domingo, 12 de outubro de 2008

Sou Rio de Gabeira


Rio dos morros. Rio do Mar. Rio escandalosamente escancarado. Rio, a cidade mais bonita que conheci, deliciosamente maravilhosa, mas ainda tão desigual. Rio de Cartola, da verde rosa Mangueira. Rio, claro, de Gabeira. Sim. Sou Rio de Gabeira. As eleições cariocas foram as que mais me seduziram neste ano, mesmo morando mais de mil quilômetros de distância. No primeiro turno, além de Gabeira, tinha Chico Alencar (PSOL), por quem nutro um grande respeito e admiração, e tinha também Jandira Feghali (PCdoB). E o Rio surpreendeu o Brasil ao levar para o segundo turno esse mineiro de nascença e carioca de coração, que construiu uma trajetória nada comum. Jornalista que participou da luta armada, do seqüestro do embaixador estadunidense Charles Elbrick, uma ação corajosa e radical contra o regime militar. Foi baleado, preso, torturado. Poucos têm um passado como esse. A minha geração só conheceu essa coragem, essa dor, nas narrativas dos camaradas mais velhos, no cinema e nas leituras. Uma fonte foi o livro "O Que é isso, companheiro?", de autoria do próprio Gabeira, que devorei palavra por palavra quando tinha quinze anos e ainda era uma menina do interior. Li também "O Crepúsculo do Macho" e "Nós que amávamos tanto a Revolução".
É bom que se diga que o Gabeira de hoje não é o mesmo dos anos 60, assim como não somos mais o que fomos na nossa juventude. Mas Gabeira continua revolucionário ao propor e incorporar no seu cotidiano como cidadão e político a defesa do meio ambiente, do desenvolvimento sustentável, dos direitos das minorias. Por muito tempo, na condição de deputado federal, Gabeira ia trabalhar de bicicleta, pedalando nas vias largas de Brasília, uma atitude coerente com o seu discurso de ambientalista. Lembro-me da sua voz firme e grave enfrentando o ex-presidente da Câmara Severino Cavalcanti:
"Vossa Excelência está se comportando de uma maneira indigna de um cargo de Presidente de Câmara. Eu estou reclamando com Vossa Excelência porque não posso ainda entrar no Conselho de Ética contra Vossa Excelência, sou um deputado isolado. Mas eu afirmo, Vossa Excelência está em contradição com o Brasil! A sua presença na Presidência da Câmara é um desastre para o Brasil, um desastre para a imagem do Brasil! Ou Vossa Excelência fica calado, ou começa a ficar calado ou vamos iniciar um movimento para derrubá-lo."
No seu quinto mandato consecutivo no Congresso Nacional, Gabeira continua sendo uma voz ativa em defesa da decência na política, dos direitos dos índios, do fim do trabalho escravo, da qualidade de vida para todos. Por ser assim, conquistou na última semana o apoio público da senadora Marina Silva, contrariando a decisão pragmática do PT que decidiu se aliar ao Eduardo Paes.
Aí, você vem e me pergunta: “Mas Gabeira está com os tucanos. E aí?”. Aí, que depois que até o PT fez alianças com o Demo (DEM), com o PSDB e todos os Ps existentes, não passa a ser parâmetro a famosa frase bíblica: “Diga-me com quem andas que eu te direi quem és “. Confesso que me incomoda ver no programa do Gabeira alguns lacaios do neoliberalismo, mas consigo ver Gabeira muito além disso, assim como vejo Lula além das suas alianças e suas companhias.


Cariocas - Adriana Calcanhoto e Gabeira




Sou Rio de Gabeira


5 comentários:

http://saia-justa-georgia.blogspot.com/ disse...

Pôxa, entendo o que você diz sobre o Rio de Janeiro, ele tem essa porcao mágica. Eu também sou carioca.

E deu Gabeira!!!

Em abril você fez parte da blogagem Contra o Analfabetismo e agora estou aqui te convidando para uma outra blogagem. Quem sabe você também vai aderir. Passa lá no meu blog para saber mais. Acredito que você tenha muita coisa para contar.

Obrigada

Canto da Boca disse...

Sempre bem vinda, minha cara Nanci, receba beijos e carinhos.

Unknown disse...

Fiquei arrepiada agora...tomara que ele ganhe. Gostei da frase de Anais...Bjks e bom findi!!!

Augusto Araújo disse...

"Gabeira ...

Reconhece que há poder demais concentrado em Brasília, e que a divisão entre esquerdistas e direitistas não é mais a crucial, e sim a que separa os republicanos dos patrimonialistas.

De um lado, os que pretendem fazer algo pelo bem público, e do outro os que entram na política para aumentar o patrimônio pessoal."

Muito bom esse texto:

http://rodrigoconstantino.blogspot.com/2006/08/conversa-com-gabeira.html

Barone disse...

O Rio consagrou a vitória da hipocrisia. Não que Gabeira fosse o salvador da pátria, mas certamente representava um pouco de ética em meio ao obscuro cenário da política nacional. Tive a oportunidade de realizar a primeira entrevista pública de Eduardo Paes, no início da década de 90, quando ele foi colocado na sub-prefeitura da Barra por César Maia. Na época, começando na profissão (jornalismo), eu atuava em um jornal de bairro da Barra da Tijuca. Paes era um rapaz tímido, um tanto bobo, parecia não saber bem o que estava fazendo ali, naquela função. O tempo passou e o menino aprendeu o que há de pior na política tupiniquim: a prática do vale tudo pelo poder. Mais uma vez perde o Rio de Janeiro.