
a realidade é dura,complexa,a luta é difícil, a correlação de forças ainda é desfavorável ao movimento revolucionário, mas há elementos para afirmar que o imperialismo não é invencível e poder ser derrotado. é falsa a idéia de que não há alternativas ao neoliberalismo e as políticas de guerra e hegemonia do imperialismo estadunidense. nossa alternativa como forças transformadoras é lutar , resistir e acumular forças , em processo de longo prazo.corresponde a nós a tarefa de abrir perspectivas e aceitar os desafios da situação. é nosso dever buscar os procedimentos estratégicos , táticos e metodológicos para acumulação prolongada e revolucionária de forças, em que o fortalecimento dos partidos de esquerda, forças progressistas, movimentos sociais...
são fatores indispensáveis a nova luta pelo Socialismo.
o historiados marxista inglês robin Hobsbawn , insiste que " os socialistas estão aqui para lembrar ao mundo que em primeiro lugar devem vir as pessoas e não a produção, as pessoas não podem ser sacrificadas". e mais ele afirma que O futuro do socialismo assenta-se no fato de que continua tão necessário quanto antes, embora os argumentos a seu favor já não sejam os mesmos em muitos aspectos.
erisvaldo

Anônimo disse...

Não vi o filme, mas desde sempre me sinto repleto de uma saudade do antes, do ontem, de um tempo que o impossível era almejado. Saudade da utopia que enche o coração de luz.


Quem sou agora
Neste mundo de ontens e antes?
Os tempos são estranhos
São surdos e vazios
Quem sou agora
Neste tempo de imensos desertos?

Tenho o coração nas mãos
A palavra na ponta da língua
Os pés no pó destes caminhos incertos

Quem sou eu agora
Neste mundo de antes e de ontens?
Os tempos estão enfadonhos
São cegos e vazios
Quem sou eu agora
Neste tempo de imensos dejetos?

Tenho o coração nas mãos.

Unknown disse...

Lindo o poema do Barone...as vezes o mundo provoca esta sensação; estar andando num deserto com o coração na mão e o peito vazio de um sentimento...sabe a música do Arnaldo Antunes, "socorro eu não tô sentindo nada..."