quinta-feira, 21 de agosto de 2008

Lua Cheia no Céu do Cerrado Acaba em Poesia

Por kelly Garcia


Esse final de semana (ele de novo) fomos agraciados com aquelas compensações de viver a estiagem do planalto central. Enquanto aqueles chegados na poltrona assistiam qualquer coisa na TV, os gatos e gatas vira-latas estavam nos telhados e muros, bem longe olhando a LUA CHEIA, que os 18% de umidade fazia transbordar o prateado...
Quando olho para a senhora do céu noturno, lembro da música dos Paralamas “o céu de Ícaro tem mais poesia que o de Galileu”.
Foram os “galileus” que disseram ser a lua um satélite natural da terra desprovido de luz própria, um mero refletor do todo poderoso sol. Cientistas possivelmente acham imbecil qualquer tributo ao céu de lua cheia, vez que nem mesmo tem ela luz própria!
Possivelmente, nos dias de lua cheia os que nunca levantam da poltrona para olhar para o céu, os que não tem vontade de sair, subir no telhado, beijar seu amor, escutar uma música, encostar em algum lugar e o olhar simplesmente olhar, tem sobre si o céu de Galileu.
Já aqueles que se enchem como a lua e não cabem nos cômodos da casa, são como o sonhador do Ícaro que queria ganhar o céu...ou ainda como a Jacy a indiazinha tupi que morreu no rio porque foi atrás da sua lua refletida na água.
Quando penso em beleza, penso no céu de lua cheia...
disponível, gratuito, generoso, que farta de encanto todos que ainda tem vontade de voar como Icaro, de se entregar como a Jacy, ou ainda, que sejam, como eu uma reles gata vira-lata que “sobe no telhado” apenas para olhar e pensar numa linda poesia, como essa do Altair de Oliveira que tive a sorte de ter como companhia nesse lindo final de semana de lua gravidamente prateada no céu do cerrado.

HIPÓTESES
I
NUNCA MAIS desfazer,
Se uma vez feito,
Uma gota sequer
Do amor-perfeito
E JAMAIS insistir em desistir
Dum instante qualquer
Que intente rir
Ou da busca de algum contentamento.
EVITAR
As estrada mais pisadas,
As tristezas mostradas pra alegrar
E também disfarçar o querer-bem
Ou o tal de “magôo pro teu bem”
E nem morto
Viver pra revidar.
ATENTAR contra as forças corrompidas,
Amparadas por leis envelhecidas,
Entretidas em sempre escravizar...
QUESTIONAR sobre pesos e medidas,
Sobre iguais mais iguais,
Favorecidos,
Os que impedem o futuro de chegar.
II
Quando aquilo que sonha não quer vir,
Enfadar de esperar e procurar.
Se o que for lhe bastar, nem existir,
nem seguir se não tem o que buscar.
Sem sentir, sensatar e desistir.
Permitir que desgraças possam ir
e que graças que passam o façam rir.
Ter prazer e motivos emotivos
pra doer toda vez que acontecer
dum encanto que canta perecer
ou dum riso mais vivo lhe evitar.
Levitar todas quartas, todas terças,
Inventar de saltar por sobre cercas, sobre cárceres e cordas que encontrar.
(Altair de Oliveira – O Embebedário Diverso )


Kelly Garcia – advogada, militante de esquerda e estilista da Maria do Povo

6 comentários:

Canto da Boca disse...

Gente, que beleza de texto e de poesia, dá um calor na alma; até aquela mais embrutecida, fica amolengada diante desse cenário.
E de graça a lua passa por entre as grades da(s) prisão(ões).
É sempre um almoço, jantar nababesco vir aqui.
Um beijo imenso.
;)

josaphat disse...

Mui belo texto e poema. Este com um ritmo delicioso.
Sobre a Lua, os gregos, em parte, a diferiam:
Ártemis (irmã de Apolo) para a Lua cheia; essa do reflexo, do esplendor da noite;
e Hécate (muito enigmática) que teria, entre muitos outros, o sentido verdadeiro da Lua (um pré-Galileismo, só que poético) que é o de não ter luz. Daí aparecem inúmeras outras relações, como a obscuridade, o desconhecido, os mundos subterrâneos, entre outros; sendo estes sentidos vistos em dualidades um tanto difíceis de se compreender. De qualquer forma, mais fácil para mulheres.
Desculpe-me se contrario a intenção do texto de valorizar a poesia da Lua cheia, mas a há também na noite escura.
Hécate que o diga.
Como disse, linda postagem!

O zi disse...

Que maravilha de poema, parabéns ao Altair!!! Quanto encanto e acolhimento em cada palavra sentida, proferida e amorosamente profanada...Até dá vontade de se alegrar em ser humano..
O Zi

Canto da Boca disse...

Li o comentário do Zi, e aí então movida pela curiosidade, cliquei em seu nome, naturalmente que a página abriu, e vi uma tocante (e me tocou) explanação sobre as músicas dos Brasis, e parte da sua indignação pelo modo como a música tem e teve seu valor invertido para atender às demandas do capital (nada mal, afinal, precisamos comprar o leitinho das crianças, quando o aleitamento materno se torna impossível), mas quero dizer, Zi, se tu voltares aqui, que eu concordo contigo. E peço desculpas a Nanci por fazer do espaço dela uma espécie de mural da comunicação, mas não vi teu e-mail Zi, aí queria te dizer isso que eu disse aqui.
Avante em sua 'luta', ela é tão digna que arregimenta milhões e você, nem eu sabemos o quanto...
Abraço.
;)

Anônimo disse...

Suas palavras perspiram um sentimento intenso, e é bom ouvir essa sinfonia
Tocada tão verdadeiramente pelo coração.

Parabéns !
Beijos!

Anônimo disse...

Suas palavras perspiram um sentimento intenso, e é bom ouvir essa sinfonia
Tocada tão verdadeiramente pelo coração.

Parabéns !
Beijos!

ALZIRA