terça-feira, 10 de junho de 2008

A tal felicidade


Grupo Circo do Mato/ lançamento do livro Outros Sentidos/Victor Barone

Já dizia Nietzsche: “temos a arte para que a verdade não nos destrua”. Nesses tempos difíceis de persistentes tentativas de assassinatos contra utopias libertárias, tenho buscado na arte a força para sonhar. O tempo não pára. O relógio gira como hélice de ventilador. A agenda me atropela. Mas, nos últimos dias, tenho experimentado, seguidamente, a felicidade. Primeiro, foi o Sarau de lançamento do livro Outros Sentidos, do poeta e amigo Victor Barone, onde as fotografias de Elis Regina se encontraram com poemas, com a música da Maria Alice, com os artistas circenses, com o teatro e com a magia das pessoas presentes - amigos, amo os meus amigos, ainda mais quando sinto que são feitos de carne e osso, que têm calor humano. Depois, foi a peça No Doce e Amargo das Coisas de que Somos Feitos, sob a direção de Nill Amaral, um artista inquieto, intenso e profundo. Na sequência, recebi alguns poemas de Maristela Brunetto. E para completar, estou lendo Promiscuidades: a luta secreta para ser mulher, da feminista Naomi Wolf - uma abordagem autobiográfica sobre como se constrói a imagem da "piranha", da "cachorra", da "vagabunda" nas mulheres que ousaram viver mais livremente a sexualidade. Para Naomi Wolf, as mulheres da sua geração, nascidas nos anos 60 e que viveram os seus desejos, quebrando os muros dos preconceitos, são amigas sábias e experientes e deveriam ensinar às filhas que a sexualidade feminina não é promíscua, revelando-se, isso sim, divina e poderosa.
A felicidade no meu caso é alucinógena, uma mistura de euforia e êxtase puríssimo, obtida apenas com a minha química orgânica, na mais absoluta lucidez, sem nenhuma gota de produtos químicos que possam alterar o meu estado de consciência. A minha química orgânica me basta. Lembro-me de Clarice Lispector: “Criava as mais falsas dificuldades para aquela coisa clandestina que era a felicidade. A felicidade sempre ia ser clandestina para mim. Parece que eu já pressentia. Como demorei! Eu vivia no ar... “
A felicidade é viver no ar... e também é clandestina. É respirar profundamente e sentir o corpo levitando, tocado pela brisa. É por isso que eu amo o mar, o seu azul. Quando toco na areia e vejo a imensidão da água, inspiro, trago, bebo e respiro a liberdade, sinto o seu sabor no meu paladar. Mas gosto mesmo do mar à noite, completamente revolto, forte, pronto para me levar...me levar para o fundo, onde habitam as sereias azuis. A arte faz isso com o meu corpo...ela me leva, me tira os sapatos, me faz pular na água invisível dos meus sonhos. É por isso que ela é breve...é breve, mas retorna.
O tempo não pára - Cazuza


11 comentários:

Unknown disse...

Já está anotado o livro na minha agenda, quero ler. Cazuza mostrando pra gente que o tempo não pára...Boa semana e felicidades nas coisas simples e bonitas da vida. É preciso encontrar arte nas coisas simples, embora ela não seja simples. Bjks

RENATA CORDEIRO disse...

Não pára. Por alguns instantes pára. Já estive à beira da morte. E em ambas as vezes, o tempo paraou. Foram segundos, mas parou. Postei 2 coisas num só post. Vá lá Preciso da sua ajuda. Para publicar as resenhas de filmes que faço aqui. Mas, para tanto, preciso dos comentários. Sem comentários, não há publicação.
wwwrenatacordeiro.blogspot.com/
não há ponto depois de www
Um beijo e o aguardo,
RENATA MARIA PARREIRA CORDEIRO

Barone disse...

Nanci, poeta, menina. Sua prosa é poesia, seus sentimentos cristalinos, expostos. Que bom que puder participar um bocadinho disso.

Olha, quero muito conversar com a Maristela... Tentar reunir novos poetas de MS, quem sabe dar sequência a algo conjunto? O que acha?

Unknown disse...

Nanci, Naomi Wolf conhece o trenzinho e o paredão dos bailes funks do Brasil?

Maria-Sem-Vergonha do Cerrado disse...

Acho que não, Miti. ainda estou nos capítulos iniciais do livro. Penso que hoje há uma banalização das relações e a mídia contribui muito com isso.Tudo muito precoce e descartável. Acho que devemos ter com os nossos filhos um diálogo aberto para que eles vivam a sexualidade de uma forma mais tranquila, sem traumas e sem medo. E no mundo do descartável, que eles possam construir novas relações humanas, nas quais o outro/a outra tem valor.

Talita Corrêa disse...

Arte tb me faz levitar. É mto bom. Esse fds fui até a Pinacoteca e perdi a hora por lá.

Bjos

Unknown disse...

essa tal felicidade, faz lembrar tim maia... ei de encontrar...

Maria-Sem-Vergonha do Cerrado disse...

ah, Mi! mas, no meu caso, ela é tão intensa, mas é tão breve, breve...ela já foi embora

Unknown disse...

Felicidade eterna = bem-aventurança

michaelis> Bem-aventurança = 1 Felicidade perfeita. 2 Teol A felicidade eterna, de que os bem-aventurados gozam no Céu. Bem-aventuranças: os oito preceitos que Jesus Cristo pregou aos discípulos e ao povo para poderem os homens alcançar a felicidade.

Quem é bem-aventurado?
"Bem aventurados os que choram, porque eles serão consolados (Mt 5:4)" mas dizem que depende do choro.

uma engraçada que encontrei na net:
http://lusoamerica.blogspot.com/2006/09/bem-aventurana.html

"Bem aventurados os que comem linguiça com a mão,
Bem aventurados os que fazem bolo sem pensar que terão que limpar a cozinha depois,
Bem aventurados os que beijam sem cuidado algum com o batom, mesmo que este seja daqueles bem vermelhos, cujo borrão demora a sair,
Bem aventurados os que queimam a língua com o brigadeiro na colher,
Bem aventurados os piegas,
Bem aventurados os que dizem eu te amo sem parar pra pensar sobre isso,
Bem aventurados os que comem churros sentados no chão da calçada,
Bem aventurados os que dizem bom dia sorrindo,
Bem aventurados os que convidam os amigos pra vir a sua casa, mesmo que esteja uma bagunça e o sofá ainda não tenha chegado da mudança,
Bem aventurados os que choram assistindo a desenhos animados,
Bem aventurados os sinceros,
Bem aventurados os sensíveis,
Bem aventurados os que vivem e sabem disso."

O difícil nesta vida é que estamos aprendendo a aproveitar/viver a vida e vamos aprender o bastante quando estivermos bem perto do fim da vida. rsrsrs

Unknown disse...

Passando para desejar um bom findi! Bjks

Lealdade Feminina disse...

Estamos fazendo uma homenagem coletiva para a Rose Marie Muraro, que esteve internada por 20 dias, e ontem retornou a casa, onde está se recuperando da cirurgia. Para participar, basta fazeres um post em homenagem a ela, e deixaremos um link especial no meu blog, que será acompanhado pela filha dela lá no Brasil…

A sua participação tbm é importante, nesse momento em que a Rose Marie Muraro precisa tanto do nosso carinho.

Beijinhos de Baunilha