sexta-feira, 4 de julho de 2008

A poética necessária do Subcomandante Marcos


Tenho andado cansada...um cansaço que vai além do corpo....as palavras não brotam, não fluem. Acho até que as palavras conspiram contra mim, fazendo um silêncio absoluto. Elas sabem que quase tudo já foi dito...ou será que ainda não foi?
Deixo, então, um texto lindo do Subcomandante Insurgente Marcos, de Chiapas, México...aqui as palavras fazem sapateado e dançam.

As três flores da Esperança

À sociedade civil onde quer que se encontre.

Desculpe, senhora sociedade civil, que a distraia de suas múltiplas ocupações e reiteradas angústias. Escrevo-lhe apenas para dizer que aqui estamos, que continuamos sendo nós mesmos, que a resistência é ainda nossa bandeira e que ainda acreditamos na senhora. Aconteça o que acontecer, continuaremos acreditando. Porque a esperança, senhora de rosto difuso e nome gigante, já é um vício entre nós.Vossa Excelência já sabe que o horizonte se cobre de um cinza que muda para o preto com a mesma celeridade com que andam vendendo nossa história. No entanto, fique sabendo que a liberdade continua estando à nossa frente, que continua sendo necessário lutar e que a história ainda está esperando quem complete suas páginas. Assim são as coisas, e receando que não nos vejamos de novo, aceite três definições muito apropriadas para dias tão nefastos como o que nos esperam:Liberdade: Diz Durito que a liberdade é como a manhã. Alguns a esperam dormindo, porém alguns acordam e caminham à noite para alcançá-la. Eu digo que os Zapatistas somos os viciados em insônia que desesperam a história.Luta: O Velho Antonio dizia que a luta é como um círculo. Pode começar em qualquer ponto, mas nunca termina.História: A história não é mais que garatujas escritas por homens e mulheres no solo do tempo. O poder escreve sua garatuja, a elogia como escrita sublime e a adora como se fosse a única verdade. O medíocre limita-se a ler as garatujas. O lutador passa o tempo todo preenchendo páginas. Os excluídos não sabem escrever... ainda.Aceite, senhora, estas três flores. As outras quatro chegarão logo... se é que chegam. Tudo bem. Saúde e lembre-se que a sabedoria consiste na arte de descobrir, atrás da dor, a esperança.Das montanhas do sudoeste mexicano,

Subcomandante insurgente Marcos.

P.S.: Estava esquecendo de recomendar, senhora, que não se deixe enganar por funcionários, colunistas e etc. que fazem da mentira um eco infinito. Nada está resolvido, tudo está quebrado. E, no essencial, existe duas apostas: a deles, a da guerra, é de que a senhora continuará indiferente; a nossa, a da paz, que a senhora vai dançar um sapateado que fará tudo tremer, assim como treme o amor quando é verdadeiro.

7 comentários:

Canto da Boca disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Canto da Boca disse...

Que bela forma de começar o meu dia. Quão feliz fiquei em vir te ler, Nanci.
"E viva Zapata!"
Do mesmo comandante, há uma frase que resume o mundo capitalista: "se alimenta de dólar e defeca sangue".
Beijos, Nanci, e um ótimo final de semana.
;)

Unknown disse...

O cansaço não tira tua inspiração. Linda essa carta. Agora amiga, te dou um conselho, descanse, se puder tome banho de chuva, de sol da manhã, se energize-se.Tenha um ótimo domingo!

Anônimo disse...

Este texto tem um cheiro de esperança, de manhã, de Pablo Neruda, enfim...vem da Nanci, que mais dizer? Quando somem as palavras, a intuiçao poética sente a gravidez das silabas e inunda nosso olhar de outros horizontes e colibris.

Anônimo disse...

As linhas acima sao meus...é que deu um probleminha na hora de enviar...beijos Nanci

analogic disse...

...procurando por um outro texto de Zapata, estampei-me neste blog...

"Marcos é gay em São Francisco, negro na África do Sul, asiático na Europa, hispânico em San Isidro, anarquista na Espanha, palestino em Israel, indígena nas ruas de San Cristóbal, um underground na cidade universitária, judeu na Alemanha, feminista nos partidos políticos, comunista no pós-guerra fria, pacifista na Bósnia, artista sem galeria e sem portfólio, dona de casa num sábado à tarde, jornalista nas páginas anteriores do jornal, mulher no centro da cidade depois das 22h, camponês sem terra, um editor underground, operário sem trabalho, médico sem consultório, escritor sem livros e sem leitores e, sobretudo, zapatista no Sudoeste do México." Enfim, Marcos é um ser humano qualquer neste mundo. Marcos significa todas as minorias intoleradas, oprimidas, resistindo, exploradas, dizendo JÁ BASTA! Todas as minorias na hora de falar e maiorias na hora de se calar e agüentar. Todos os intolerados buscando uma palavra, sua palavra. Tudo que incomoda o poder e as boas consciências, este é Marcos."

fica o texto
fico eu a navegar por aqui...

Meio Ambiente textos e contos disse...

muito bom ,será que pode publicar mais textos.divulgarei no meu blogg
abraço fraterno